Corações ligados.

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Quando finalmente chegaram à fazenda, Lysandre pareceu aliviado. Ainda estava tudo escuro, em um claro sinal de que teriam algum tempo para descansar. Ainda assim, preferiu dar uma conferida na hora, percebendo que ainda eram três e meia da manhã. Poderiam dormir por pelo menos mais uma hora, antes de terem de levantar.

No entanto, ele se preocupava com Annelise. Afinal, imaginava que aquela não seria uma rotina com a qual ela estaria acostumada. Presumiu, que ela teria certas dificuldades para acordar.

Ao chegarem na casa, Lysandre abriu a porta, deixando que Annelise entrasse primeiro. O rapaz não podia negar que era bom estar de volta, após algumas semanas fora. Afinal, a rotina do café estava bastante corrida, de modo que o manteve longe da fazenda nas últimas duas semanas.

Lysandre fechou a porta da casa, antes de se voltar para a namorada, tornando a lhe segurar a mão, de modo carinhoso. — Venha, eu vou lhe mostrar a casa. — Ele disse, antes de beijar a bochecha destra da garota. Em seguida, começou a guiá-la por um dos corredores.

Primeiro, levou-a até a sala de estar, que era pequena, mas bem decorada. As paredes eram tingidas em azul claro, repletas de quadros de flores e fotografias de Josiane e George. Havia ao centro, um piano velho, ao qual Lysandre costumava tocar quando criança. Em uma das paredes, uma estante abarrotada de livros e porta-retratos, com fotografias da família. A grande maioria das imagens, retratava a infância de Leigh e Lysandre. Além disso, havia uma mesinha de centro com um vaso sobre uma toalhinha bordada, e dois sofás de couro branco.

Depois, Lysandre levou Annelise até a cozinha, que era tão modesta quanto a sala. Pequena, bem cuidada, com uma enorme janela diante da pia de mármore branco. Os azulejos brancos, pareciam um pouco sujos, pelo tempo em que Lysandre esteve fora. Todavia, o restante da cozinha estava arrumada de modo impecável. Até mesmo o fogão velho, estava muito limpo, coberto com um pano de prato, onde haviam flores tingidas à mão.

Depois, lhe foi apresentada a sala de jantar, que era ampla, com papel de parede floral. Ao centro, uma mesa de seis lugares, coberta com uma toalha amarela. Além da mesa, havia uma cristaleira, onde estavam guardadas algumas peças de porcelana, que certamente eram as favoritas de Josiane.

Em cada cômodo que entrava, Annelise olhava curiosamente para o lugar, reparando em como era modesto, mas extremamente aconchegante. Acolhedor, até. Havia gostado da casa. A decoração era simples, com toalhas de mesa bordadas à mão, cortinas rendadas, móveis antigos de aspecto colonial; tudo com o evidente toque de Josiane. Era como se ela ainda estivesse viva, em cada detalhe daquela casa. De fato, entrar naquele lugar, era como se sentir abraçada pela doce senhora que deixara sua marca ali.

Pensar que tanto ela, quanto George tinham dedicado suas vidas à fazenda, fez com que Annelise pudesse compreender melhor todo o cuidado que Lysandre tinha com aquele lugar.

Depois, Lysandre subiu um pequeno lance de escadas, indo ao andar superior da casa. O rapaz guiou a namorada pelo corredor dos quartos. Eram três, ao todo: Um de George e Josiane, outro de Leigh e o de Lysandre ao fim do corredor.

— Este costumava ser o quarto dos meus pais. — Lysandre comentou. — Eu não o abro há anos... — Havia certa melancolia na voz do rapaz, ao verbalizar aquilo.

Quando Josiane e George morreram, Lysandre lacrou o quarto dos pais, com duas tábuas, presas com pregos. Queria que o cômodo continuasse intacto e que ninguém entrasse ali. Doía saber que não os veria mais; aquele cômodo era a única forma de conservar suas memórias.

Annelise julgou que seria melhor não perguntar sobre as tábuas na porta. Já conseguia presumir o motivo pelo qual elas estavam ali. Decerto, era doloroso demais para Lysandre, ver aquela porta aberta. Podia enxergar isso, pela tristeza estampada nos olhos dele, ao vislumbrar a fachada lacrada, daquele cômodo eternamente trancado.

A roseira e os espinhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora