Quando voltaram ao café, já estava quase anoitecendo. De fato, o dia fora longo e extremamente cansativo. Estavam esgotados, mentalmente, principalmente Annelise. Aqueles últimos dias foram um pesadelo.
Tão logo vislumbraram a entrada do café, encontraram o letreiro na porta, escrito: "Fechado". Ler aquilo, deixou Annelise desanimada. Era uma sensação péssima a de ver sua cafeteria fechada. Sentia um vazio no peito, uma tristeza profunda, uma dor absoluta.
Abriu a porta, olhando tristemente cada uma das mesas vazias. Afinal, antes de tudo aquilo acontecer, estavam cheias de clientes. Agora, era como se o lugar estivesse abandonado. Quando acreditou que estava se saindo bem, fora derrubada pela insanidade que devastava a mente conturbada, de Castiel.
Ela foi até a cozinha, já esperando encontrar ainda os rastros de destruição naquele lugar. Todavia, teve uma agradável surpresa ao encontrar tudo limpo, enquanto Nina secava e guardava as poucas louças que haviam restado. De fato, o lugar estava tão limpo e impecável, quanto Annelise encontrara na hora em que abriu o café, naquela manhã.
Aquilo fez com que ela se sentisse bem melhor! Afinal, apesar do prejuízo daquele dia, as coisas pareciam estar começando a ficar em ordem. Era um alívio e tanto, ver que Nina estava conseguindo arrumar a bagunça.
— Você conseguiu arrumar tudo isso sozinha?! — Annelise ainda olhava para sua cozinha, agora já esboçando um sorriso suave. Nina havia feito um excelente trabalho ali, enquanto ela estava na delegacia. Aquilo a fazia se sentir um pouco mais tranquila.
A garota guardava algumas xícaras, quando percebeu que a chefe havia entrado ali. Virou-se para fitá-la, notando que seu olhar parecia menos triste e perdido, que outrora.
— Não foi nada demais. Na verdade, não era tão ruim quanto pensávamos. Os danos não foram tão grandes, só uma meia dúzia de xícaras e pratos. Ao menos, os clientes não saíram sem pagar, então não tivemos tanto prejuízo. Acredito que será mais fácil repor as coisas. — A garota afirmou, voltando para a pia onde estavam algumas louças já lavadas. — Mas, e então? Como foi lá? O imbecil do Castiel vai ficar preso? Ele vai ter que pagar os danos causados? — Nina indagou, enquanto agora secava mais uma xícara, a levando para o armário.
— Ainda não sabemos. Nós fomos embora quando o Nathaniel o chamou para conversar. — Annelise respondeu.
— Mas, esperamos que ele pague por seus atos. Ele não pode ficar impune, Nina. O que o Castiel fez foi gravíssimo! Ele além de vandalizar o café, tentou agredir a Annelise. Se ele não pagar por isso, agora, poderá se sentir livre para fazer algo pior. Ele precisa sentir na pele o peso de tudo o que fez. — Lysandre completou.
Por mais que Annelise não quisesse se ver presa em mais uma confusão, sabia que ele estava certo: o Castiel precisava pagar pelo que fez. Sentia um medo real de que ele continuasse descontrolado daquele jeito, acabando por fazer algo pior. Não queria esperar que isso acontecesse.
— Eu concordo com o Lysandre, o Castiel não pode ficar impune. Ele está fora de si! Precisa ser responsabilizado por tudo o que aconteceu. Quando eu saí de casa, ele segurou meus pulsos com tanta força, que acabou me machucando! Tenho certeza de que teria me agredido, caso eu não tivesse conseguido me soltar. Aqui, foi a mesma coisa. Ele tentou me bater e teria conseguido se o Lysandre não o tivesse segurado. Tenho medo do que ele possa acabar fazendo em um próximo surto. Nunca imaginei que ele fosse capaz de algo assim, de verdade. — Annelise ainda estava inegavelmente aflita, com as coisas que aconteceram nos últimos dias. Era triste imaginar quão perigoso Castiel havia se tornado. Sentia um medo genuíno de acabar encontrando com ele, a qualquer momento.
— Eu espero que ele fique preso mesmo, por um bom tempo! Só assim para ele entender que não pode fazer o que bem quiser. — Nina afirmou, secando as mãos em um pano de prato.
— Eu concordo. Mas, não quero mais pensar nisso, por enquanto. Já passei praticamente o dia todo na delegacia, por causa dele. Só quero esquecer isso. Vamos terminar de arrumar a cozinha e vamos para casa. Melhor deixar o café fechado, hoje. — Annelise suspirou novamente, ainda um tanto chateada por toda aquela situação.
— Vai para casa, nós cuidamos da arrumação do café. Você está exausta, Annelise. Imagino que precise de um tempo sozinha. — Lysandre disse, afagando os braços dela.
— Não. Vocês já fizeram muito, por mim. É o meu café! Eu tenho que cuidar dele. — Ela rebateu. Aquele lugar era sua vida! Sua maior responsabilidade. Não poderia deixar que outras pessoas fizessem seu trabalho.
— Está tudo bem, Annelise. Nós damos conta! Não falta muito o que fazer e você precisa mesmo de um descanso. Sua cabeça deve estar uma bagunça. — Nina disse, reforçando o argumento de Lysandre.
— Nada disso! É a minha responsabilidade cuidar de tudo. — A moça tornou a afirmar. Não queria deixar que eles fizessem todo o trabalho.
— É nossa responsabilidade. Nós somos um time, lembra? Estamos juntos nessa! Nós três! Vai ficar tudo bem, Nina e eu damos conta. Você pode ficar tranquila. — Ele tinha um tom de voz tranquilizador, ao dizer aquelas palavras. Sabia que aquilo fora um golpe muito duro, para que ela suportasse sozinha. Precisava mostrar a ela, que não estava desamparada. — Vá para casa, eu te encontro lá. — O rapaz disse, ao dar um beijo carinhoso na testa de Annelise. Compadecia-se do inferno pelo qual ela estava passando.
Apesar de contrafeita, Annelise acabou cedendo. De fato, estava com um terrível esgotamento mental; precisava descansar antes que acabasse tendo uma crise nervosa. Então, acabou aceitando o conselho de Lysandre e voltando para casa.
Porém, ao chegar no apartamento, percebeu que não conseguiria ficar quieta. Estava elétrica, apesar da exaustão. Talvez fosse a ansiedade gritando! Atormentando-a! Não deixando que seu corpo descansasse.
Se deu conta de que o lugar estava desmazelado, desde a última visita de Rosa e Leigh. Precisava dar uma boa organizada ali e fazer uma faxina. Talvez, isso ajudasse a aliviar sua ansiedade além de fazê-la se sentir melhor. Afinal, se Lysandre estava cuidando de seu café, nada mais justo que ela cuidasse da casa dele. Era uma troca. Se ele cuidava dela, então ela cuidaria dele. Além do mais, estava morando ali. Não custaria nada limpar e arrumar o lugar. Certamente Lysandre não tivera tempo de fazer aquilo, já que não parara um segundo desde que voltara à cidade.
Trocou de roupa, colocando uma camisa larga e um short velho, começando a tirar o pó das coisas. Havia muito o que ser feito, mas presumiu que daria conta. Afinal, o apartamento não era tão grande. Aquilo era o mínimo que poderia fazer, para agradecer todo o apoio que estava recebendo, nos últimos dias.
De fato, os afazeres eram maiores do que ela imaginava. Ainda assim, não teve dificuldade em fazê-los. Na verdade, não era nada com o que não estivesse acostumada. Lavou os dois banheiros da casa, tirou pó dos móveis, aspirou o pó dos tapetes, passou pano no chão, limpou a cozinha e a sala de jantar... Nada que fugisse da normalidade, ou que desse um trabalho excessivo. Na realidade, a maior parte da bagunça ali, fora deixada por Rosa. Chegou facilmente à conclusão de que Lysandre era um rapaz muito organizado, de modo que não deixava sua bagunça para trás. Isso seria algo que facilitaria bastante a convivência, enquanto ela permanecesse ali.
Quando Lysandre chegou em casa, já passava das dez da noite. Estava exausto! A limpeza do café fora mais longa do que ele e Nina imaginavam. Na verdade, encontraram mais cacos de vidro embaixo dos móveis da cozinha, de modo que tiveram que afastar quase todos. Foi um enorme alívio quando terminaram de arrumar tudo.
Tão logo Lysandre entrou, se deparou com a casa impecavelmente arrumada. Demonstrando claramente que Annelise não teria descansado, como ele pediu.
— Você não tem jeito... — Lysandre disse baixo, negando com a cabeça em meio a um riso suave. Tinha certeza de que Annelise não iria ficar parada. A conhecia bem o suficiente para saber. Todavia, não poderia negar que ficara feliz com o zelo dela. De certa forma, podia sentir todo o carinho da moça, em cada parte daquele apartamento, que fora limpo com tanto capricho.
Ao entrar na cozinha, encontrou um prato sobre a bancada, coberto por uma tampa de alumínio oval. Ao lado do prato, um pequeno bilhete, no qual o rapaz pôde identificar rapidamente a caligrafia de Annelise. Naquelas linhas, ele pôde ler a mensagem que dizia:
"Fiz seu jantar, espero que goste. Muito obrigada por cuidar de mim, Lys. Você é maravilhoso."
O rapaz esboçou um sorriso largo, levantando a tampa e se deparando com um prato de raviólis ao molho sugo, cobertos com plástico filme. Logo, Lysandre retirou o plástico, levando o prato ao micro-ondas, para esquentar sua refeição. Era inegável que estava feliz, ao ver que Annelise se preocupava com ele.
Tão logo terminou de jantar e lavou a louça, Lysandre resolveu tomar um banho. Presumia que Annelise já estivesse adormecida, então evitou fazer o máximo de barulho. Abriu a porta do quarto onde ela estava alojada, entrando pé ante pé, para que não a incomodasse. Afinal, tão logo adentrou ao quarto, viu-a deitada na cama, dormindo profundamente.
O rapaz sorriu ternamente, olhando-a dormir por alguns breves instantes. Ela parecia tão tranquila... Tão em paz. Era como se por alguns instantes, tivesse esquecido de todos os seus problemas. Isso era bom. Lhe partia o coração vê-la tão angustiada, como estava durante aquele dia infernal.
Percebeu que os braços dela estavam descobertos, totalmente expostos ao clima gélido daquela noite. Então, acabou aproximando-se dela e cobrindo-a melhor com o edredom, para que não sentisse frio. Logo, voltou a gaveta da cômoda, pegando roupas limpas para que pudesse se trocar após o banho. Em seguida, saiu rapidamente dali, indo se banhar no outro banheiro do apartamento. Não queria invadir o espaço de Annelise.
Após um banho demorado, Lysandre se ajeitou no sofá para dormir. Estava tão exausto, que apagaria rapidamente. E, foi exatamente o que aconteceu. O rapaz mal havia se deitado, quando o sono o alcançou, fazendo-o dormir de modo profundo.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...