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Any Gabrielly:

Observei calada enquanto minha mãe dava uma última tragada em seu cigarro e o jogava na madeira velha da varanda. Ela se levantou e me lançou um olhar de desprezo.

- Entre - ela murmurou acenando para dentro de casa. Engoli em seco e passei por ela meio tonta e me equilibrei na borda do sofá.

Ouvi a tranca da porta e seus passos ecoarem até pararem atrás de mim.
Encarei o quadro que havia pendurado na parede com minha mãe jovem e saudável sorrindo para câmera.

- Olhe para mim.

Continuei encarando a foto.

- Olhe. Para. Mim - ela falou pausadamente com a voz carregada de ódio. Cinco segundos após eu continuar de costas ela puxou meu braço bruscamente, me virando para encará-la.

Seus olhos eram puro gelo enquanto me observavam.

E então ela ergueu o braço e eu me encolhi quando a palma de sua mão se chocou contra meu rosto.

Minha bochecha estava ardendo e meus olhos começaram a lacrimejar. Pisquei algumas vezes, afastando as lágrimas.

Eu não choraria em sua frente.

Frágil.

Vulnerável.

Patética.

- Você está completamente louca - eu disse e ela me lançou mais um olhar mortal.

Ela enumerou três dedos em sua mão.

- Você não me respeita mais, você não chega em casa no horário e o último... - Ela se aproximou mais ainda, nossos narizem estavam quase se roçando.

- Você virou uma vagabunda bêbada.

Me sentei no sofá derrotada pelo impacto de suas palavras.

- Não quero mais te ver com aquele garoto, ele é má influência para você, alguns dias ao seu lado e você está sendo uma vaca. A Any obediente se foi deixando essa versão rebelde sem causa e bêbada. Se você por acaso se opor quanto a vê-lo eu te mando para rua. - Ela me lançou um olhar, me desafiando a rebater sua ameaça.

Arregalei os olhos em surpresa e passei as mãos pelos meus cabelos em frustração. Encarei minha mãe e me levantei.

Ela havia vencido.

- Eu te odeio - eu sussurrei e uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha enquanto eu corria para meu quarto.

Tranquei a porta e me joguei na minha cama. As batidas contra a madeira começaram no mesmo instante.

- Abra essa porta! - ela gritou e as pancadas ficaram mais fortes. Suspirei e limpei minhas lágrimas com as costas da mão.

Aquela seria a última vez que eu choraria por causa dessa mulher.

- Você parece desanimada. - Hannah disse me observando enquanto eu limpava uma das mesas da lanchonete.

Forcei um sorriso em sua direção e neguei com a cabeça.

- Semana de provas - inventei uma desculpa. Passei minhas últimas horas pensando em como eu faria para me afastar do Noah, eu não poderia ser expulsa de casa e então morar na rua, minha mãe provavelmente pararia de pagar as despesas da faculdade e eu ficaria completamente sem rumo.

- Entendi - ela respondeu e a desconfiança em sua voz era totalmente notável. - E então, você está indo até a festa nesse final de semana? - ela perguntou, esperançosa.

- Acho que não, não me encaixo muito bem em festas - respondi andando até outra mesa e os passos da garota soaram atrás de mim, ela era muito persistente.

Ela bufou e disse:

- Pare de ser boba, talvez você possa ir com o Noah, ele é realmente muito quente. - Ela apoiou seu quadril contra a mesa.

Continuei limpando desconfortável quando o nome com a letra N foi citado. Tirei meus olhos do pano e os ergui para os olhos cinzas.

- Eu acho que eu posso ir com você. Mas nada de garotos - murmurei finalmente cedendo e ela soltou um gritinho em excitação e passou os braços ao redor do meu pescoço, fiquei tensa e ela se afastou imediatamente, provavelmente percebeu.

Ela sorriu.

- Desculpe, não consigo controlar minhas emoções. A gente pode se arrumar no meu dormitório ou na sua casa, se você preferir. - Balancei a cabeça rapidamente.

- No seu dormitório está de bom tamanho. Não sei o que usar - desviei o foco sobre estarmos indo para minha casa, se minha mãe visse alguém bonita como Hannah e ousada, diria que é uma das minhas formas de chamar atenção e surtaria novamente.

Ela deu uma risadinha e abanou com a mão indicando para eu deixar para lá.

- Eu já sei o que você vai usar - ela falou com os olhos brilhando. - Posso te emprestar algo, passar maquiagem em seu rosto, e também fazer o seu cabelo. Vai ser como ter minha própria Barbie em tamanho real.

Uau, ela realmente estava animada.

Dessa vez eu soltei um riso e concordei com a cabeça.

- É, acho que você pode fazer tudo isso. - Ela assentiu e o sino soou indicando que deveríamos voltar a atender clientes. Ela piscou para mim e se moveu.

Essa festa não poderia ser tão ruim.
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Eita rapaz....
                        

Apenas mais uma {NOANY}Onde histórias criam vida. Descubra agora