Após dez dias internado – e desses dez, três foram UTI –, finalmente pude vir para casa. Minha irmã foi ao hospital me liberar e uma ambulância particular nos trouxe para casa. Estou tomando tantos medicamentos que estou ficando desorientado.
- Ai! Porra - resmungo enquanto Dominique me ajuda a ficar sentado na cama para comer. Há também outros funcionários presentes, todos negros, deixei claro a minha irmã que não quero ajuda de gente branca.
Já bastou a ajuda da Júlia lá no hospital.
Quando acordei da cirurgia eu chamei por ela, mas não estava mais lá. O médico disse que depois que fora anunciado sobre o sucesso da operação, ela foi embora. Também me lembro de olhar para o lado e ver a bolsa do sangue dela pendurada no suporte de soro enquanto eu recebia aquele líquido escarlate no meu braço. Depois disso, eu esperei a visita dela um dia de cada vez, mas essa não veio também. E quem poderia culpá-la? Eu a assustei naquela noite também. Apontei uma arma na sua cabeça.
- Larga mão de ser um bebê chorão - Dom alfineta com bom humor, me tirando das minhas memórias -. Se fosse para comer a Penélope, aposto que não estaria reclamando de dor.
Penélope... essa foi outra que não foi me visitar, espero que tenha uma boa justificativa para tal.
- Nem me fala dessa vaca! - digo a ele, pegando os talhares para começar a comer.
- Ela nem sequer te ligou, não é? - ele indaga e pega uma batata assada do meu prato.
- Não, mas disse que vem aqui hoje - Dom ri.
- Não dá nem pra falar que ela tá fodida, você sempre acaba se derretendo por ela - ele se levanta, me deixando para ir almoçar também.
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Júlia
Derick retornou a casa hoje, ainda não o vi, e nem pretendo visitá-lo no quarto agora, pois está na hora do almoço. Mais tarde irei, permanecerei cuidando da Kylie até lá.
- E aí? - uma voz que bem conheço me pega de surpresa. Um tanto estupefata, me viro para olhá-la.
- O quê faz aqui, Jodi? - pergunto confusa.
- Dominique me chamou para almoçar aqui, ele vai sair com o Kenner após o almoço e quer que eu os acompanhe. Tem alguma coisa a ver com comprarem o restaurante onde eu trabalho.
- Se eu tivesse despertado em outro planeta ficaria menos surpresa - digo sorrindo. Ainda assim é sempre bom vê-la.
- O nome desse "despertar em outro planeta" aí, se chama chá de cogumelo, amor.
- Idiota - rio -. Eu preciso dar um banho na Kylie agora - coloco o pratinho da pequena de lado e a pego no colo -. Acabou de almoçar e ela sempre se suja.
- Tudo bem, já vou descer para o almoço também, até logo.
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Com Kylie no soninho da tarde, vou de fininho ao quarto dele, como está se recuperando sua porta deve ficar aberta o tempo todo, pois caso dele caia da cama ou precise de algo com urgência, alguém poderá ouvir. Também tem um enfermeiro durante à noite.
O encontro distraído no celular, apesar do repouso prolongado, ele continua tão torneado quanto da primeira vez que o vi. Sorrio em ver que ele está melhor, se eu não tivesse me apavorado naquela troca de tiros provavelmente ele não passaria por isso, mas agora a única coisa que posso fazer é ser solidária e ajudá-lo.
- Oi, Derick - chamo baixo para não assustá-lo. Alarmado com a minha voz, ele larga o celular imediatamente e olha para mim, ele não sorri, mas também não me observa com a cara feia de antes.
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Chefe Cretino
RomanceApesar de ter cometido erros na vida, Júlia Conor nunca deixou de dar o seu melhor e buscar condições genuínas para si, e sempre de forma honesta. Mesmo que para isso tenha que lidar com pessoas que a provoquem dores de cabeça. O rancoroso e racista...