Chefe Cretino

Racismo - Derick

Dorotéia se vira para computador e começa digitar algo alí, talvez a demissão da Júlia. O calor incontrolável de desespero que sobre pelo meu corpo me diz que não posso deixar isso acontecer.

- NÃO! - a interrompo. Ela para de digitar e olha para mim, erguendo a sobrancelha como sempre faz. Um hábito que está começando a me irritar.

- Não era o que você queria? - o tom de deboche é nítido em sua voz.

- Não mais - estou tão desconfortável que gaguejo -. E-ela... Ela... Precisa do emprego - tento usar essa desculpa, para não precisar dizer a verdade. Tentar vitimizar a Júlia ao invés de admitir que estou apaixonado por ela é algo que meu orgulho insiste em fazer.

Mas, como sempre, Dorotéia tem uma solução:

- Eu consigo outro lugar para ela trabalhar, com um ambiente de trabalho mais agradável que esse - seu olhar sobre mim é amargo, isso me incomoda.

Dou-me por vencido. Ou eu sou sincero agora, ou perderei essa batalha.

- Espera, Dorotéia... Tem algo que preciso te contar.

• •

- PAIXONADO? - ela se levanta batendo as mãos sobre a mesa. Como sempre, explosiva.

- Para de gritar! - se Kenner ouvi-la, acabou minha paz.

- Por isso terminou com Penélope? - ela se senta outra vez, mais atenta do que nunca, nem sequer pisca.

- Também... Não conta para ninguém.

Apesar de ter contado uma boa parte da minha curta história com a Júlia. Omiti que transamos, iria expor ela demais.

- E só porque ela não quer ficar com você, decidiu implicar com ela?

- Com você falando assim, fica parecendo ridículo.

- Você é a materialização do ridículo, Derick. Até Kylie é mais madura que você - ela volta para o computador e apaga o que estava escrevendo - Tá bem, não irei demiti-la. Mas você vai fazer uma coisa por isso.

- Que seria?

Mais uma vez ela desvia os olhos da tela do computador e olha nos meus:

- Você vai embora dessa casa.

- Como é que é?! - ela só pode estar enlouquecendo.

- Só por uns meses, até a Júlia se recuperar de tudo que ela vem passando. Todos nós sabemos que você não faz bem à ela. Se ela é mesmo tão importante para você como diz, irá respeitá-la.

- Você proteje muito ela.

- Mulheres poderosas empoderam as outras. E você é uma pedra no sapato, maninho.

- E se quando eu voltar ela não me querer mais?

- Ela já não quer agora, que diferença faz?

Se ela tivesse me dado um soco no estômago teria doído menos.

- É bom que isso te estimula mudar também e parar de ficar pisando nos outros. Não quero saber se vai para um dos nossos hotéis, comprar uma casa ou apartamento novo ou até ir morar naquele seu Casulo dos marginais. Só vá. Terminamos aqui.

Sem outra alternativa, me levanto e deixo o escritório a passos duros. Mais uma vez abri mão de alguma coisa por ela, e mais uma vez tenho certeza de que não serei reconhecido por isso.

Ligo para Dom.

- Como foi a bronca? - ele atende.

- Você vai ter que me preparar um dos seus quartos de hóspedes.