Assim que pousamos pela manhã em Nova York notamos, para minha alegria, mas principalmente da Lucia, que a neve cobriu quase tudo por aqui.
Pegamos um táxi amarelinho e tenho a impressão que estou dentro de vários filmes ao mesmo tempo e tudo toma uma proporção de felicidade infinitamente maior.
O Hotel que ficamos hospedados é muito bonito, como se fosse uma pequena vila com várias casinhas, uma bem próxima da outra, sem portões e com mini jardins rodeando cada uma. Uma porta azul bem clarinho dá o toque final na casa, que parece de boneca. Dentro dela é tão charmoso quanto fora, com quase todos os móveis em tons pasteis e assim que entramos o Henrique acende a pequena lareira para subir um pouco a temperatura, que judia dos nossos dedos e narizes.
A Lúcia aproveita para explorar o pequeno chalé com a Jessie, enquanto eu guardo as malas no guarda-roupas e, já que vamos ficar aqui apenas até amanhã, não vejo necessidade de desfazê-las.
Saímos de casa encapotados, com grossas blusas de lã e um casaco por cima, mas mesmo assim consigo sentir todos os meus ossos tremerem. Depois de um almoço delicioso em um restaurante bem luxuoso, que servia o melhor peixe grelhado que já comi na vida, vamos ao Central Park. Meus olhos marejam quando vejo esse lugar lindo, que por muito tempo sonhei em conhecer e agora posso viver isso com a Lucia e o Henrique, que enlaça a minha cintura e fala baixinho no meu ouvido:
- Tá feliz, meu amor?
Observo o lago congelado e as arvores com suas copas branquinhas. Eles me fazem perder o ar, é tudo tão lindo, tudo parece encantador e tão mágico.
- Muito – respondo animada – não sei como você pode ter vindo para Nova York e simplesmente não conhecer esse lugar.
- Eu era um cara totalmente diferente do que sou hoje – ele revira os olhos e enfia a cabeça no meu cabelo, deixando mais bagunçado do que de costume.
Lucia – eu grito para ela se aproximar e pego meu celular – vem tirar uma foto, meu amor.
O Henrique a pega no colo e se posiciona próximo a uma pedra grande, deixando o lago e a ponte, toda rajada de neve, como plano de fundo. Programo meu celular, o apoio em um banco e corro para subir na pedra, ficando um pouco mais alta que os dois e envolvo-os em um abraço. Quando uma luz pisca freneticamente, nós três gritamos: xiiiiiiiiiiis.
Olho ao meu redor, ainda tentando acreditar em tudo que meus olhos estão vendo e penso no que vivi nos últimos anos. Me dou conta que há seis meses, eu apenas existia, me doando o máximo que podia para ser uma boa mãe para a Lucia, mas mesmo o meu melhor, era apenas uma pequena parcela do que eu realmente podia ser, de como me sinto agora.
Amor – a voz do Henrique me puxa dos meus devaneios – queria aproveitar o momento especial e esse cenário maravilhoso, para te mostrar duas coisas.
O encaro séria e sinto meu coração disparar com o suspense. Ele me entrega uma caixinha de madeira avermelhada, que abro delicadamente, como quem desarma uma bomba de mil giga-tons. Dentro dela, encontro um ingresso do show dele com o Pedro e olhando com mais atenção reconheço a data, do dia que nos conhecemos. O encaro já emocionada, não sei se pela paisagem ou realização do meu sonho junto com ele, mas fico extremamente tocada com o símbolo do nosso ponto de partida.
- Nosso começo! – digo, enquanto as lágrimas escapam dos meus olhos.
Sorrio, ainda embargada e pego aquele pequeno pedacinho de papel tão importante, mas congelo instantaneamente assim que ele sai totalmente da caixinha, revelando duas alianças douradas. Toco nelas instintivamente, com medo de que sejam apenas uma ilusão que minha mente criou, mas elas são reais e meus dedos sensíveis pelo frio, reagem ao leve relevo que desenha um zigue-zague por toda a sua circunferência. Ergo meus olhos devagar e encontro os do Henrique, parecendo dois lagos negros transbordando de emoção e amor, mas antes que eu possa falar algo, ele se vira e chama a Lucia.
- Vem aqui, princesinha – ele a chama carinhosamente, fazendo com que faça uma pausa na décima tentativa de fazer um Olaf, mas mesmo assim ela vem saltitando – presta bem atenção, tá?
Ela assente com a cabeça várias vezes, então ele pega a caixinha das minhas mãos e se abaixa, deixando seus olhos na mesma linha do que os dela.
- Eu quero muito me casar com a sua mamãe – ele me encara por dois segundos, me fazendo sorrir, mas logo volta a atenção pra Lulu – mas eu queria saber se você deixa e principalmente se me aceita na sua família.
Sinto as lágrimas rolarem indiscriminadamente dos meus olhos e minhas mãos tremerem ao vê-la dar um abraço forte, concordando com tudo que ele acabou de propor.
- Então – ele volta toda sua atenção pra mim, assim que a Lúcia se afasta, voltando a tentativa de criar seu boneco de neve como a Elsa faz – Lílian Gouveia, e você? Me aceita na sua vida pra sempre?
Respiro profundamente, obrigando o ar a voltar aos meus pulmões e tentando controlar as lágrimas que inundam meus olhos, mas como parece que perdi absolutamente a capacidade de fazer isso, apenas o encaro e sorrio:
- Sim! – repito milhões de vezes e ele me dá um beijinho para cada uma delas.
Assim que ele retira as brilhantes alianças de dentro da caixinha, eu devolvo o pequeno ingresso, que a essa altura já está amassado e molhado, mas seu valor ainda continua inestimável.
-Posso?
Assinto com a cabeça, sem conseguir controlar o riso e ele segura minhas mãos tremulas, encaixando delicadamente a aliança no meu dedo anelar da mão direita. Faço o mesmo com ele e em seguida fecho meus olhos, tentando assimilar tudo que está acontecendo nessa fração de segundo, para gravar na memória cada sensação maravilhosa e sinto a neve cair no meu rosto, como que uma chuva de bençãos caindo sobre nós.
- Eu te amo! Pra sempre! – digo e me atiro nos seus braços, o beijando fervorosamente.
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RECOMEÇAR
RomanceLilian, ou Lily, como os amigos a chamam é uma fotógrafa, que está chegando aos trinta anos; mãe de uma menina linda, tão ruiva quanto ela, que é o único motivo que a faz não desistir, já que a repentina morte do seu marido a deixou destruída e joga...