No dia seguinte, no horário de almoço, Lysandre e Annelise foram até a casa que estava à venda. Era bem verdade que estavam ansiosos para ver o lugar e saber se era algo que atenderia suas necessidades, além de caber no orçamento que tinham. Francamente, esperavam que fosse algo bom. Ou, ao menos, alguma coisa que pudessem reformar ao seu gosto.
Quando chegaram lá, foram recepcionados por um homem que tinha aproximadamente a mesma idade que eles. Um rapaz alto, de cabelos castanhos, olhos verdes e sorrisos fáceis, metido em um terno preto com "riscos de giz". Ele saudou o casal, tão logo chegaram à porta da casa, os fitando com aquele típico sorriso amplo, que todo vendedor lança a algum cliente em potencial. — Presumo que você seja o Lysandre que agendou a visita, não? — O rapaz indagou, estendendo a mão para ele.
Lysandre apertou prontamente a mão do rapaz, a soltando em seguida. — Sim, exato. Você deve ser o Trevor, correto? — Lysandre indagou.
— Sim. Eu vou apresentar a vocês o imóvel. Porém, caso não seja de seu agrado, teremos outras opções, que também são muito boas. — O rapaz afirmou. — Tenho certeza de que algum deles agradará você e sua irmã — O vendedor disse, segurando a mão de Annelise e beijando-a ao dar uma piscadela para a garota
O comentário dele fez com que Annelise arregalasse os olhos, totalmente constrangida, puxando a mão bruscamente. Enquanto Lysandre, imediatamente franziu o cenho em uma expressão irritadiça. — Ela é minha noiva. E, exijo que haja o mínimo de respeito com ela. Sendo assim, peço que não a toque. — O rapaz respondeu, fazendo questão de pôr ênfase na palavra "noiva". Achara muita ousadia da parte do corretor.
Trevor pareceu surpreso ao ouvir o que Lysandre dissera, mas isso não o impediu de esboçar um sorriso cretino. — Noiva? Ah, que pena. Parece tão nova para se amarrar. — Ele disse. — Bem, enfim. Por favor, entrem. A casa só precisa de algumas pequenas reformas, mas é um ótimo imóvel. — Trevor comentou, dando passagem ao casal para que entrassem na casa. Lysandre fechou o punho com força, olhando severamente para o corretor de imóveis, guiando a noiva com a outra mão, no intuito de entrar na casa.
Todavia, quando o fizeram, se depararam com um imóvel em condições lamentáveis. Minúsculo! Cada cômodo era um cubículo! Além disso, conforme examinavam o lugar, viam que todas as paredes estavam cobertas de mofo, causado por infiltrações.
O piso, estava solto, de modo que revelava que aquele era um imóvel extremamente velho, completamente diferente do que viram no anúncio. Logo, perceberam que caso comprassem aquela casa, gastariam muito mais para reformar, do que se comprassem uma casa nova. Afinal, aquilo estava cheio de goteiras! As paredes pareciam prestes a ruir! Seria inconcebível que comprassem aquela casa. Ela poderia desabar sobre suas cabeças. Não, de forma alguma. Não precisaram nem falar nada! Apenas o modo como um olhou para o outro, já deixou bem claro que ambos pensavam o mesmo: não iriam gastar o pouco dinheiro que tinham, com aquele lugar.
Lysandre ainda parecia bastante incomodado pela forma como o corretor a todo o momento se aproximava de Annelise. De modo, que a moça sempre tinha que o repelir. Aquilo contribuiu para que o rapaz tomasse a mão da noiva, tirando-a de dentro daquela casa. Aquilo já era demais.
O corretor ainda entregou um cartão à Annelise, dizendo que ali estava seu telefone, para que ela o procurasse caso precisasse de qualquer coisa. E, claro, Lysandre tomou o cartão da mão dele, o olhando com nítida raiva. Era, de fato, muita audácia ver um homem cantando sua mulher, em sua frente. Amassou o cartão, jogando-o em uma caçamba de lixo, puxando Annelise pela mão em direção ao carro. Esperava nunca mais ver aquele sujeito.
— Mas que camarada mais desagradável! Quanta audácia! — Lysandre disse em tom regado a uma irritação latente. — Não fecharemos negócios com ele em hipótese alguma! Este sujeito é deveras desrespeitador. — Lysandre ainda parecia queimando por dentro, embora buscasse manter seus modos polidos.
— Eu concordo plenamente. Não compraria com ele sequer uma bala. — Annelise respondeu. Assim como o noivo, ficara enojada com a atitude daquele vendedor inconveniente.
Quando chegaram à caminhonete, pareceram um tanto quanto frustrados. Aquela visita fora uma total catástrofe! Não só pelo imóvel, como pelo corretor inconveniente. Não podiam negar que aquilo fora desanimador. Mas, não tinham planos de desistir. Isso ficou muito claro, quando Lysandre ao abrir a porta do carro para a namorada, esboçou um sorriso encorajador, notando o desânimo que a acometia. — Vamos continuar pesquisando. Tenho certeza de que encontraremos algo melhor. — Ele disse, antes de beijar a testa da noiva, do modo mais carinhoso possível.
Annelise agora, esboçou um sorriso pálido, porém, algo que demonstrava que ela havia ficado um pouco mais animada com o comentário dele. — Sim. Há vários imóveis pela cidade. Se encontramos aquele apartamento que estamos alugando, tenho certeza de que encontraremos algo bom para comprar. Vamos dar uma passada na banca de jornais, quem sabe não encontremos algum anúncio interessante? Foi assim que encontramos o apartamento. — Annelise sugeriu.
— Acho uma excelente ideia. Assim, poderemos ir vendo com calma, até encontrarmos alguma coisa que nos agrade e caiba em nosso bolso. — Lysandre afirmou. Em seguida, Annelise entrou no carro, sentando no banco do carona, enquanto Lysandre se dirigia ao banco do motorista.
Como imaginaram, nos classificados encontraram vários anúncios de casas e apartamentos para vender. Foram em todos os lugares possíveis, ao decorrer daqueles cinco meses. Sempre encontrando um imóvel mais precário que o outro. O que já era de se esperar visto o dinheiro que tinham. Logo, foi a vez de começarem a ver terrenos. Imaginaram que seria algo mais em conta, embora tivessem de construir do zero. A vantagem nisso, era que Leigh havia de fato, permitido que ficassem em seu apartamento, enquanto procuravam algo para comprar. Então, não precisaram pagar aluguel por algum tempo. O que, acabou fazendo com que o casal conseguisse uma verba melhor.
Mas, não podiam negar que aquela busca estava se tornando cada dia mais cansativa. Afinal, a cada anúncio enganoso, se sentiam cada vez mais distantes da realização de suas metas. Porém, em um dia, quando já estavam quase desistindo disso e optando por irem para a fazenda, a sorte pareceu sorrir-lhes.
Encontraram no jornal, o anúncio de uma casa recém construída, mas que estava precisando de acabamento. Um lugar que estava sendo construído, mas o dono parou pela metade já que tinha outros imóveis que para vender. Por isso, estava cobrando um valor muito abaixo do que o imóvel valia, já que estava quase incompleto. O anúncio dizia que se tratava de um terreno amplo, com espaço suficiente para ampliar a casa. O que, deixou Lysandre um pouco intrigado. Porém, não custava ver.
Quando foram até lá, ficaram surpresos! Era exatamente como dizia o anúncio! O que, por si só, já era uma coisa boa. A casa já contava com dois quartos, uma sala, cozinha e banheiro. Todos recém feitos. De fato, faltava apenas a questão do acabamento.
Porém, Lysandre ainda parecia um pouco preocupado com a questão da legalidade do terreno. Portanto, pediu ao dono uma cópia da escritura, para que pudesse verificar no cartório de imóveis, junto com a cópia de toda a documentação dele. Não estava disposto a cair em qualquer tipo de golpe. Surpreendentemente, estava tudo certo! Era animador! Fecharam negócio imediatamente, tendo uma agradável surpresa ao ver que as reservas que ambos tinham, já eram suficientes para o pagamento de quase o valor total do imóvel. Sendo assim, as parcelas ficaram além de baixas, em uma quantidade pequena. Acabariam o quitando rápido, talvez coisa de um ano ou dois no máximo. Era uma notícia animadora, de fato.
Tão logo fizeram o contrato e deram entrada na documentação, começaram a planejar o que fariam na casa. O primeiro passo, seria que voltassem ao imóvel, para ver o que seria preciso fazer e assim, planejarem direito.
Haviam combinado, de casarem depois que a casa ficasse totalmente pronta. Assim, poderiam fazer tudo com calma, em seu tempo, tendo a certeza de que no futuro, teriam algo com a cara dos dois. Sendo assim, desenharam exatamente como seria a casa deles. Planejavam juntos, a casa de seus sonhos. Eles tinham muitos planos! Muitas metas! Muito o que ser feito.
Naquela manhã de domingo, chegaram cedo à casa que haviam comprado. Queriam começar logo a reforma. Na caçamba da caminhonete, estavam as ferramentas de Lysandre, além de alguns sacos de cimento e areia, que seriam usados para rebocar as paredes e assentar o piso da garagem. Teriam muito trabalho com aquela casa, não podiam negar. Mas, valeria à pena.
Quando desceram do carro, se depararam com a residência simples, sem fiação elétrica, forro ou até mesmo reboco. Basicamente, era só a estrutura da casa. Mas, que em breve, se tornaria o cantinho deles.
Lysandre fechou as portas do carro, enquanto Annelise ia até a caçamba, buscar as ferramentas para ajudá-lo. Ela parecia animada em começar aquela nova fase.
— É bem modesta. — Lysandre disse, ao referir-se a casa, pegando as ferramentas das mãos da noiva, já que eram muito pesadas.
— Eu a acho perfeita para o começo das nossas vidas. — Annelise afirmou, sorrindo de forma ampla. O comentário da noiva, fez com Lysandre também sorrisse. Gostava de vez como ela nunca desanimava. Mesmo, que soubesse que teriam um trabalho árduo pela frente.
De fato, ele estava certo. Seria complicado terminar de arrumar a casa. Ainda mais, que eram apenas os dois ali, só por quatro dias por semana. Isso fez com que o tempo de reforma fosse se prolongando, já que não contavam com mão de obra externa.
Chegavam às seis da manhã na casa e saíam de lá quase sete da noite. Passavam o dia fazendo e carregando massa, assentando piso, colocando forro... Lysandre até mesmo teve de preparar toda a fiação da casa. Por sorte, seu pai além de fazendeiro era um bom eletricista, que o ensinou tudo o que precisava saber. Então, não foi complicado montar a fiação da casa. Claro, vez ou outra tomava algum choque, mas nada muito grave. Era o preço que pagavam por fazerem tudo sozinhos. Mas, o que importava era que estavam juntos! Que tinham um ao outro! Que trabalhavam lado a lado, para que sua casa ficasse pronta para quando casassem.
Um ajudava o outro o tempo todo. Na hora de colocar o forro, os azulejos, os pisos, os lustres, pintar... Tudo era feito em equipe. Até era divertido quando tinham de pintar as paredes, pois sempre acontecia uma guerra de tinta, na qual ambos eram perdedores. Era sempre um momento de descontração, em que ambos se permitiam rir. Sentiam que esses momentos em que trabalhavam juntos ali, serviam para aproximá-los cada vez mais. E isso, era ótimo.
Quando chegava ao fim do dia, estavam exaustos. Tudo o que queriam, era dormir. Mas, sabiam que no dia seguinte começaria tudo de novo. E, mesmo que fosse exaustivo, estavam felizes. Afinal, viam seu futuro ali.
As semanas passaram, assim como os meses. Tudo fora tão rápido, que sequer viram o tempo passar. A verdade, era que estavam trabalhando na reforma de sua casa há um ano. Só perceberam isso, no final de uma tarde de março, quando Lysandre em uma escada, terminava de colocar as lâmpadas em um lustre de cristal, cujas pedrarias desciam em cascata. Aquele, era o último toque que precisariam dar. Sua casa estava pronta.
— Terminamos! — Lysandre disse, descendo da escada, enquanto Annelise a segurava para que o noivo não caísse.
— Nem acredito que nossa casa está pronta! — Ela afirmou, no auge de sua animação. Afinal, agora poderiam se mudar e dar prosseguimento nos preparativos do casamento, que ficaram estagnados.
— De fato, demorou bastante, mas valeu a pena. Está exatamente como planejamos, em cada mínimo detalhe. Agora, só temos que mobiliar e já estará pronta para que entremos. — Lysandre afirmou, quando seus pés finalmente tocaram ao piso de madeira.
— Valeu a pena cada segundo. Agora estamos mais perto do que nunca, de finalmente juntarmos as escovas de dentes. — Annelise disse, abraçando o noivo lateralmente, enquanto olhava para todo o trabalho que tiveram.
Lysandre sorriu, envolvendo os ombros da noiva com o braço, beijando-lhe o topo da cabeça em seguida. — Nunca estivemos tão perto. — Ele disse. — Agora que estamos mais tranquilos quanto a isso, podemos marcar uma data.
— Acho uma excelente ideia. Com toda a correria da reforma, não tivemos nem mesmo a festa de noivado. — Ela comentou, rindo.
Lysandre arregalou os olhos, se dando conta de que aquilo era verdade. Não tiveram tempo para um noivado oficial. — O que acha de darmos uma pequena recepção no café, apenas para os amigos mais íntimos? Assim não passará em branco. — Ele sugeriu.
Annelise virou o rosto para olhar o namorado, ao ouvir a sugestão dele. Era algo interessante. — Gosto da ideia. Vamos nos organizar para fazer algo bem simples, no mês que vem. — Annelise comentou, ainda abraçada a ele.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...