Abro a porta do apartamento e encontro minha mãe, com expressão de esperanças, que se esvai assim que percebe a tristeza e as lágrimas no meu rosto. Ela tenta falar algo, que nem consigo decifrar o que é, pois caminho rápido para meu quarto, tentando me proteger de todos e de mim mesma.
As lágrimas caem mais intensamente, assim que fecho a porta, e ensopam a parte de cima do meu vestido, mas não tento controla-las, me entregando a dor que parece me dilacerar. Apenas solto meu corpo sobre a cama, ao mesmo tempo que sinto cada pedaço de mim perdido, magoado e completamente fora do meu controle.
Penso no Henrique, em tudo de bom que vivemos, em cada declaração de amor e tardes maravilhosas que passamos fazendo muitas coisas ou nada aqui no meu apartamento. Como eu queria ter agido diferente. Eu o amo, isso nunca foi uma dúvida pra mim e sei que ele também me ama, posso sentir isso apesar dessa confusão toda. Penso em quanto deve ter sido difícil ele ter que ficar longe, pois sabia que eu estava sofrendo como ele, mas preservar minha vida tranquila com a Lulu foi prioridade e me odeio por não ter deixado meus medos de lado e o amado, na mesma intensidade que ele tem demonstrado me amar desde sempre. Penso em ligar, mas me lembro do celular espatifado e a culpa me destrói ainda mais.
Tento me acalmar, mas meu corpo todo dói, como se tivesse levado uma surra de dez pessoas. Dor essa que parece ficar mais intensa a cada segundo, especialmente na parte bem debaixo dos meus seios, então, quando parece que não vou mais aguentar, grito pela minha mãe e me lembro apenas dela entrando assustada no quarto, antes de perder os sentidos.
Quando recobro a consciência, meus olhos são ofuscados por uma luz forte, que não me permite enxergar por alguns segundos, mas meu olfato anuncia que o Henrique está aqui, onde quer que seja.
- Oi – a voz doce dele invade meus ouvidos, no mesmo minuto que consigo identificar que estou em um quarto, onde tudo é branco e tem uma janela bem grande, que permitem entrar raios de sol.
- Oi – me ajeito na cama tentando me sentar – onde estou? O que aconteceu? Como cheguei aqui? Cadê a Lucia e meus pais? Aliás, o que você está fazendo aqui?
Ele ri da minha sabatina de perguntas e me olha com ternura.
- Estamos no Hospital, a Lulu e seus pais estão lá na lanchonete – fala apontando em uma direção, que pra mim parece totalmente aleatória – ontem à noite você passou mal e seus pais chamaram a ambulância.
-Certo – respondo, me perguntando ainda o que ele está fazendo aqui.
-E eu, bom – diz alisando os cabelos – ontem eu decidi voltar, não podia deixar você escapar de mim mais uma vez, sem ao menos tentar...
Sinto o olhar dele sério e aceno com a cabeça, para confirmar que estou acompanhando, mas ele fecha os olhos, parecendo reviver algo que faz o seu semblante endurecer e quando me encara novamente, consigo notar uma lágrima escorrendo discretamente.
- Antes eu achava que te ver indo embora daquele quarto decepcionada comigo era o pior – eu prendo a respiração ao lembrar do que senti naquele dia – mas ontem eu vivi a pior sensação do mundo. Te ver deitada em uma maca e sem sentidos me desesperou de uma forma inexplicável.
Agora são dos meus olhos que escapam lágrimas, pois eu sei exatamente o que é essa sensação.
Eu amo você, só você, Lily – ele se aproxima bem do meu rosto e fala bem pausadamente – não tem mais ninguém.
Ficamos em silêncio e eu assimilo o que aconteceu, parando exatamente na lembrança da Dayana ligando e como que lendo meus pensamentos, ele continua:
Ontem, a chamada do celular da Dayana era do meu primo – reviro meus olhos ao ouvir o nome dessa mulher - eles estavam juntos e ele ficou sem bateria, então teve a brilhante ideia de me ligar do celular dela – ele me olha mordendo o lábio inferior, esperando que eu confirme que acredito, mas como não digo nada, ele continua - Lily, eu decidi que vou me desligar totalmente da dupla com o Pedro.
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RECOMEÇAR
RomanceLilian, ou Lily, como os amigos a chamam é uma fotógrafa, que está chegando aos trinta anos; mãe de uma menina linda, tão ruiva quanto ela, que é o único motivo que a faz não desistir, já que a repentina morte do seu marido a deixou destruída e joga...