Se conhecendo

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Kylie corre de um lado para o outro do jardim enquanto sorri. Já sou oficialmente babá dela há alguns dias. Dorothy viaja hoje para a semana de moda e o senhor Kenner pediu para eu ficar fora da casa pelo risco da esposa acabar arremessando algo e acertar a gente. Hoje ela está mais nervosa do que nunca.

- Titi... - Kylie se aproxima me entregando uma florzinha minúscula e roxinha. "Titi" é a forma dela falar "titia". Apesar de já ter dois anos, Kylie praticamente não conversa, os terapeutas disseram que não tem nada de errado com ela e que falaria quando se sentisse pronta, e é verdade, quando ela está sozinha com o pai não para de falar um segundo, se sente confortável com ele, mas se alguém chegar, até mesmo a Dorothy, ela se cala.

- É linda, meu amor. Obrigada - pego a florzinha e ela volta a correr.

Ela não tem muito o hábito de arrancar as flores do pé, o senhor Kenner já disse que a pequena brigou uma vez que ele cortou uma rosa para dar a esposa. Temos isso em comum; flores são muito mais belas ligadas as suas raízes. Então se Kylie me deu essa, provavelmente está querendo me agradar ou me agradecendo por algo.

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Derick

- Eu pensei que toda essa merda tinha ido no caminhão semana passada - reclamo com Kenner enquanto descemos carregando vários rolos de tecidos nos braços e ombros.

- Essas coisas nunca terminam, mano. Não tem fim! Não sei de onde sai... - Kenner conta com os olhos arregalados, o coitado já está prestes a enlouquecer devido a rotina da última semana.

Chegamos na entrada da casa e entregamos as toneladas de tecidos aos trabalhadores que estão organizando tudo dentro do caminhão.

- Isso é tudo? - pergunto, já cansado. Buscamos materiais no quarto, escritório e ateliê da Dorotéia, para todo lado tinha tecidos, roupas, sapatos, turbantes e caixas para carregar.

- Acho que ainda tem algumas coisas no sótão que quero levar - minha irmã responde, olhando a prancheta na mão através dos óculos de grau para leitura - Quem vai comigo?

- Quer ir, mano? - Kenner pede, praticamente implorando com os olhos.

- Eu não! Vai você!

- Vou ligar para o Dominique. Aquele é um cenário perfeito para um homicídio e ela não mataria ele.

- Tem certeza?

- É um sacrifício aceitável.

Teve um momento que eu derrubei uma das caixas e ela arremessou a prancheta nas minhas costas. Ninguém quer ficar sozinho com ela, é mais fácil ser burro de carga do demônio.

- Amorzinho - Kenner a chama com cautela e ela o olha -, Dominique disse que está vindo ajudar... Por que não tomamos um suquinho de maracujá que acabaram de preparar enquanto isso?

- Quero uma cerveja. Vamos - ela salta de dentro do caminhão, aceitando a pausa.

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Júlia

Acabo de dar o lanchinho da Kylie no jardim mesmo, forrei uma toalha de piquenique no chão e comemos. Ouço o som de passos, que logo se revela a mulher mais empoderada que eu conheço.

- Vim me despedir de vocês - Dorothy senta na toalha e pega a filha no colo, dando um longo cheiro nela -. Sentirei tanta saudade nessa semana.

Após aproximadamente dez minutos de muitos beijinhos em Kylie, o celular dela apita.

- Preciso ir - ela dá um forte abraço na filha -. Cuida bem do meu pacotinho, Jú - ela sorri, me abraçando também.

- Com a minha vida.

Chefe Cretino Onde histórias criam vida. Descubra agora