Ficou acertado entre Lysandre e Annelise, que de segunda à quarta-feira, ficariam na cidade cuidando do Café. Então de quinta à sábado, cuidariam da fazenda, voltando para casa no domingo para que pudessem descansar. Seria algo cansativo, não podiam negar. Todavia, sentiam que daria certo, já que ambos estavam dispostos a fazer as coisas funcionarem.
Na quarta-feira, após o expediente com o café, o casal começava a colocar as malas na caminhonete. Estavam bem animados com a viagem; principalmente Annelise, que nunca fora à fazenda do namorado antes. Claro, já tinha ouvido falar bastante a respeito do lugar. Rosalya já frequentara bastante a fazenda, quando os pais de Leigh eram vivos. Porém, a garota sempre dizia que não gostava do lugar, pois era afastado de tudo e repleto de insetos por toda parte. Todavia, Annelise bem sabia que Rosalya odiava qualquer lugar que fosse muito próximo ao campo. Se lembrava nitidamente de como ela fugiu da corrida de orientação.
Ao contrário de Rosalya, Annelise gostava de ficar próxima a natureza. Sempre gostou de acampar com os pais, quando mais nova, além das trilhas que fazia com a tia. Estava bem confiante de que aquela seria uma experiência ótima. Além, é claro, de saber que poderia ajudar o namorado a cuidar da única coisa que lhe restara dos pais.
Quando terminaram de ajeitar as malas ao bagageiro da caminhonete, deixando-as bem presas para que não caíssem, Lysandre abriu as portas da do veículo. Ele sentou ao banco do motorista, enquanto Annelise se sentava no banco do passageiro.
O rapaz parecia um pouco sério, com o queixo metido entre os dedos. O semblante concentrado, demonstrava nitidamente que ele estava tentando se lembrar de algo.
Annelise arqueou a sobrancelha, estranhando o comportamento do namorado. Era nítido que ele estava incomodado.
— Amor? Está tudo bem? — A garota indagou, ainda olhando o semblante preocupado que Lysandre esboçava.
— Eu estou com a sensação de que esqueci alguma coisa... — Ele respondeu. — Mas não sei o quê. — O rapaz completou, com as feições ainda mais sérias.
— Você pegou as chaves da fazenda? — Annelise perguntou.
— Peguei. — Lysandre disse, ao bater a mão no bolso, se certificando.
— Os documentos do carro? — Ela perguntou.
— Sim, estão no porta-luvas. — O rapaz afirmou.
Annelise abriu o porta-luvas, só por desencargo de consciência. Queria verificar se ele não teria esquecido. E, de fato, a documentação estava ali. Até mesmo os documentos pessoais de Lysandre, também estavam. Logo, descartou por completo a hipótese de algum possível problema futuro, relacionado aos documentos.
Ela mesma tinha feito as malas dele, então sabia que ele não esquecera nada do que precisaria levar dentro delas. Agora, também começava a ficar intrigada, se perguntando o que ele teria esquecido que seria tão urgente.
— Você quer entrar e dar mais uma olhada no apartamento? Talvez se lembre o que esqueceu. — Annelise sugeriu. Queria ter certeza absoluta de que não esqueceriam nada.
Todavia, Lysandre olhou para o relógio em seu pulso, negando com a cabeça. — Não, é melhor irmos. Quero chegar lá antes de amanhecer, para que possamos descansar um pouco. Se voltarmos, pode ser que nos atrasemos. — Ele afirmou, ligando o carro.
— Lysandre... É melhor conferir. Você trocou o óleo do motor? — Annelise perguntou, já um tanto ressabiada. Morria de medo que a caminhonete quebrasse no meio da estrada.
— Troquei. — Lysandre respondeu.
— Recalibrou os pneus? — Ela questionou.
— Sim, amor. Eu a levei para revisar anteontem. Está tudo bem com a caminhonete. Ainda assim, não consigo deixar de pensar que esqueci alguma coisa. Espero que não seja nada importante. — Ele disse, enquanto agora começava a retirar o carro da garagem.
— Lysandre, pensa mais um pouco! Tem certeza de que o carro está pronto para viajar? Você conferiu tudo? — Annelise perguntou novamente. Sabia que a memória dele não era confiável.
— Sim, está tudo bem com ele. Eu conferi tudo! Não consigo imaginar o que eu possa ter esquecido. Mas, tenho certeza de que lembrarei quando chegarmos. Acredito que não seja nada relevante. — Ele tornou a afirmar, já começando a seguir com o carro para longe do condomínio.
Annelise, por sua vez, parecia muito mais incomodada do que ele. Conhecia perfeitamente a péssima memória do namorado! Sabia que não seria difícil que ele esquecesse algo vital. Estava torcendo para que aquilo que ele tivesse esquecido não fosse nada demais. O problema, é que ela mesma não conseguia pensar em mais nada, que eles pudessem ter deixado para trás.
Aquela maldita má impressão não abandonava Lysandre. Tinha certeza absoluta de que esquecera algo. E, pelo modo como seu cérebro se esforçava para alertá-lo da gravidade, começou a sentir que era de fato, algo importante.
O rapaz continuava a todo o custo, tentando se lembrar o que teria esquecido. Mas, quanto mais se esforçava, menos era capaz de buscar na memória aquilo que precisaria recordar.
As horas foram passando, enquanto eles ainda estavam na estrada. A preocupação só crescia, de modo que Lysandre continuava se perguntando o que teria esquecido. Todavia, quando o frio gélido da madrugada veio, trouxe com ele a resposta em meio a penumbra crescente.
A caminhonete começou a parar no meio do nada, em uma longa estrada de terra. Annelise percebendo que o carro estava parando aos poucos, virou o rosto para olhar o namorado, que estava pálido como cera.
— O que aconteceu? — Ela indagou, já nitidamente alarmada.
Os olhos dele estavam pousados ao medidor de combustível, que mostrava o tanque totalmente vazio. Sabia que tinha esquecido algo importante! Mas, não imaginava que fosse tão vital.
— Eu... Esqueci de pôr gasolina. — Lysandre respondeu, corando um pouco. Aquele era, de fato, um momento constrangedor.
— Você o quê?! — Annelise disse, aprumando-se no banco onde estava sentada. — Mas você disse que tinha conferido tudo, Lysandre! Como pôde esquecer justamente a gasolina?!! — Ela estava pasma com aquilo. Claro, sabia que ele tinha uma memória horrível, mas nunca imaginou que ele esqueceria algo tão importante. Aquilo, era a prova de que algumas coisas nunca mudavam. Por mais que o tempo tivesse passado, Lysandre continuava o mesmo.
— De Fato, eu sabia que tinha esquecido algo importante. Terei que sair do carro e procurar algum posto de gasolina, ou alguma fazenda onde eu possa arrumar combustível. De todo o modo, precisaremos de ajuda para fazer a caminhonete andar. Foi imprudência esquecer de reabastecê-la. — Ele comentou, nitidamente encabulado. Precisaria dar um jeito de reverter aquela situação constrangedora.
— Me espere no carro, eu vou tentar não demorar. — O rapaz afirmou, enquanto ia soltando o cinto de segurança.
— Mas nem pensar! Eu não vou ficar sozinha aqui no escuro, no meio da estrada, Lysandre. Eu vou com você! — Ela, agora, também soltava o cinto de segurança.
— Não se preocupe! Fique na caminhonete, eu volto logo. — Lysandre tentou argumentar.
— Sem chance! Eu vou junto. Se você se perder aqui no meio do nada, nunca mais consigo te encontrar. Além disso, não tenho a menor ideia de onde estamos. É perigoso! — Ela comentou, já abrindo a porta e saindo do veículo, enquanto colocava sua bolsa no ombro destro. Lá, estariam seus documentos, carteira e o celular. Tudo o que precisaria em caso de emergência.
Lysandre arqueou a sobrancelha ao ouvir o comentário dela, sobre se perder. Não podia negar que ela estava certa, mas, mesmo assim não acreditava que isso iria acontecer em um caminho que conhecia.
— Acha que meu senso de direção é tão ruim assim? — Ele indagou, ao sair do veículo. Mesmo que soubesse de sua facilidade para se perder, não podia negar que aquilo o deixara um tanto incomodado.
— Amor, você se perdia indo para a minha casa, quando éramos adolescentes. Conseguiu se perder no aniversário da Íris! Teve também a corrida de orientação. Você se lembra que ficamos perdidos na mata? Você perdeu o mapa e ainda por cima acabamos entrando em um caminho errado. Quase passamos a noite na floresta, Lysandre! Além disso, só para não deixá-lo esquecer, você perdia o bloco de notas à cada cinco minutos. Então, sim. — Ela respondeu. — Por isso, é melhor irmos juntos. Assim, ao menos, conseguiremos lembrar o caminho. — Annelise insistiu, fazendo com que Lysandre suspirasse irritadiço. Não podia negar que ela estava certa. Além disso, seria imprudente deixá-la sozinha no meio da estrada. Annelise ficaria totalmente vulnerável. Acabou concordando, após pensar brevemente sobre quão arriscado aquilo seria.
— Está bem, então vamos. Acredito que encontraremos algo alguns metros à frente. — O rapaz afirmou, estendendo a mão para que a namorada a segurasse. Logo, entrelaçou os dedos aos dela, começando a caminhar ao lado de Annelise, pela estrada. Precisariam andar rápido, era perigoso ficar vagando por uma estrada deserta, durante a madrugada.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...