Vingança

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Estou em mais uma das minhas pausas para fazer uma boquinha na copa dos funcionários. Comendo uma salada de alface com mel e gotas de chocolate. A cozinheira me olhou com uma careta e riu quando me viu praticamente comendo a vasilha junto, estou com desejo e como com uma boca tão boa. Ando tento os desejos mais bizarros com a gravidez, ontem a noite estava chupando brita.

Seguro a marmita perto do rosto e enfio o garfo levando à boca. Não tiro os olhos da enorme TV instalada na parede da copa desde que vi o nome "Richard Bittencourt" escrito na legenda do noticiário.

- Richard Bittencourt, filho do banqueiro Christopher Bittencourt, foi preso ontem a tarde! Às acusações giram em torno de lavagem de dinheiro, corrupção, pagamento de propina e suborno - o repórter passava a informação parado em frente a um dos brancos dos Bittencourt. Com essas acusações, está parecendo mais a prisão de um político do que de um socialite.

Minha mente vai direto a uma pessoa incônica que pode ter sido o responsável por tudo isso. Richard não tinha tanta visibilidade assim na mídia ou politicamente para chamar a atenção ao ponto de investigarem a vida dele sem mais nem menos e de modo exposto assim. Precisa ser uma pessoa no mínimo com contatos na imprensa e de forma rápida, hoje faz três dias desde a nossa conversa no carro e segundo a enquete, Richard foi preso ontem. Ele é uma pessoa com poder para tal.

Na garfada que dou dessa vez a marmita faz um som que revela estar vazia. Dou uma olhadinha, me certificando de que realmente está. Ótimo. Já tenho outra coisinha para fazer mesmo.

• •

- Sei que foi o senhor, senhor Derick - entro no escritório sem bater, a porta já estava aberta mesmo.

Ele tira os olhos do computador e me encara, a expressão antes concentrado, passa a ser fechada. Continuo:

- Foi o senhor o responsável pela prisão do pai do meu filho.

- Engraçado, porque quando te perguntei, você disse que ele não tinha pai - me dá um leve sorrisinho sarcástico - Ah não! - dá um tapinha na própria testa, mostrando lembrar de algo - Você disse "ele é só meu" - força uma voz fina na última parte, tentando se passar por mim. Nunca vi alguém tão sério e tão trabalhado no deboche.

Suspiro, tentando ainda manter uma conversa madura.

- Ok. Então deixa-me reformular: Foi o senhor o responsável pela prisão de Richard Bittencourt.

- Fica tranquila - Derick dá de ombros e volta a olhar o computador -. Ele tem ensino superior, administração, vai ter direito a cela especial.

- Não é disso que se trata essa conversa.

- Então do que se trata? - ele arqueia a sobrancelha.

- Por que fez isso?

- Já ouviu a frase o "inimigo do meu inimigo é meu amigo"? - cospe tudo sem parar de teclar. Ele está fazendo pouco caso de mim, como sempre, e isso está começando a me irritar.

- Richard Bittencourt não é seu inimigo.

- Contudo, por algum motivo que eu sinceramente não consigo ver, você é importante para minha irmã! Então me vinguei dele para você. Deveria me agradecer.

- Não há o que agradecer! Não há honra na vingança.

- Tem certeza? - ele para por um instante e me olha com uma risadinha - Porque eu ando me honrando com muitas vinganças desde que voltei para Portland.

Desisto. Não é minha responsabilidade colocar juízo na cabeça dele.

- Está lutando uma batalha que não é sua, senhor Derick! - começo a me virar para sair. Logo Kylie vai acordar e ela não gosta de ficar sozinha. É muito carente.

Chefe Cretino Onde histórias criam vida. Descubra agora