RECOMEÇAR

PRAZER, SOU A LILY!

Era mais uma noite típica na minha vida bagunçada, eu tinha um show pra fotografar, estava atrasada e ainda de roupão. Meus cabelos estavam molhados e a Lucia, minha princesa de cinco anos, enrolava para jantar. Era sempre assim, na hora que tínhamos que sair, ela resolvia mastigar quinhentas vezes. Quando finalmente termina, a deixo na sala assistindo TV e me apresso para me aprontar.

Enquanto abotoo minha camisa social preta, olho para meu dedo, já sem a marca da aliança que costumava usar, e me lembro do João. Já fazem quase cinco anos que sou viúva, na época eu tinha vinte e cinco e a Lucia era apenas um bebê. Foi muito difícil suportar a dor da perda dele e ainda cuidar dela, mas me entreguei de corpo e alma para a maternidade e de um jeito meio estranho, acabou dando certo. Nós recebemos uma indenização da empresa que ele trabalhava, o que me permitiu quitar nosso apartamento e abrir um pequeno estúdio de fotografia.

Balanço a cabeça, tentando afastar esses pensamentos e volto minha atenção para meu reflexo no espelho e vejo uma ruiva, de um metro e sessenta, olhos castanhos e um tiquinho acima do peso - reviro os olhos ao pensar nisso.

Finalmente conseguimos sair para a casa da Melissa, Mel como a chamo, minha amiga querida, que é também minha comadre. Ela e o Paulo, seu marido, são os padrinhos mais carinhosos que poderia ter escolhido para a Lulu e me socorrem toda vez que preciso trabalhar em algum evento, madrugada adentro, já que meus pais moram em outra cidade e nem sempre conseguem vir me ajudar.

Termino de prender a Lulu na cadeirinha e ela me pede animada para colocar a música do casamento, que já sei que ela se refere a "Sugar" do Maroon Five, pois ela chama essa música assim desde que assistimos o clipe, que eles aparecem de surpresa em vários casamentos.

Vinte minutos depois estaciono em frente à casa da Mel, que já nos aguarda no portão. Ela pega a Lulu no colo e a abraça carinhosamente, me deixando feliz de ver o quanto elas se dão bem. Me despeço das duas jogando um beijo no ar e soprando na direção delas.

Corro o máximo que posso e mesmo assim consigo chegar somente alguns minutos depois do horário combinado com a Adriana, assessora da dupla sertaneja que irei fotografar hoje. Entro no backstage o mais discretamente que consigo e começo a retirar minha câmera da mochila, quando percebo que ela se aproxima com eles e como não sou fã de sertanejo, agradeço por ela apresentá-los.

Eles me analisam um segundo, parando uns minutos a mais no meu cabelo, como todo mundo parece fazer ao me ver pela primeira vez.

- Olá, me chamo Lílian, mas podem me chamar de Lily - Tento sorrir e não piscar tanto enquanto estendo a minha mão para cumprimentá-los, mas para minha surpresa, ambos me dão dois beijos no rosto.

Volto minha atenção para meu equipamento, assim que eles caminham em direção a outros músicos que estão conversando do outro lado da sala, mas os observo pelo canto dos olhos curiosa. Eles são primos e parecem ser muito unidos. O Pedro é loiro, mais alto e magro que o Henrique, é notável que ele malha bastante, pois seus ombros largos e abdômen definido ficam bem aparentes na camisa justa que ele está usando, apesar de estar com um blazer preto por cima. Ele também aparenta ser o mais carismático e brincalhão da dupla, e olhando mais atentamente, me lembra muito o Chris Pratt, ator que faz o filme Jurassic World. Já o Henrique é moreno, cabelos bem escuros bagunçados, têm olhos castanhos e um olhar bem marcante. E, puta merda, usa um perfume delicioso. Ele tem uma barba por fazer, que prende minha atenção um segundo a mais e nessa hora tenho que me conter para não suspirar. Olhando mais atentamente, noto que tem uma tatuagem no seu ombro direito, mas a camiseta cobre a maior parte, por isso não consigo identificar o que é.

Consigo escutar os gritos impacientes das milhares de fãs que clamam por eles e sorrio ao me lembrar que me senti exatamente assim quando fui ao show do Pearl Jam, da ânsia de ver o Vedder cantando e como eu gritava que ele era lindo de morrer. Lembrar disso me faz sorrir.