Coração dividido.

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Estavam tão próximos naquele abraço, que já não havia mais distância alguma entre os corpos. Os rostos estavam quase encostados, quando Annelise tornou a olhá-lo nos olhos.

Lysandre subiu a destra pelos cabelos da moça, os afagando suavemente, enquanto seus olhos buscavam pelos olhos dela. Tudo o que queria, era que o tempo parasse. Congelasse, naquele momento! Para que pudesse ficar assim, para sempre.

Ele foi aproximando mais o rosto, de modo que seu nariz tocou ao dela. Podia sentir a respiração quente e ofegante, que escapava pelos lábios de Annelise. Seus olhos pairaram sobre aqueles lábios róseos, entreabertos, que pareciam o chamar.

Movido pelo impulso, Lysandre aproximou mais o rosto do dela, de modo que os lábios quase se tocassem. De fato, eles já estavam entreabertos, e os olhos fechados. Todavia, Annelise afastou o rosto, levando uma das mãos ao peito de Lysandre, o repelindo.

O rapaz reabriu os olhos, um tanto confuso. Não entendia o motivo pelo qual fora repelido. — Algum problema? — Ele perguntou, deslizando o dorso na mão pela bochecha dela.

— Lysandre, isso é errado. Eu estou com o Castiel, agora. Não posso fazer isso com ele. Não seria certo. — Ela disse, entre suspiros desanimados.

— Tudo bem. Você tem o seu tempo, Annelise. Não vou te pressionar, tem minha palavra. — Lysandre agora, após dizer isso, deu um beijo carinhoso na testa de Annelise, antes de se afastar um pouco.

— É melhor eu levá-la para casa. Já é quase meia noite, imagino que o Castiel já deva ter chegado. — Ele esboçava um sorriso suave, que mostrava quão sem graça havia ficado com aquela situação. Se achava um idiota por agir de modo tão errado. Logo ele que achara deplorável a atitude de Castiel, acabara de agir da mesma forma.

Guiou Annelise para fora do parque, voltando pelo caminho por onde vieram. Precisava buscar a caminhonete no estacionamento. Durante todo o caminho, Lysandre mantinha as mãos nos bolsos da calça, caminhando em um silêncio constrangedor.

Annelise também não se atrevia a dizer uma só palavra. Sua mente estava uma bagunça! Não sabia o que fazer, muito menos o que pensar. Nunca passara por algo semelhante. Era angustiante demais.

Durante todo o trajeto até sua casa, Annelise continuou calada. De fato, só abria a boca para falar para Lysandre onde deveria entrar com o carro. Aquela situação era incômoda para os dois, que pareciam extremamente sem jeito.

Quando chegaram na frente da casa onde Annelise morava com Castiel, Lysandre parou o carro. O silêncio ainda reinava ali; era um tanto incômodo. Ainda não conseguia olhar Annelise diretamente.

— Olha... — Começou, abrindo o porta-luvas e retirando um bloco de notas e uma caneta. Em seguida, anotou um telefone na página em branco. — Aqui está meu número. Se quiser conversar, pode me ligar ou mandar uma mensagem, está bem? — Lysandre entregou o pedaço de papel a Annelise, que o segurou, colocando no bolso da calça que usava.

— Tudo bem. Obrigada pela noite. — Ela disse em tom um tanto sério, abrindo a porta do carro. Saiu do veículo, dando uma última olhada para Lysandre, que continuava parado ali. Em seguida, abriu a porta da casa, entrando.

O rapaz permaneceu ali ainda por alguns segundos, refletindo sobre o que havia feito. Sentia-se culpado! Não conseguia compreender o que o levou a agir daquela forma.

Deslizou as mãos pelos cabelos, segurando-os entre os dedos, enquanto ainda pensava sobre sua atitude estúpida. Agora, mais do que nunca, sentia medo de tê-la perdido para sempre.

Não tinha mais o que fazer ali. Era inútil continuar parado na porta da casa dela. Por isso, religou o carro, saindo daquele lugar. Precisava descansar um pouco, e reordenar suas ideias.

Annelise ficou encostada na porta da casa, ao lado de dentro, por alguns minutos. Nunca estivera tão confusa em toda a sua vida. Tudo o que havia acontecido naquela noite, fora o suficiente para dar um nó em sua mente, de modo que ela não era capaz de desatar.

Não queria ficar pensando nisso. Precisava arrancar Lysandre de seus pensamentos. Então achou que seria melhor tomar um banho e depois dormir. Afinal aquele dia havia sido cheio demais.

O apartamento de Leigh, não era muito longe dali. Ele o havia emprestado ao irmão, para que ficasse hospedado enquanto estivesse na cidade. Afinal, Lysandre saberia como cuidar do lugar. Rosalya preferira manter o imóvel, ao invés de vendê-lo, para que pudessem usá-lo quando estivessem na cidade. Por sorte, Lysandre ainda tinha a cópia da chave.

Lysandre entrou no apartamento, carregando as malas que trouxera consigo. Era estranho estar de volta. O lugar ainda parecia exatamente igual, a como era a última vez em que lá esteve. Era nostálgico, não podia negar. Sentia-se quase em uma viagem ao passado.

Caminhou em direção ao seu antigo quarto, tendo que passar pela sala. Em uma breve olhada, viu uma enorme moldura oval na parede, contendo um retrato de família. Era capaz de reconhecer Leigh, Rosalya, e Thia recém nascida, nos braços de Rosa. Aquela imagem mexeu consigo. Afinal, vendo aquilo sentia-se um intruso naquele lugar. Era como se jamais tivesse pertencido a família.

Negou com a cabeça, entrando em seu quarto, reparando que ele agora estava totalmente enfeitado com brinquedos e tons de rosa. Aparentemente, o irmão não esperou nada, para transformar o quarto nos aposentos de Thia. Olhando aquele universo cor-de-rosa, repleto de bonecas, bichos de pelúcia e flores, Lysandre se sentiu descartado mais uma vez.

Suspirou. Teria de usar o quarto do casal, mesmo sendo de seu desagrado. Era melhor do que dormir na sala. Claro, Rosalya não poderia sequer sonhar que ele dormiria em sua cama. Conhecendo a cunhada como conhecia, estava certo de que ela ficaria furiosa.

Mesmo a contragosto, se dirigiu ao maior quarto do apartamento. Estava cansado, precisava desfazer as malas, tomar um banho e dormir. Já havia passado por decepções demais, naquele dia.

Depois que terminou de colocar as roupas nas gavetas da cômoda, resolveu tomar um banho. Precisava disso, depois do dia cansativo. Afinal, passara praticamente o dia todo na estrada. Assim, pegou um pijama, uma toalha e foi para o chuveiro.

Annelise, deitada em sua cama, rolava de um lado para o outro. Não conseguia dormir, mesmo estando exausta. Diferente de Castiel, que dormia profundamente.

Vez ou outra, ela se virava para olhá-lo, sentindo-se incomodada por sua presença ali. Não era com ele que queria estar. A volta de Lysandre mexera consigo, de modo tão intenso, que ela agora mais do que nunca tinha certeza de que era com ele que ela queria estar deitada.

Acreditou, que com o tempo, acabaria amando Castiel. Mas, os anos foram se passando, e o sentimento jamais veio. Claro, o respeitava! Tinha um carinho enorme por ele. Todavia, aquilo não era amor.

Não conseguia parar de pensar em Lysandre, e na vontade que sentia de tê-lo beijado. Só queria que a situação fosse diferente. Se não estivesse comprometida, não tinha dúvidas de que teria se atirado aos seus braços. Principalmente, depois de conhecer todas as razões para que ele tivesse de partir.

Mais do que nunca, sentia que o amava. Sentia, que precisava dele. Seu coração chamava por Lysandre! Implorava por seu beijo! Por seu toque! Por seu amor. O que sentia naquele momento, era a mesma paixão arrebatadora, que sentira em sua adolescência. Nada havia mudado! Ainda o amava com desespero.

Deu uma última olhada em Castiel que continuava adormecido. Ele havia chegado em casa antes dela. Certamente, teria se cansado de esperá-la. Estava certa de que isso acarretaria em uma briga, ao amanhecer. Aquelas mesmas brigas, que já estavam desgastando a relação.

Virou-se novamente para o seu lado da cama, esticando a mão até a mesinha de cabeceira, pegando seu celular. Já havia passado o número de Lysandre para os contatos, antes de se banhar. Então, não fora difícil encontrar o contato do rapaz.

Vez, ou outra, olhava para trás, para ter certeza de que Castiel ainda dormia, enquanto ela ia digitando a mensagem, a qual apagara diversas vezes. Não tinha certeza se era uma boa ideia. Todavia, o desejo de falar com Lysandre, fez com que ela acabasse enviando a primeira mensagem.

"Oi, aqui é a Annelise. Ainda está acordado?"

Esperou por alguns instantes, olhando ansiosamente para a tela do celular. Quase não podia respirar, tamanho nervosismo por esperar a resposta de Lysandre.

Lysandre havia acabado de sair do banho, apenas com a calça de seu pijama, secando os cabelos com a toalha. O celular começou a vibrar em cima da cama. Pegou-o rapidamente, desbloqueando a tela. Um sorriso bobo se formou aos lábios, ao ver que era uma mensagem de Annelise. Tratou de responder o mais rápido possível.

"Oi! Estou sim. Tive de invadir o quarto do Leigh, já que o meu se tornou o mundo cor-de-rosa da Thia. rs
Está sem sono?"

Enviou aquela mensagem curta, se sentando na beirada da cama, esperando pela resposta da moça. Não demorou para que seu celular notificasse uma nova mensagem.

"Sim, não consigo dormir de jeito nenhum. Minha cabeça está cheia."

Ele leu a resposta dela, parecendo um tanto curioso. Logo, começou a digitar a próxima mensagem.

"Mesmo? No que está pensando?"

Lysandre enviou a mensagem, esperando pela resposta dela. Logo, o celular vibrou novamente em sua mão, avisando-o que mais uma mensagem havia chegado.

"Sei que é errado, mas desde nossa conversa no parque, eu não consigo parar de pensar em você. Lysandre, saiba que eu sinto o mesmo. Eu te amo! Nunca deixei de amar. Mas, quero resolver as coisas da forma certa."

A resposta de Annelise, fez com que Lysandre ficasse totalmente surpreso. Afinal, ela o havia dispensado no parque. Não poderia negar que ler aquilo, o deixou extremamente feliz, ainda que soubesse que era errado. Mesmo assim, tratou de começar a escrever rapidamente uma resposta. Não podia conter a animação que o invadia, conforme lia e relia aquelas linhas, que preenchiam seu âmago, de felicidade.

"Annelise, como eu lhe disse: você tem o seu tempo. Jamais a pressionarei. Sei quão complicada está a sua situação com o Castiel. Como você mesma disse: não é certo com ele. Esperarei que tudo esteja resolvido, não se preocupe. Ainda assim, mesmo crendo que esteja sendo precipitado; eu gostaria de vê-la amanhã. Será que eu posso buscá-la no trabalho, para que possamos almoçar juntos?"

Ele enviou a mensagem, parecendo mais tenso que antes. Estava receoso de que ela fosse recuar, ou pedir para que ele esquecesse tudo o que ela havia dito. No entanto, quando a resposta chegou, o coração de Lysandre pareceu quase pular para fora do peito.

"Claro! Eu te espero amanhã, então. Tenta descansar um pouco agora, ok? Até amanhã, Lys."

Lysandre sorria abobalhado, ainda olhando para a tela do celular. Não podia evitar! Apesar do dia horrível que tivera, aquelas mensagens faziam tudo valer a pena.

Todavia, o sorriso se dissipou, ao lembrar que Castiel acabaria machucado. Mesmo que o rapaz tivesse traído sua confiança, Lysandre não queria fazê-lo sofrer. Precisariam ser honestos rápido, com ele. Caso protelassem, ou agissem por suas costas, tudo poderia ser pior. Conversaria com Castiel assim que possível, e abriria o jogo.

A roseira e os espinhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora