Na cafeteria, Nina teve um dia cheio. O trabalho dobrava, sem Annelise. Afinal, a chefe estava sempre por trás de tudo, a auxiliando com o os pedidos. De fato, o stress era inevitável! Além disso, se preocupava com a ausência de sua patroa, mesmo que ela tivesse avisado com antecedência.
Ao telefone, Annelise não parecia estar nada bem. Francamente? Nina estranhara o modo como sua voz tremulava. Annelise parecia acometida por uma crise nervosa. O que, por sua vez, já era no mínimo estranho, visto quão calma ela era.
Perguntava-se qual teria sido a urgência, pois Annelise sequer se aprofundava no assunto. Apenas tendo lhe dito ao telefone, que tivera um problema que forçava-a a se ausentar naquele dia.
A garota apenas esperava que o expediente acabasse, para que pudesse ligar para Annelise. Não a via apenas como sua chefe, já havia criado um laço de amizade com ela! Via nela, praticamente uma irmã mais velha que a ajudava em tudo. Isso era nítido, pelo modo como Annelise se recusava a demiti-la, mesmo com a situação lamentável na qual o café se encontrava.
Finalmente o expediente se encerrou. Mas, claro, Nina demorou um pouco mais para ir embora, visto que teria de fechar o café sozinha. O que por si só já era uma droga! Sentia-se desanimada em ter que limpar todas as mesas sozinha. Era muito mais rápido quando Annelise estava lá, para ajudar. Mas, não reclamava, já que gostava de trabalhar ali.
Quando terminou de limpar as mesas, varrer o lugar e lavar as louças, Nina fechou o café, indo até o ponto de ônibus. Por sorte, o ônibus que passaria perto de sua casa estava chegando, assim que ela parou no ponto.
Entrou no veículo, pagou a passagem e procurou um lugar para sentar. E, quando já estava acomodada em um dos bancos, resolveu ligar para Annelise. Queria saber se ela já estava melhor. Mas, principalmente, se iria trabalhar no dia seguinte.
Annelise estava diante o fogão, preparando o jantar. Sabia o quanto Lysandre gostava de massas, então começou a preparar gnocchis para ele. Era uma forma de agradecer por tê-la acolhido. Além, é claro, de agradá-lo.
O cheiro do molho atraiu Lysandre, que caminhou até a cozinha observando Annelise cozinhando, com o avental amarrado na cintura, por cima da camiseta preta e o short branco.
O rapaz sorriu de canto, antes de se aproximar abraçando a moça por trás, beijando-lhe o pescoço carinhosamente. — Hm, o cheiro está ótimo! — Ele disse, ainda envolvendo a cintura de Annelise com os braços.
— Eu espero que o gosto também esteja! — Ela riu, mexendo a panela com uma colher. Parecia bem mais disposta, depois de passar o dia vendo filmes com ele.
Eles nem viram as horas passarem. Nada mais importava, nem mesmo o tempo. Quando estavam juntos, perdiam a noção de tudo o que se passava a sua volta. Principalmente quando estavam tendo um dia tranquilo, depois de tantos momentos turbulentos.
— Tenho certeza de que está. Mas, confesso que a cozinheira me é mais atraente. — Lysandre sussurrou em tom provocativo, antes de rir.
— Que galanteador. — Annelise disse rindo, voltando sua atenção à panela. Todavia, o som do celular vibrando sobre o balcão da cozinha, chamou sua atenção. — Lys, pode atender, por favor? Eu estou com as mãos ocupadas. — Ela pediu, virando o rosto para trás e dando um selinho rápido nos lábios de Lysandre.
— Pedindo assim, é impossível recusar. — Ele disse em tom brincalhão, após retribuir ao breve beijo. Logo, se afastou um pouco de Annelise, caminhando até o balcão da cozinha.
— É a Nina. — Ele disse, ao pegar o celular vendo o nome da garota no identificador de chamadas.
— Vê o que ela quer, por favor? — Annelise virou o rosto para olhá-lo, ainda mexendo o molho com a colher.
Lysandre, então, atendeu o celular colocando-o perto do ouvido. — Alô? — O rapaz disse, aguardando pela resposta da garota.
— Castiel? — Nina perguntou. De fato, aquela não parecia ser a voz do ruivo. Estava muito diferente. Por um momento, chegou até mesmo a acreditar que teria discado o número errado.
— Não, Nina. É o Lysandre. — O rapaz respondeu, em tom amigável. — Como vai? — Ele indagou, sempre da forma mais cordial que lhe era possível.
— Ly-Lysandre?! — A menina corou imediatamente, em meio a um semblante de espanto. — Desculpe! Acho que liguei errado! — Ela ia desligar o celular, quando Lysandre a interrompeu ao outro lado.
— Creio que não, Nina. Deseja falar com a Annelise, estou certo? — O rapaz perguntou, fazendo que Nina voltasse a lhe dar atenção.— Sim, eu quero. Ela está com você? — A garota parecia não conseguir falar com ele, dado o nervosismo que a acometia. Porém, se sentiu mais tranquila ao ouvir a voz de Annelise ao fundo, dizendo: "Pergunte se ela não quer jantar conosco!" Podendo ouvir a voz de Lysandre em seguida.
— Nina, estamos preparando o jantar. Gostaria de nos acompanhar? — Ele perguntou gentilmente.— N-não! Obrigada! É muita gentileza, mas não quero atrapalhar. — Na verdade, ela ainda estava pasma, pelo fato de Annelise estar com ele, naquele momento. Porém, novamente ouviu a voz de Annelise ao fundo, dizendo: "Lys, coloque o telefone em meu ouvido".
Aparentemente Lysandre havia atendido ao pedido de Annelise, pois Nina não tardou a ouvir a voz de sua chefe ao outro lado da linha.
— Nina, isso não foi um pedido. É uma ordem. Venha para cá, ou amanhã estará no olho da rua. — A moça disse em tom autoritário, embora se segurasse para não rir.
— Está bem, Annelise. Onde você está? — Nina perguntou desanimada. Sentia que ela estava blefando, mas na crise em que estava o café, não queria pagar para ver.
— Eu estou no apartamento do Leigh, você sabe onde fica, não? — Annelise indagou, enquanto Lysandre segurava o celular para que ela pudesse falar.
— Sim, eu sei. Acho que consigo chegar aí em uns dez minutos. — Nina respondeu, já se levantando do banco onde estava sentada. Precisaria descer do ônibus e pegar o caminho reverso, para que chegasse ao apartamento de Leigh.
Como prometido, Nina chegou ao local na hora exata. Sentia um grande incômodo em estar ali novamente. Afinal, incontáveis vezes seguiu Lysandre até ali, quando era só uma menina inconsequente, presa a um amor platônico.
Tocou a campainha, esperando por alguns segundos. Estava mais tensa do que nunca, quase ao ponto de sair correndo dali. No entanto, não teve tempo de fazê-lo, quando Lysandre abriu a porta. Nina corou bruscamente ao ver o rapaz. Ainda não era capaz de olhá-lo diretamente. Afinal, a vergonha pelo que fizera no passado, mantinha-se em seu âmago.
— Entre, Nina. Por favor. A Annelise está terminando de arrumar a mesa. Sinta-se à vontade. — Lysandre era sempre amável! Buscava fazer com que a mocinha se sentisse bem, embora ela estivesse nitidamente acanhada.
Ele se afastou da porta, para que ela entrasse. E, tão logo a garota já estava na casa, pareceu ainda mais nervosa. Afinal, por mais que seguisse Lysandre, quando mais nova, jamais imaginara como seria entrar na casa dele.
Annelise veio da cozinha, desatando os laços do avental que usava. — Nina, que bom que você veio! — A moça disse, olhando para a mais nova, parada ainda perto da porta.
— Você ameaçou me demitir! Preferi não correr o risco. — Nina respondeu emburrada.
Isso fez com Annelise começasse a rir, assim como Lysandre que também não conseguiu se segurar.
— Eu não faria isso, você sabe muito bem. — Annelise disse, ainda risonha. — É que eu queria conversar com você, longe do café. — Agora, Annelise desmanchava um pouco o semblante risonho, mas, ainda mantendo um ar suave. — Vamos jantar e depois conversamos, está bem? — Ela perguntou, notando que Nina concordava com a cabeça. Logo, seguiram até a sala de jantar, onde a mesa já estava posta, os esperando.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...