O PADRINHO DO MEU AFILHADO

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Escuto meu celular tocando, termino o ultimo gole do meu suco e o pego na bancada, mas ao ver que é a Mel já atendo ansiosa, pois ela está com nove meses e a qualquer momento o bebê pode dar sinais que quer chegar.

- Oi, gravidinha - brinco.

- Ly, é o Fê - Me assusto e fico instantaneamente preocupada - chegou a hora - ele diz animado e um tanto apavorado.

Começo a saltitar de alegria, pois finalmente vamos descobrir se é menino ou menina, esse suspense que a Mel fez com a gente foi torturante.

- Obaaa e como a Mel está? - pergunto ainda sorrindo de felicidade.

- Olha, pelo que entendi as dores começaram de madrugada e quando ela saiu daqui com o Paulo, parecia que ia matar um - sorrio com o desespero que ele descreve a cena.

Lembro das minhas contrações no trabalho de parto da Lucia, que cada vez que vinha uma eu tentava relaxar e quando sentia suavizar eu olhava para o João e falava "menos uma e cada vez mais perto de conhecer nossa bonequinha". Com certeza foi a experiência mais surreal da minha vida. Me assusto quando escuto o Felipe quase gritando.

-Lílian táiii? - afasto o telefone do ouvido, por impulso.

- Calma, estou aqui - sorrio, ele está realmente em pânico - você pode me pegar aqui para irmos juntos? Meu carro ainda está no mecânico.

- Beleza, em vinte minutos chego aí. Beijo

Chamo a Lucia, que estava brincando na varanda e logo ela aparece contrariada, por ter que parar sua brincadeira. Eu a puxo correndo para o quarto, quando percebo que ela sujou toda a roupa de tinta, e enquanto ela veste uma blusa limpa eu aproveito para me olhar no espelho do quarto dela. Estamos em pleno outono, então estou usando um abrigo de fleece preto e meu allstar branco. Ajeito meu cabelo com as mãos, mas como ele não parece querer colaborar eu o prendo em um rabo de cavalo.

Meu celular sinaliza mensagem e mesmo sem olhar já sei que é do Fê, avisando que chegou. Nos apressamos e para desfazer o bico de frustração da Lulu, eu a deixo levar a Jessie e acerto em cheio, pois ela desce as escadas com um sorriso banguela, vai quase de orelha a orelha.

Avisto o Felipe parado em frente a guarita, encostado no carro e consigo perceber de longe o seu nervosismo. Ele parece tão zumbi quanto eu e sei que apesar de fazer mais deum mês, o nosso beijo ainda permeia os seus pensamentos. Desde aquele dia, nos falamos algumas vezes por mensagens, mas não tive coragem de tocar nesse assunto específico e como ele também não o fez, deixei pra lá. Nos cumprimentamos rapidamente, com um beijo no rosto e a Lucia torna o clima mais leve quando apresenta a Jessie pra ele, então finalmente partimos rumo ao hospital.

Demoramos quase uma hora para chegar, devido a uma passeata que paralisa algumas ruas próximas a Avenida Paulista e durante o trajeto ele me lança olhares, que finjo não perceber. Quando enfim chegamos, o Fê pega a Lucia de cavalinho e nos apressamos, torcendo para que o bebê já tenha nascido.

Na recepção uma enfermeira muito atenciosa, que aparenta ter seus quase cinquenta anos, nos informa que a Mel já está em trabalho de parto, em fase expulsiva e que sua médica e o Paulo estão com ela. Tento me lembrar qual das fases é essa e vendo minha expressão de dúvida, ela me esclarece que já está quase nascendo. Sorrio feliz em agradecimento e vamos para uma pequena sala de espera, que tem uma tv e vários bancos, onde estão outros acompanhantes, tão ansiosos quanto nós.

Nos sentamos lado a lado, enquanto a Lucia brinca com a Jessie pela sala, deixando sua imaginação criar uma aventura para as duas.

- Fica calmo, Fê! – tento acalmá-lo, mas ele apenas acena com a cabeça, ainda friccionando muito as mãos.

RECOMEÇAROnde histórias criam vida. Descubra agora