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Any Gabrielly:

Eu estava organizando o armário do Noah, que por sinal, estava uma bagunça.

Enquanto ele estava na faculdade e eu entediada e sozinha em seu apartamento. A faxina me fazia companhia na maioria das vezes.

Minhas mãos bateram contra uma enorme caixa, que mais se parecia com um baú e eu a puxei dos fundos do armário.

Ela parecia velha, estava coberta de pó e a pintura azul estava desbotada. Haviam duas letras gravadas em cima dela.

A.N.

Eu passei meu dedo sobre elas, levemente confusa. Aparentemente, não era de Noah.

Então eu a abri, porque estava curiosa demais e não poderia esperar para perguntar a Noah depois o que isso significava.

A caixa estava cheia de quadrinhos. HQs de super-heróis, parecia coisa de colecionador, haviam muitas edições. Eu peguei uma das revistas e a folheei, um bilhete saiu do meio das página e caiu sobre o chão, eu coloquei a revista dentro da caixa novamente e o li.

Para meu filho, Axel Noah. Sempre que ficar zangado demais com sua mãe enquanto eu estiver fora, peça a uma das empregadas para fazer o marshmallow que você tanto gosta, saia para a varanda, leia esta revista que você me pediu de aniversário e se lembre que eu o amo. Feliz aniversário, seu décimo segundo outono, e me desculpe por não estar presente.

Assinado, Grant P., seu pai.

Fiquei alguns segundos observando o papel em minhas mãos, era velho, estava amassado, Noah provavelmente fez isso aos doze anos, depois de ler, mas então ele voltou atrás e o guardou.

Haviam diversos deles, no meio das revistas. Diversos bilhetes do pai de Noah.

Não provoque sua mãe, simplesmente a ignore. Não use a guitarra depois das dez, ela provavelmente vai te pôr de castigo por conta disso. Não traga muitas garotas para casa no seu aniversário, você não pode lidar com quatro delas ao mesmo tempo. E por último, não rasgue meus bilhetes sem antes lê-los, um passarinho vem me dizendo que você fez isso das últimas duas vezes. Se lembre que minha ausência é causada pelo trabalho, não por minha vontade própria. Feliz dia de ação de graças, o porteiro me disse que você finalmente conseguiu restaurar o Camaro, mas só vai poder dirigi-la ano que vem, quando fizer dezesseis, até lá tenha paciência e se mantenha longe da polícia, não sei se posso persuadir mais um policial para retirar as queixas. Estou com saudades.

Assinado, Grant.

A caligrafia do Sr. Grant era deslumbrante, havia um bilhete em especial, que me chamou atenção. Ele estava unido por alguns pedaços de fita adesivas. Eu o segurei e meus olhos começaram a percorrer pelas letras.

Sei que você soube... Sinto muito por não ter te contado antes. Infelizmente já não tenho mais o que fazer, a doença se espalhou e eu preferi que você não me visse assim, fraco e impotente. Você não saberia como lidar com isso, filho. Eu escolhi aonde eu quero morrer, no mesmo lugar em que nasci. França. A governanta me disse que suas notas caíram nos últimos meses, ela acha que devo contratar professores particulares para você, mas eu sei que o que você faz, é um ato de pura rebeldia, Axel. (Me desculpe por chamá-lo assim, sei que odeia o nome, mas continua sendo seu) Você não é burro, você é genial, uma das pessoas mais inteligentes que conheço. Às vezes, sinto falta do garoto que começou a fazer fórmulas químicas aos seis anos de idade, sinto falta do garoto de sete anos, que queria ser astronauta. Sinto falta do garoto de onze anos que me pedia centenas de HQs, sinto falta de você. E de todas suas versões. A de quatorze pode ter sido decepcionante para todos, inclusive para sua mãe, mas foi a minha preferida. Você deixou as revistas de lado, dizia que era coisa para nerd, você começou a tocar guitarra, se interessar por piercings e alargadores, você se rebelou contra o mundo. Posso parecer louco por dizer que foi minha época favorita de sua vida se passando diante de meus olhos, mas é porque também foi o meu tempo favorito. Eu fiz tudo o que você fez e um pouco mais aos quatorze anos, foi um dos melhores anos da minha vida porque eu me sentia a lei, eu tinha o mundo sobre meus pés e a adrenalina pulsando em minhas veias. Só não finja que é burro, você pode ter seus defeitos, Axel. Não queira mais um por esporte. Você pode ser cabeça dura, impaciente e imaturo algumas vezes mas definitivamente não é burro quando fala seis línguas fluentemente, você não é burro para mim quando começou a restaurar um carro sozinho, você é brilhante, filho. Simplesmente magnifique. Eu o amo, amo todas suas versões, cada fase sua. Só espero que algum dia me perdoe pela ausência. Juro que não foi proposital. A vida tem ciclos, e infelizmente, estou concluindo o meu mais cedo do que gostaria.

De seu maior admirador do mundo inteiro, pai.

A letra da última carta não era tão bonita quanto as outras, parecia que o Sr. Grant estava tremendo quando a escreveu.

Passei as costas da minha mão contra a bochecha, limpando uma lágrima solitária.

Alguns passos ecoaram pelo corredor, me fazendo despertar. Tentei guardar as coisas rapidamente mas já era tarde demais.

Noah.

- Any, eu estava pensando em... - ele parou bruscamente de falar quando apareceu na porta. Ele estava com uma expressão confusa enquanto me encarava, seus olhos alternavam entre mim e a caixa à minha frente.

- Você viu? - ele perguntou, o rosto sério.
Eu levantei um dos meus ombros.

- Sim, me desculpa, eu...

Ele me cortou.

- Tanto faz. São só revistas estúpidas - sua voz escorria raiva e ódio. Ele andou até mim e começou a jogar as HQs bruscamente dentro da caixa, amassando as folhas.

- Noah, para. - Eu tentei o impedir mas ele chutou a caixa para longe, a fazendo se arrastar centímetros sobre o carpete.

Seu rosto estava vermelho de raiva e seus olhos verdes esmeraldas haviam escurecido algumas tonalidades. Ele entrelaçou os dedos atrás de sua nuca, parecia transtornado. E eu havia libertado isso nele.

Eu me levantei e passei os braços ao redor dele, hesitante.

Ele ficou tenso nos primeiros segundos, a respiração entre cortada, depois retribuiu o gesto.

- Eu sei - eu sussurrei . - É importante para você, Noah. Você não precisa agir como se não fosse.

Ele me apertou com mais força, eu estava me esforçando para respirar mas não podia soltá-lo agora.

Depois de alguns minutos, sua respiração havia voltado ao normal. Ele se afastou e eu o encarei.

Suas sobrancelhas estavam franzidas.

- Me desculpa, amor. É só... doloroso demais me lembrar. Eu não consigo. Me sinto um lixo. Quando eu percebi que algo estava errado já era tarde demais. Ele já tinha ido para outro país. E quando eu recebi a carta, uma hora depois, ele deu o seu último suspiro... - Seus olhos pareciam uma tempestade.

- Eu sinto muito.

Eu não sabia o que dizer, ou o que fazer para a dor ir embora então eu o beijei, porque era a única forma de distraí-lo por alguns momentos.

Ele se afastou quando eu tentei levá-lo para cama.

- Você está tentando me distrair com sexo? - ele perguntou e eu senti meu rosto se esquentar.

Abri minha boca para responder mas ele me interrompeu.

- Boa ideia. - Ele sorriu torto, me empurrando sobre a cama.

Minhas costas bateram contra o colchão e eu retirou a camiseta e a calça.

- Bruto? - ele perguntou, os olhos pura luxúria.

- Bruto - eu confirmei.

[...]


Reta final

quase

Muito perto

Pertinho

Apenas mais uma {NOANY}Onde histórias criam vida. Descubra agora