Capítulo 8

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Sentia meu estômago gritar de fome e Tyler pareceu notar isso, pois após eu ter aceito a proposta de emprego ele me levou até a cozinha e me serviu o jantar de aniversário do Nick.

A chuva continuava forte, mas eu iria embora mesmo assim. Respondi Alison e expliquei o que realmente aconteceu, ela ficou preocupada, mas a tranqulizei.

__Você vai mesmo embora? -Indagou deixando os pratos na pia.

__Sim, amanhã será meu primeiro dia trabalhando com você, quero estar apresentável.

__Eu levo você então.

Nego.

__Não será necessário meu carro está aqui, isso daria muito trabalho, mas obrigada.

__Tudo bem, me avise quando chegar. Sabe como é, preciso saber se minha assistente chegou bem. -Ele sorri e eu ruborizo vergonhosamente.

Abaixo meu olhar e pego meu celular no bolso da calça.

__Me passa seu número.-Digo sem olha-lo.

Ele dita a sequência de números e eu finalizo adicionando como chefe.

__Eu gostei disso. - Brincou apontando para a tela do meu celular.

A chuva não estava mais tão forte, e era sinal para eu partir.

__Preciso ir. Obrigada por tudo. -Me levanto de onde estava sentada e visto minha jaqueta.

__Bem, me desculpe pelo acidente com Balt. Eu te acompanho até a porta.

Assinto.

__Tem certeza que não quer ficar mesmo? - ele insiste uma última vez antes de abrir a porta.

__Tenho. - Sorrio.__Eu te aviso quando chegar.

__Ok, se cuida e até amanhã.

Apenas sorrio e lhe dou as costas.

Corro da chuva fina até meu carro.

Dou a partida e coloco uma música, não gosto de dirigir em noites assim, mas não podemos fazer só o que gostamos, certo?

Tyler mora mais distante de qualquer vizinhança, tem pelo menos 3km rodeado por um área arborizada até chegar a civilização. Pela tarde parecia um lugar muito bonito, porém agora parece um cenário de filme de terror.

Preciso avisar Alison que estou indo para casa, mesmo que talvez ela já esteja dormindo.

Pego meu celular do banco de passageiro e quando volto minha atenção pra estrada me espanto ao ver um homem parado logo a frente. Desvio com rapidez, mas devido a chuva o carro perde o controle e choca contra uma árvore. Bato meu rosto contra o volante, sinto meu nariz sangrar e minha cabeça girar. Maldito airbag inútil.

Vislumbres do acidente com meus pais vem a minha mente. Sinto o ar sumir, meu corpo treme dando início a um ataque de pânico.

__Pai. -Digo num sussuro.

A porta do carro abre e um homem com capa de chuva e rosto coberto me tira para fora. É o mesmo homem que quase atropelei.

Penso em perguntar se ele está bem, mas as palavras não saem.

Sem cuidado algum ele joga meu corpo em seu ombro como se eu fosse apenas um saco de batatas.

__O que...- O sangue do meu nariz desce por minha garganta, dando-me uma breve sensação de afogamento.__O que está fazendo? -Finalmente as palavras ecoam como um trovão de meus lábios.

Entendo que ele não pretendia me ajudar quando sai da estrada e adentra as árvores.

__Socorro! -Grito sentindo minha cabeça doer.

Ele me arremessa no chão e fica por cima de mim. Suas mãos vão de encontro ao meu pescoço, o ar se esvai aos poucos.

Fecho os olhos e seguro as mãos dele tentando arranca-las de mim. A sensação de morte, ódio e amargura invadem minha alma quando o toco. Vejo sangue e lágrimas.

Um grito excruciante sai de meus lábios.

Abro os olhos e encaro seus olhos negros e frios.

__Deus! - Imploro por misericórdia divina.

As imagens sangrentas se vão e consigo forças para me livrar do seu aperto.

O empurro para longe, me arrasto e respiro fundo em busca de oxigênio.

Ele agarra minha perna e me puxa. Lembro do meu pai e tudo que aprendi com ele.

Acerto um chute em seu estômago fazendo-o me soltar. Ele se curva, seguro em seus ombros e acerto duas joelhadas em seu rosto.

Quando o vejo cair só penso em correr e é isso que faço.

Chego até meu carro e pego o celular. Bateria fraca.

A chuva fina da entrada para gotas mais grossas.

Tento ligar para Tyler enquanto corro em direção a sua casa novamente.

Minhas pernas doem, sinto vontade de chorar.

A ligação cai e ele não atende. Minhas lágrimas logo se misturam com a chuva.

Um imenso alívio me invade quando avisto dois carros vindo em minha direção.

Faço sinal para que parem.

A única pessoa que eu não esperava que fosse ver ali desce do carro e corre minha direção.

Tyler.

Do outro carro desce mais quatro homens uniformizados, provavelmente são seus seguranças.

Sorrio sentindo meu rosto doer.

Minhas pernas fraquejam e antes que eu caia Tyler me abraça forte.

__Vasculhem tudo! -Bradou ele aos homens que logo adentraram a área arborizada.

__Eu realmente não estou com muita sorte hoje. -Digo irônica fazendo-o me apertar mais ainda contra ele.

__Desculpa ter vindo tarde demais. -Murmurou segurando meu rosto entre suas mãos.

__Como você sabia?

Sem me dar resposta ele me pega no colo e me carrega até o seu carro. Me coloca no banco e passa o cinto.

Recosto minha cabeça e fecho os olhos.

Antes de dar partida ele pega em minha mão.

Arregalo os olhos esperando pela dor, mas ela não vem, pelo contrário a sensação é de segurança e paz.

Quando ele se afasta e dá a partida sinto apenas o vazio junto as emoções ruins daquele homem terrível.

__Você pode segurar minha mão? -Peço de olhos fechados.

Ele não responde nada.

Mas seu toque vem como afirmação. Gentilmente ele enlaça nossos dedos, fazendo-me sentir a mulher mais segura do mundo.

__Me perdoe, Hailee. -O ouço dizer antes de apagar completamente.

Em suas mãosOnde histórias criam vida. Descubra agora