RECOMEÇAR

RIO DE JANEIRO

Acordo com a Lulu pulando em cima de mim, felizmente, dessa vez o vinho não me deixou com ressaca, então acordo de ótimo humor. Como viajarei hoje, optei por não a mandar pra escola, e graças a isso nossa manhã é menos corrida. Deixo-a assistindo TV enquanto preparo uma crepioca de frutas para nós de café da manhã.

Brincamos um pouco com suas bonequinhas minúsculas, que tem milhões de acessórios e aproveito para explicar novamente porque ela terá que ficar com a vovó Beatriz, como ela deve se comportar bem e que voltarei no domingo, no final da tarde, para buscá-la e a noite sairemos para comemorar o meu aniversário.

Termino de trocá-la, carrego o carro e finalmente saímos para a casa da sua avó. Ela não mora longe, quarenta minutos sem trânsito, mas prefiro sair mais cedo e não correr o risco de me atrasar, pois meu voo sai às dezoito horas e ainda tem toda aquela burocracia para embarcar.

Toco a campainha e a Beatriz logo aparece, mas não quero entrar, então abraço a minha pequena com força e me despeço dela aqui fora mesmo. Sei que ela vai ficar bem cuidada e que voltarei logo, mas essa será a primeira vez que nos separamos assim e vejo que isso é mais difícil pra mim, do que imaginei que seria. Ela me beija e entra com a avó saltitando de alegria e meu coração se acalma um pouco.

No caminho para o aeroporto, não sei porque, começo a pensar o que o João acharia dessa aventura que estou prestes a embarcar. Ele sempre me apoiou em tudo, mas deixar a Lulu por esse tempo todo, não sei se ele aprovaria. Começo a me arrepender e antes que desista de tudo resolvo ligar o rádio, e o Bon Jovi inunda o ambiente com seu romantismo, me dando uma dose de animo, então começo a cantar junto com ele a letra de "It's My Life".

Quando finalmente me aconchego na minha poltrona, sinto como se fosse uma garota indo pra sua primeira balada ou na montanha russa mais radical do parque de diversões. Parece que meu coração vai sair pela boca, não que essa sejam a minha primeira viagem de avião, pois viajei de avião com o João, para nossa lua de mel para Fortaleza, mas é a minha primeira vez sozinha. A aeromoça começa a explicar os procedimentos em caso de uma emergência, mas já estou tão nervosa que mal consigo prestar atenção no que ela diz. Decolamos e parece que vou afundar de tanto que me contraio, mas ainda consigo perceber que meu companheiro de poltrona me olha, segurando o riso. Um homem elegante, que aparenta ter seus quarenta e poucos anos e está calmo, então concluo que com certeza isso já deve ser rotina pra ele. Tento me recompor e recuperar um pouco da dignidade que ainda tenho, mesmo que por dentro a minha vontade seja gritar de medo.

Como voo é curto eu prefiro escutar músicas ao invés de assistir, então seleciono uma playlist de rock e quando "Come as you are" do Nirvana começa eu já me sinto mais calma. Quarenta minutos depois já estamos pousando em solo carioca.

Assim que consigo achar minha bagagem, pergunto a um senhor de cabelos bem branquinhos, onde posso pegar um taxi e enquanto ele me mostra o local que eles ficam estacionados eu fico fascinada com a beleza dessa cidade.

No percurso até o Hotel checo o celular, mas além de uma mensagem da minha mãe, me desejando boa viajem, não tenho mais nenhuma notificação, então aproveito para apreciar a vista do caminho.

Entro no hall do hotel, que fica a duas quadras de onde será o workshop, arrastando minha mala dourada e vou direto a uma pequena, porém bem decorada recepção, onde faço o check-in. Meu quarto fica no quarto andar e fico ainda mais feliz e satisfeita, quando vejo o aconchego que ele foi preparado para mim. Desfaço as malas e ligo para a Lucia, que me conta alegre da tarde divertida que ela passou com a avó na pracinha.

Meus planos de encontrar um local bacana para jantar vão literalmente por água a baixo, quando despenca o maior temporal, então peço uma comidinha no quarto mesmo e resolvo colocar "The Walking Dead" em dia.