Boas novas

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            Annelise estava terminando de preparar o jantar, enquanto Lysandre colocava os pratos sobre a mesa. Mesmo que tentasse parecer confiante, o rapaz não conseguia esconder que estava um pouco nervoso. O que era bem justificável, já que não via o irmão há alguns anos. Bem, ao menos, era isso o que Annelise imaginava, ao ver quão tenso Lysandre parecia, ao caminhar diversas vezes até a cozinha, buscando os talheres, copos e pratos, que colocaria sobre a mesa da sala de jantar.

— Está muito ansioso? — Annelise indagou, numa das idas do namorado até a cozinha, enquanto ele pegava um par de taças de cristal, que estavam junto às outras no armário.

— Com o quê? — Lysandre indagou, ao virar para olhar Annelise, que se abaixava diante do forno, para verificar o salmão que assava, mergulhado em um molho de manteiga, com rodelas de laranja e batatas.

— Com a visita do seu irmão, amor. Sei que já faz um bom tempo que não o vê. — Ela respondeu, colocando as luvas de cozinha. Em seguida, abriu o forno, verificando o peixe.

— Estou um pouco ansioso sim, não posso negar. Afinal, como você mesma disse: já faz um bom tempo desde que nos vimos pela última vez. Digamos que temos muito o que conversar. — Lysandre comentou.

Annelise, agora, retirava do forno a travessa com o peixe, que fumegava. O prato exalava um aroma agradável, que preenchia toda a cozinha do apartamento. Ela se virou para Lysandre, ainda segurando a pesada travessa com as luvas térmicas. Esboçou um sorriso com os cantos dos lábios, ao ouvir o comentário do rapaz. — Não se preocupe, querido. Vai dar tudo certo. Vocês são uma família, nada terá mudado. — A garota comentou.

Nós somos uma família. Não se esqueça que você faz parte dela. — Lysandre corrigiu, mantendo um tom gentil em sua voz. Queria que ela percebesse, que haviam se tornado uma família, no momento em que decidiram viver juntos.

O comentário dele, a deixou um tanto encabulada. Porém, era nítido que a garota tinha gostado de ouvir aquilo. Era bem verdade que Lysandre havia se tornado sua família, desde que a acolheu na noite em que ela rompeu com Castiel. Daquela noite em diante, era como se tivessem se tornado um só. A ligação entre eles, era incrível! Parecia que jamais tinham se afastado. Lysandre sabia como fazer com que cada segundo fosse especial.

Annelise chegou a abrir a boca para responder ao comentário do namorado. Porém, o som da campainha, fez com que ela acabasse deixando de lado o que iria dizer. — Acho que eles chegaram. Pode ir ver a porta, por favor? — Ela indagou, ainda segurando a travessa quente, com as luvas que protegiam suas mãos.

— Claro. — Lysandre respondeu, enquanto ia se dirigindo até a entrada do apartamento, ouvindo a campainha tocar pela segunda vez. O rapaz abriu a porta já se deparando com Rosalya, que praticamente se atirou em seus braços, o abraçando com força em uma animação exagerada.

— Lys-fofo! Meu Deus, quanto tempo! — Rosalya disse, ainda apertando-o naquele abraço quase sufocante.

Lysandre a envolveu com os braços, um tanto surpreso e sem jeito, pela forma como a cunhada o agarrara. Havia se esquecido de quão expansiva Rosalya poderia ser. — É bom vê-la novamente, Rosa. — O rapaz afirmou em tom amável, enquanto agora, Via Leigh se aproximando com Thia nos braços.

— Como vai, Lysandre? — Leigh indagou, no mesmo tom formal de sempre. Era quase como se estivesse falando com um estranho. Mas, Lysandre pareceu não se importar muito, pois sabia que aquele era o jeito que seu irmão costumava se portar com todos. — Estou ótimo, Leigh. Obrigado. E você? Como tem passado? — Lysandre indagou de modo polido. Mesmo que fossem irmãos, continuavam se tratando como dois estranhos. O que, é claro, não significava que não gostassem um do outro. Apenas, que tinham uma forma mais formal de agirem quando conversavam.

Já Thia, era tão alegre quanto a mãe! Uma criança extrovertida, de sorrisos fáceis. Não era atoa, que ao ver Lysandre pela primeira vez, agiu como se já o conhecesse há uma vida. — Oi, tio Lys! — A pequenina disse, estendendo os bracinhos para que Lysandre a pegasse no colo.

Lysandre sorriu de forma mais ampla, segurando a menina no colo pela primeira vez. Quase pôde rir, ante a animação da garotinha, que se aninhava em seus braços. Era impressionante que mesmo nunca o tendo visto pessoalmente antes, parecia tão familiarizada com ele. — Olá, pequena! Finalmente a conheci! — Lysandre disse, segurando a menina de um modo um pouco desengonçado. Não se lembrava de ter segurado uma criança, antes. Parecia um pouco mais complicado do que ele imaginava.

Annelise veio da sala de jantar, depois de deixar o peixe sobre a mesa, observando ao longe o grupo que se reunia na porta do apartamento. — Rosa! Leigh! Que bom revê-los! — A moça disse, enquanto ia desamarrando o avental rosa claro, que estava por cima do vestido lilás, coberto de renda francesa.

Thia, ao ver Annelise, começou a estender os bracinhos rechonchudos em sua direção, totalmente eufórica. — Tia Nelise! — A criança disse, no auge de sua animação.

— Acho que acabo de ser trocado. — Lysandre comentou, rindo um pouco enquanto entregava a sobrinha à namorada.

Annelise riu, pegando Thia no colo e abraçando a garotinha com pouca força, a apertando entre os braços. — Acho que até sei o que essa pequena interesseira quer. — Ela disse, ainda aninhando a sobrinha. Thia não era muito difícil de se decifrar. Na verdade, era até bem fácil de saber o que a pequena queria, ao lhe pedir colo daquele jeito tão desesperado. Annelise a conhecia muito bem, apesar do pouco convívio.

— Tia Nelise, tem doce? — A criança indagou, causando uma sonora gargalhada em Annelise e Lysandre.

— Eu sabia! — Annelise afirmou, ainda rindo. Aquela menina era extremamente previsível. — Tem sim, Thia. O tio Lys e eu compramos vários doces para você. Mas, só vai poder comê-los depois do jantar, combinado? — Ela indagou, notando que a garotinha afirmava com a cabeça.

— Jantar, mamãe! Vamos jantar! — Thia disse, ao virar o rosto para olhar Rosalya, que tentava segurar o riso. Conhecia a formiguinha que tinha em casa.

— Parece que sua tia descobriu a palavra mágica, para te fazer querer comer algo saudável. — Rosalya comentou, ainda tentando não rir. — Vamos jantar logo, antes que você mude de ideia. — Ela disse em tom brincalhão, afagando aos cabelos escuros, que revestiam a cabeça delicada de sua filha.

— É uma boa ideia. Confesso que estou faminto e o cheiro é deveras agradável. — Leigh disse, esboçando um sorriso suave.

O comentário de Leigh, fez com que Lysandre sentisse um pouco da tensão sendo quebrada. Percebeu que poderia gracejar um pouco, ao perceber que o irmão parecia menos fechado. — Modéstia à parte, a Annelise é uma excelente cozinheira. Acredito estar ganhando alguns quilos, desde que passamos a viver juntos. — Lysandre brincou.

Ao ouvir o que o irmão disse, Leigh não pôde conter um riso espontâneo, fitando-o com um semblante infinitamente mais leve. — É ótimo ter uma boa cozinheira na família. Você teve sorte, em casa nós só comemos comida congelada. — Ele disse, agora em tom pouco mais descontraído.

— Obrigada pela parte que me toca, Leigh! Alguém vai dormir no sofá, hoje! — Rosalya disse, fingindo um tom aborrecido. Mas, claro, logo pôs-se a rir também. A verdade, era que mesmo tendo passado tanto tempo, aquela reunião entre os casais, trazia uma nostalgia incontestável. Era como se nada tivesse mudado.

Após o jantar, Annelise lavava as louças, enquanto Lysandre as secava. Leigh e Rosalya, agora, haviam se sentado próximo ao balcão da cozinha, observando-os enquanto o casal cuidava da louça.

— Já parecem até casados. Olha só, estão dividindo tarefas. Que gracinha! — Rosalya comentou, de modo brincalhão.

— Moramos os dois na casa, Rosa. Dividir as tarefas faz parte. Ou vai me dizer que não faz isso com o Leigh? — Annelise indagou, ao olhar para trás, em um ar risonho enquanto enxaguava o último prato, antes de entregá-lo a Lysandre.

— Sim, dividimos tudo. Ele lava, passa, cozinha e eu cuido da Thia. — Rosalya respondeu, ainda mantendo o mesmo tom brincalhão. — Eu não nasci para ser dona de casa. — Ela completou.

— Eu sei disso! Lembro de como você era um desastre nas aulas de economia doméstica. — Annelise respondeu, com um semblante divertido.

Lysandre agora, colocava no armário o último prato após secá-lo com um pano. Tudo era mais rápido quando feito por duas pessoas. Agora, ele se dirigia à namorada, secando as mãos no pano que usara para secar a louça. — Amor, eu vou ao terraço um pouco, está bem? — Ele indagou.

— Claro, querido. Vá lá! — Annelise respondeu, dando um selinho carinhoso nele.

Lysandre correspondeu ao breve beijo que a namorada lhe havia dado, antes de agora, voltar sua atenção ao irmão mais velho. — Me acompanha, Leigh? Eu gostaria de mostrar-lhe a vista. — Ele pediu de forma educada.

— Claro, será um prazer. — Leigh respondeu, seguindo Lysandre em direção a escadaria que os levaria ao terraço.

Rosalya esperou até que os rapazes saíssem, os seguindo com os olhos até que sumissem definitivamente pela escadaria. Então, correu para perto de Annelise, que ainda secava a pia após lavar as louças.

— E então? Ele já tocou no assunto? — Rosalya indagou, em tom quase sussurrado. Estava com receio de que eles voltassem e pudessem ouvir.

— Que assunto? — Annelise perguntou, um tanto confusa.

— Sobre o nascimento do próximo Papa. — Rosalya respondeu, sem um pingo de paciência. — Sobre casamento, Annelise! Do que mais seria? — Ela perguntou, em um tom ansioso.

Annelise agora, olhava em direção a escada por onde Leigh e Lysandre haviam subido. Precisava falar baixo. — Sim, ele tocou no assunto. Mas foi muito breve. Ele falou algo sobre casarmos no celeiro da fazenda dos pais dele. — Annelise respondeu em um sussurro.

— Ai, que horror! Isso é tão brega! — Rosalya respondeu, com certo asco.

—Esse não foi o problema de forma alguma! Eu gostei da ideia! Acho que seria lindo! Até fiquei imaginando e não posso negar que seria algo que eu gostaria. Acontece que eu estraguei tudo! Quando ele falou sobre isso, eu entrei em pânico! Acabei saindo correndo. Acredito que ele não vá mais tocar no assunto. — Annelise disse, em tom quase desapontado. Era fato que pensar em como reagiu mal ao comentário dele, ainda a deixava angustiada.

Porém, enquanto as duas conversavam na cozinha, Leigh e Lysandre haviam finalmente chegado ao terraço. Lysandre fechou a porta de vidro, para garantir que eles teriam alguma privacidade para conversar. Afinal, o assunto era importante.

— O que você realmente gostaria de me mostrar, Lysandre? — Leigh indagou, ao notar o irmão se afastando da porta.

— Foi tão perceptível assim? — Lysandre perguntou, corando um pouco.

— Acredito que as garotas não tenham notado. Mas, eu sou seu irmão mais velho. Sei perfeitamente quando está mentindo. — Leigh disse calmamente, olhando para o outro.

Lysandre suspirou. Era verdade, ninguém no mundo inteiro o conhecia melhor do que Leigh. Apesar do tempo em que passaram afastados, o mais velho demonstrava ainda conhecer perfeitamente seu caçula.

Após ponderar por alguns segundos, sempre olhando em direção à porta de vidro, Lysandre finalmente meteu a mão ao bolso interno do paletó que vestia, retirando uma caixinha de veludo vermelho. — Eu decidi pedir Annelise em casamento. — O rapaz disse, enquanto abria a caixinha, revelando em seu interior um anel de ouro branco, com um diamante em corte princesa ao centro. Ao redor do diamante, estavam cravejados pequenos brilhantes, cortados em formato circular, adornando a peça que era delicada.

Leigh olhou estupefato para a joia, que cintilava, mesmo na escuridão que a noite trazia. Era um anel lindo! Uma peça de muito bom gosto, diga-se de passagem. Não podia negar que estava surpreso com aquela decisão, por parte de Lysandre. Nunca o imaginou pedindo alguém em casamento, mesmo que soubesse que ele era um romântico incurável. Os olhos negros desviaram da joia, agora procurando o rosto do rapaz mais jovem. Ainda estava totalmente pasmo. — Isso é ótimo! — Leigh disse, esboçando um sorriso onde jazia ainda aquele tom surpreso. — Quando tomou essa decisão? — Ele indagou, ainda sem conseguir acreditar no que ouvira.

— Há cerca de uns dois meses. Mas, não nego que tenho pensado cada dia mais nisso, ao ponto de ter certeza absoluta de que a quero para sempre. — Lysandre respondeu.

— Que notícia maravilhosa! Parabéns, meu irmão! Estou muito feliz por você! — Leigh afirmou, agora esboçando um sorriso amplo, enquanto dava uma palmada amistosa nas costas de Lysandre. De fato, estava muito feliz por ver seu irmão mais jovem tomando uma decisão tão importante. — E quando pretende fazer o pedido? — Ele indagou, ainda em estado de graça.

— Daqui a quatro dias. Pretendo pedi-la em casamento quando estivermos na fazenda. Quero que seja algo inesquecível. Até já sei onde será o lugar perfeito, para realizar o pedido. — Lysandre respondeu, tornando a fechar a caixinha e colocá-la no bolso. — Por favor, não conte a Rosa. Quero que seja uma surpresa absoluta. — O rapaz pediu, enquanto ajeitava o paletó.

— Não e preocupe. Manterei isso entre nós dois. — Leigh afirmou. De fato, não contaria nada a esposa. Sabia ser muito discreto, quando queria.

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