Assim que Lysandre entrou na sala de emergência, viu uma enfermeira levantando o lençol que cobria as pernas de sua esposa, verificando como estava a dilatação. Pelo modo como Annelise trincava os dentes, tremendo de dor, totalmente encharcada de suor, era perceptível que a hora do nascimento do bebê se aproximava.
Ele caminhou apressado até a maca onde Annelise estava sentada, com o rosto vermelho pela dor que sentia, respirando e soltando o ar cada vez mais rápido. Não tinha a menor ideia do quanto aquilo estava doendo, mas presumia que a dor tivesse aumentado muito, desde a hora em que chegaram ao hospital.
Os cabelos de Annelise estavam grudados no rosto, assim como a roupa do hospital, cujo tecido fino grudava em sua pele, graças ao suor abundante. Lysandre se aproximou da maca, afagando os ombros da esposa, para tranquilizá-la, enquanto as contrações se tornavam mais fortes. — Calma, querida. Isso vai acabar logo... — Lysandre disse, ainda afagando os ombros de Annelise, que demonstrava aflição e impaciência.
— Por quê isso demora tanto? Já é a quarta mulher que chega depois de mim e já é levada para a sala de parto, Lysandre! Eu não aguento mais! — Annelise não conseguia esconder aquele tom completamente irritado, aflito, repleto de agonia. Afinal, desde a madrugada ela sentia as contrações que evidenciavam que havia chegado o dia do nascimento do bebê.
Lysandre continuava afagando os ombros dela, buscando tranquilizá-la ao máximo, mesmo sabendo que seria algo difícil de se fazer. Como acalmar uma mulher que estava morrendo de dor? Como dizer a ela que ficaria tudo bem, quando dentro de instantes, sairia um outro corpo de dentro do seu? Era muito compreensível que ela estivesse tão irritada.
— Tente ficar calma, querida. Daqui a pouco é sua vez, está bem? — Ele deu um beijo na testa de Annelise, conforme as mãos deslizavam pelos ombros dela, ainda buscava acalmá-la.
Olhou para baixo novamente, vendo que a enfermeira ainda avaliava a dilatação de Annelise. Esperava que agora ela já tivesse aumentado o suficiente, ou, que ao menos estivesse perto do tamanho necessário para o nascimento do bebê.
— A senhora acha que ainda vai demorar muito? — Lysandre perguntou. Ele mesmo já não estava aguentando mais toda aquela demora. Era horrível ver sua esposa sofrendo tanto, algo precisaria ser feito. Já ouvira falar de modos de aumentar a dilatação. Talvez fosse possível usar algum desses métodos, para ajudá-la a ter logo o bebê.
A enfermeira cobriu novamente as pernas de Annelise, se erguendo ao ouvir a pergunta de Lysandre. Pelo modo como ele parecia angustiado, era fácil ver que aquele era o primeiro filho que teriam. — Já está com nove dedos de dilatação. O bebê já vai nascer. — A enfermeira respondeu. — Vamos levá-la para a sala de parto agora, senhor Henderson. — Ela completou, enquanto saía rapidamente da sala de emergência.
Ouvir aquela notícia, era um alívio enorme! Annelise já se sentia mais tranquila, só de saber que dentro de alguns minutos o bebê nasceria. Embora, é claro, soubesse que a pior parte estaria por vir. Já havia lido relatos de mulheres, que contavam quão dolorosa fora experiência do parto. Sua própria mãe, lhe havia dito que a dor era terrível! Isso certamente não ajudava muito a afastar o medo de si. Porém, mesmo apavorada, sabia que todo o sofrimento valeria a pena quando visse o rosto de Logan pela primeira vez.
Lysandre conhecia Annelise melhor do que ninguém. Sabia quando algo a estava assustando, irritando, ou deixando-a feliz. Poderia ver facilmente, o medo em seus olhos, naquele momento. Não poderia culpá-la, deveria ser de fato assustador saber que em alguns minutos, teria de fazer força para colocar uma outra pessoa no mundo. A dor deveria ser terrível, não conseguia nem imaginar o quanto aquilo deveria machucar. Então, a única coisa que ele podia fazer naquele momento, era mostrar a ela que estava ao seu lado. Mais do que nunca, Annelise precisava de seu apoio.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. — Ele sussurrou, ao dar mais um beijo carinhoso ao topo da cabeça dela. — Eu sei que está doendo. Sei que está assustada! Mas, isso vai passar rápido. Apenas preciso que você aguente um pouco mais, está bem? Eu estarei lá dentro com você, quando nosso filho nascer. Jamais sairei de seu lado. — O tom de voz dele, era sempre muito calmo, tranquilizador, até. Como se ele estivesse sempre preenchido de uma calma inabalável. Embora, é claro, estivesse apavorado. Porém, Lysandre buscava demonstrar ao máximo uma tranquilidade que não possuía naquele momento, apenas para que pudesse manter sua esposa calma. Sabia que se ele demonstrasse todo o medo que estava sentindo, acabaria a apavorando ainda mais. Era necessário mostrar que estava tudo sob controle, para que Annelise se sentisse segura.
Não demorou para que a enfermeira voltasse, acompanhada de mais dois enfermeiros, que moveram Annelise para uma maca móvel. Em seguida, começaram a empurrá-la rapidamente para fora da sala de emergência, levando-a pelos corredores do hospital.
Lysandre corria atrás dos enfermeiros, totalmente ansioso. A hora do nascimento finalmente tinha chegado! Isso ficou bem claro para ele, quando ouviu Annelise soltar um grito repleto de aflição, quando veio uma contração terrivelmente forte.
Caminhando ao lado da maca, o rapaz segurou a mão da esposa, para tentar acalmá-la. Era o máximo que ele poderia fazer naquele momento, então, não hesitou em fazê-lo. — Já estamos indo para a sala de parto, querida. Aguente firme, por favor. — Ele pediu, caminhando rápido para conseguir acompanhar o ritmo dos enfermeiros, que continuavam empurrando a maca pelos longos corredores de paredes brancas, que pareciam se afunilar conforme se embrenhavam ali. Era quase como se eles não tivessem fim! Ou, talvez, fosse apenas o nervosismo de Annelise falando mais alto, por conta das dores agudas que apenas aumentavam.
Finalmente chegaram à sala de parto, para o alívio da parturiente, que ofegava desesperadamente, coberta de suor. Os enfermeiros a colocaram novamente sobre a maca, deixando-a sentada de pernas abertas, como se fosse fazer um exame com o ginecologista. A diferença, era que, teria algo saindo de dentro de si. Algo, que a faria sentir uma dor extrema! Algo, que teria de fazer força para expelir.
O obstetra, um senhor baixinho e grisalho com óculos de lentes finas sobre o nariz adunco, se curvou diante de Annelise. Precisava avaliar a dilatação dela. Ele ergueu o lençol por alguns instantes, erguendo-se em seguida e deixando o tecido levantado. — O bebê já está coroando, senhora Henderson. — O médico disse. — Preciso que a senhora respire rapidamente, soltando o ar em seguida. Faça isso ininterruptamente, enquanto faz força com a pélvis. Quando a dor vier, precisa empurrar o bebê, está bem? — Ele passou as orientações necessárias, antes de se abaixar novamente, se preparando para segurar o bebê quando ele saísse.
Annelise moveu a cabeça positivamente, respirando de modo apressado. Tinha certeza absoluta de que aquilo não seria nada fácil, mas precisaria fazer. Ao menos, poderia se sentir mais segura, ao ver que Lysandre estava ali, parado ao lado da maca, segurando sua mão.
Então, outra dor intensa veio, parecendo capaz de rasgá-la. Era a contração mais forte, até agora. Annelise, por puro reflexo, apertou a mão de Lysandre com toda a sua força, soltando um grito estridente, causado pela dor lancinante. E, enquanto gritava, ela fechou os olhos, franzindo o cenho em uma expressão de agonia, conforme fazia força.
— Isso, querida! Continue! Você está indo bem! — Lysandre disse em forma de incentivo, ainda segurando a mão de Annelise, embora seus dedos doessem pela forma como ela os apertou. Não soltaria a mão dela em hipótese alguma! Ela precisava se sentir amparada, naquele momento. Ele jamais a deixaria sentir que estava sozinha.
Veio mais uma contração e um novo grito aflito, ecoou pelo quarto, podia sentir a cabeça do bebê saindo de seu corpo. E, por Deus, aquilo doía terrivelmente! Só queria que acabasse logo! Então, uma vez mais fez força para empurrá-lo para fora de seu corpo.
— Muito bem, senhora Henderson! Preciso que continue empurrando! Ele já está saindo. — O médico a encorajou, já amparando a cabeça do bebê, enquanto seu corpinho miúdo ia aos poucos surgindo diante de seus olhos.
— Só mais um pouco, querida! — Lysandre disse, após ouvir o pedido do médico. — Falta pouco, você está indo bem. — Ele reforçou.
Annelise continuava empurrando, enquanto trincava os dentes com força. Tudo o que conseguia pensar naquele momento, era o quanto queria que o bebê saísse logo de dentro de si. — Eu não consigo! — Ela gritou em tom choroso, sentindo que dor se tornava mais forte, enquanto os ombros do bebê, passavam.
— Consegue sim. Falta muito pouco, ele já está quase todo ao lado de fora. Continue fazendo força, meu amor. — Lysandre disse em tom tranquilizador, afagando os cabelos dela com a mão livre, enquanto continuava segurando a mão dela com a outra.
— Ele já está saindo, senhora Henderson, empurre! — O médico disse em tom autoritário, já segurando o tronco do corpo do bebê. Agora, faltavam apenas as pernas e os pés.
Annelise já estava extremamente cansada! Não aguentava mais fazer tanto esforço. Mas, sabia que era necessário. Teria que aguentar um pouco mais, para que o filho pudesse sair. Então, respirou fundo, fazendo força uma última vez, até sentir que ele finalmente havia saído de dentro de si. Em seguida, ela desabou deitada sobre a maca, tomada pela exaustão.
O médico recebeu o bebê em seus braços, cortando o cordão umbilical. Em seguida, deu um tapa no bumbum de Logan, para fazê-lo chorar. Precisava fazer isso, para que ele expulsasse de seus pulmões, o líquido que o envolvera durante toda a gestação.
O choro do bebê ecoou por todo o quarto. Lysandre não podia acreditar que finalmente o seu filho havia nascido. O obstetra ainda segurava Logan em seus braços, o avaliando por alguns segundos, enquanto o pequeno ainda estava todo sujo. De fato, ele parecia saudável! Era grande para um recém-nascido. — Senhor e Senhora Henderson, parabéns. É um menino grande e saudável. — O médico disse, esboçando um sorriso largo.
Annelise ergueu a parte superior do corpo, ouvindo o choro do filho. Seus olhos marejaram, estava totalmente emocionada. — Eu posso segurá-lo, doutor? — Ela perguntou, sua voz soou embargada.
— Claro! Aqui está ele. — O obstetra se aproximou de Annelise, entregando-lhe cuidadosamente o bebê, que ela envolveu em seus braços.
Ela segurou o filho com todo o carinho do mundo, olhando-o encantada. Acariciou seu rostinho, segurou uma de suas mãozinhas, estava completamente apaixonada por aquela criaturinha em seus braços. — Oi, meu amor... Eu sou sua mãe. Você não faz ideia do quanto eu te amo! Sempre estarei aqui para te proteger. — Ela disse, enquanto ainda afagava o rostinho da criança, que ia se acalmando em seus braços. Os olhos dela transbordavam, não podia evitar. Aquele era o momento mais emocionante de sua vida. — Amor, ele é a coisa mais linda que eu já vi. — Annelise disse, entre soluços, enquanto sentia as lágrimas rolarem por seu rosto.
Lysandre também chorava, nunca estivera tão feliz. Ele se curvou sobre a esposa, beijando-lhe carinhosamente os lábios por um breve momento. Em seguida, afastou o rosto do dela, para beijar-lhe a testa. — É o nosso filho, querida. O nosso garoto. O presente mais lindo, que você já me deu. — Agora era a voz dele que soava embargada. Em seguida, segurou a mãozinha de Logan, vendo quão minúsculos eram seus dedinhos, tão perfeitos. Nunca sentira tanto amor em sua vida, quanto sentia agora, ao ver o filho nos braços de sua esposa. — Olá, pequenino... — Lysandre disse carinhosamente, enquanto sentia as lágrimas molharem seu rosto. — Você sabe quem eu sou? — Indagou. — Eu sou seu pai. Eu sempre vou cuidar de você, te proteger, te aconselhar, enquanto eu estiver aqui. Prometo que jamais o deixarei. Sempre estarei com você. — O rapaz não conseguia evitar os soluços, que surgiam em sua fala, enquanto chorava. Ele, que há três anos atrás estava sozinho no mundo, agora finalmente tinha em sua vida duas pessoas a quem amaria até o fim de seus dias. Percebia como havia valido a pena esperar! Como todos aqueles anos de solidão, agora pareciam apenas fantasmas que ele conseguia afastar de si. Tinha sua família, agora. Isso era tudo o que importava.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...