Sono

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🚫 Esse capítulo contém cenas que podem desencadear gatilhos para pessoas sensíveis, se você é uma dessas, sugiro que parta para o próximo 🚫

Quando entro na minúscula copa do nosso apartamento, encontro Jodi colocando a mesa para o café da manhã, normalmente eu acordo primeiro e faço isso, mas hoje é final de semana e mereço dormir até mais tarde, inclusive ainda estou usando meus pijamas.

- Tá acordando muito tarde nessas últimas semanas - Jodi diz, colocando a jarra de suco no centro da mesa de vidro.

- É sintoma da gravidez ter mais sono que o normal.

- E sintoma de anemia também - ela contrapõe -. Está assim desde que doou sangue.

- Fica calma, Jodi - peço -. Eu estou tomando as vitaminas e seguindo a prescrição direitinho.

- Você deveria ter voltado ao médico.

- Eu já tenho exame pré natal daqui dois dias, não precisamos ficar pagando consulta agora. Sabe que não temos condições - sento à mesa e pego meu iogurte desnatado e uma colher.

- Quando éramos adolescentes nós vivíamos com anemia por causa da nossa má alimentação, Júlia. Estávamos sempre dormindo pelas mesas do colégio. Tô falando para o seu bem e do meu sobrinho.

- Não precisa se preocupar. Daqui dois dias eu me consulto e tiro esses conflitos da sua cabeça - termino meu iogurte e levanto -. Vou voltar pra cama e dormir o dia todo!

Jodi bufa, dando-se por vencida, eu entendo a preocupação dela e acho muito fofo isso, mas não podemos ficar pagando consulta só porque eu tô com sono.

Mas acontece que ao dar o primeiro passo em direção ao meu quarto, uma forte tontura me pega de surpresa. Nunca foi tão forte assim.

- Ai! - coloco uma mão na têmpora e a outra procuro algum apoio, mas como não encontro nada, caio no chão.

- Júlia! - Jodi grita, desesperada, e corre até mim - Já chega! Que se dâne! Eu vou ligar para ambulância agora! 

- Jodi... - tento chamá-la, mas estou completamente desorientada.

- Não se mexa! Você bateu a cabeça quando caiu - ela já segura o celular na orelha -. Dessa vez você vai ver um médico querendo ou não!

• •



Na ambulância eu fui medicada com analgésicos e ligaram para meu ginecologista obstetra, que disse que estava a caminho para me examinar também. Ao chegar no hospital, fui submetida a mais um milhão de exames, dentre eles os de imagem, e foi a partir desse que eu tive a sensação de que algo não está certo. Foi diferente dessa vez, o médico não disse nada e nem respondeu as minhas perguntas. Apenas disse que aguardaria o restante dos exames antes de falar comigo. Meu filho não está bem, tenho certeza, mas o que ele tem?

De castigo nesse quarto de repouso aguardo nervosa o resultado desses malditos exames, e como sempre minhas mãos não param quietas.

- Se continuar assim, vai quebrar todos os seus dedos - Jodi fala enquanto lê sua revista sentada ao meu lado.

- Desculpa, é que estou...

- Nervosa, eu sei, eu também. A revista é só pra disfarçar, nem sei o que estou lendo.

A batida da porta quase faz meu coração sair pela boca, é o médico. Ele entra, olha para nós duas, e pede:

- Senhorita Marquez, pode nos dar licença um momento? Preciso conversar com a Conor em particular.

Chefe Cretino Onde histórias criam vida. Descubra agora