Quando acabou a sessão de autógrafos, Castiel e Montsserrat foram a um barzinho que havia ali nas redondezas. Um lugar calmo, discreto, onde pouquíssimas pessoas iam. De fato, aquele era o lugar onde ele costumava ir, para espairecer. Não negaria para quem quer que perguntasse, se estava ansioso. Isso era nítido, pelo modo como ele metia um novo cigarro ao canto da boca, o tragando quase que desesperadamente. Ele era do tipo que fumava muito, principalmente quando estava ansioso por alguma coisa. Montsserrat causara-lhe esse efeito, pelo simples fato de aparecer após tantos anos. Isso o inquietava, ao ponto de só conseguir pensar em ter uma noite agradável, ao lado da ex-namorada.
Havia em si, uma pequena fagulha, que se acendera como uma labareda intensa, que o queimara por dentro. Aquela inquietude que só sentira uma vez em toda a sua vida; algo que fora causado justamente por ela, quando a ruiva tratou das feridas deixadas por Debrah. E, percebia nitidamente que aquela ansiedade angustiante, era a demonstração perfeita de que tal chama se mantivera adormecida por anos, acendendo novamente quando o rosto de Montsserrat surgiu ante seus olhos, naquela loja.
Ela era quase como uma injeção de ânimo, depois de tantos meses onde ele só sofreu. O arrependimento sempre vinha bater à sua porta, quando se lembrava de cada ato impensado, desde o retorno de Lysandre. Parecia que só agora, após tanto tempo, ele se dava conta de que estragara tudo o que lutara para conquistar. Mas, isso se dissipou quando ela voltou à cidade. Uma notícia boa, para variar entre a quantidade de péssimos agouros que o cercavam, desde a noite em que tivera a ideia estúpida de dormir com Debrah.
Montsserrat era alegre! Divertida! O fazia rir, enquanto beberricava uma dose de uísque. Alternando entre sorver a bebida e tragar o cigarro, enquanto a via beberricar tranquilamente sua cerveja. Aquela garota fazia imediatamente com que seu mau-humor desaparecesse. Ainda mais, quando falava sobre sua longa estadia em Londres e as coisas que passara por lá, com alguns ex-namorados, que eram extremamente polidos e formais. De fato, não conseguia imaginar a ruiva aguentando aquele tipo de situação por muito tempo, já que falava palavrões como somente um marinheiro o faria. Ver esse contraste, seria no mínimo impagável.
— E você tinha que ver! — Ela disse, ao tomar mais um gole da cerveja, cuja espuma abundante, marcava aos lábios tingidos em batom preto. — Ele ainda disse: "Céus, senhorita! Tenha compostura de uma dama!" — Montsserrat disse, forçando um sotaque exagerado, que fez Castiel gargalhar.
— Porra! Parece que eu estou ouvindo o Lysandre! — Ele brincou, balançando sua bebida ainda no copo, antes de levar a borda de cristal aos lábios, sorvendo ao sabor quase amargo que invadia sua boca.
— Verdade! O Lysandre era bem esnobe! Certeza de que se viraria muito bem na Inglaterra. — Montsserrat comentou, em meio a um riso suave. — Mas, chega de falar de mim e minha viagem. Me conte sobre você. O que fez nesses últimos anos? Digo, além da banda. — A garota indagou, apoiando os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando suas duas mãos, abaixo do queixo delicado.
— Garota... Passei por cada apuro. — Castiel começou, levando o cigarro aos lábios e dando uma longa tragada. Em seguida, soltou a fumaça antes de continuar falando. — Digamos que eu fiz uma merda enorme. — Ele afirmou, apagando o cigarro em um cinzeiro de vidro que havia em cima da mesa.
— Adoro histórias trágicas. Continue. — Montsserat disse em tom irônico, agora também acendendo um cigarro, cujo filtro ficava com a marca perfeita de seus lábios, contornados em preto.
— Você se lembra da Annelise que estudava com a gente? — Ele indagou.
— A namoradinha do Lysandre? — Montsserrat perguntou, soltando a fumaça do cigarro.
— Ela mesma! Nos reencontramos após a faculdade. E, bem, acabamos namorando por algum tempo. — Castiel comentou por alto.
— Vocês dois?! Sério?! Nossa, o Lysandre deve ter ficado puto. Aquele cara era a personificação do ciúme. — Montsserrat disse, em meio a um riso incontido.
— Está vendo esse nariz torto? — Castiel perguntou, apontando ao próprio rosto. — Ele que quebrou. — O ruivo completou, rindo, antes de acender mais um cigarro. — Mas, confesso que eu mereci isso. Eu fui um filho da puta com ele. — Castiel afirmou, ao soltar a fumaça.
— Imagino que ele não tenha encarado muito bem o fato de você namorar a ex dele. — A ruiva comentou. — Ainda mais, que eu lembro perfeitamente de como ele era com a Annelise: completamente louco por ela. Mas, fiquei curiosa para saber como isso aconteceu. — Ela disse, batendo com as pontas dos dedos ao filtro do cigarro, para se livrar das cinzas. Imaginava que aquela história seria interessante.
Lembrar sobre como tudo tinha acontecido, era desconcertante. Ainda mais, que Castiel sabia que o erro era todo seu. — Pouco após o fim do ensino médio, a Annelise se mudou e ele também. Ele voltou para a fazenda e ela foi para outra cidade, já que os pais dela tinham negócios lá. Acabou que eles perderam totalmente o contato. Mas, depois de uns anos, ela voltou para cá, afim de concluir a faculdade. Nos reencontramos e eu achei que ela estava bem bonita. E, como ambos estávamos solteiros, comecei a investir. Mas, ela ainda amava o Lysandre. Dizia ter esperanças de revê-lo algum dia, então não ficaria com ninguém. Não importava o quanto eu insistisse: ela sempre dizia que estava o esperando. Até que um dia, eu fiquei cansado desse papo e decidi fazer alguma coisa. Eu disse para ela que havia conversado com o Lysandre e que ele não iria mais voltar, pois estava de casamento marcado. — Castiel dizia aquilo, um tanto envergonhado. Era possível ver o arrependimento estampado em seu rosto.
Montsserrat pareceu horrorizada ao ouvir aquilo. Nunca imaginara que Castiel pudesse ser tão baixo, ao ponto de mentir para ficar com alguém. Ainda mais, se tratando da ex de seu melhor amigo. — Meu Deus, Castiel! — Foi a única coisa que ela conseguiu dizer, ainda com aquele semblante incrédulo.
— Eu sei, foi horrível. Mas, achei que essa mentira fosse ajudá-la a esquecê-lo. Porra, pensa comigo: o cara tinha se mandado para a fazenda. Achei que ele nunca mais ia voltar. Mas, não tem jeito. Quando uma coisa não é para ser sua, não importa o que você faça: o verdadeiro dono sempre aparece. Tanto, que bastou o Lysandre dar as caras, que ela saiu correndo para os braços dele. — Castiel ria nervosamente, ao dizer aquilo. Quanto mais pensava sobre as merdas que tinha feito, mas fácil chegava à conclusão de que fora ele quem traiu a amizade de Lysandre e não o contrário. — Aí eu fiquei puto, tomei uns drinks a mais e acabei na cama da Debrah. O mais irônico nisso tudo, é que eu achava que a Annelise tinha me traído com ele e, no final das contas, fui eu quem a traí com a Debrah. Agora eles dois estão juntos, felizes, vivendo a vida que sempre quiseram, enquanto eu estou preso com aquele encosto. Mas sabe o que é pior nisso tudo? É que eu joguei no lixo, a amizade que tinha com o Lysandre. Sinto falta daquele cara, não vou negar. Mas, tenho certeza de que ele não quer me ver nem em sonho. — Ele terminou sua narrativa, levando novamente o copo com uísque aos lábios, terminando de tomar a bebida em um só gole.
Montsserrat ficara calada, apenas digerindo toda aquela informação, que fora despejada sobre si. Agora, conseguia entender o motivo pelo qual Castiel voltara com Debrah. Certamente aquela mulher o estava manipulando como sempre.
Após alguns segundos em silêncio, ela decidiu falar algo, ao pousar a mão sobre a dele, esboçando um sorriso suave. — Acho que vocês dois deveriam sentar e conversar. Sempre foram tão amigos... Não vale a pena persistir nessa briga, entende? Procure ele, Castiel. O Lysandre sempre foi muito racional. Sei que vai querer te ouvir, se mostrar que está arrependido. — Ela dizia aquilo, em tom amável, afagando a mão de Castiel.
O rapaz esboçou um semblante pensativo a olhando. Talvez estivesse certa. Valia a pena ao menos tentar, já que não queria mais sustentar aquela guerra. — Você acha que ele poderá me perdoar? — Castiel indagou, ainda sentindo a maciez da pele dela contra a sua, enquanto a mão de Montsserrat continuava pousada sobre sua mão.
— Você só vai saber se tentar, Castiel. Acho que é um risco que você precisa correr. Afinal, não me disse mais cedo que gosta de se arriscar? — Ela indagou, em meio a um sorriso sacana.
De fato, Montsserrat era o perfeito oposto de Debrah. Pois, enquanto Debrah incitava-o a ter cada vez mais ódio por Lysandre e Annelise, Montsserrat o aconselhava a acabar com aquela maldita briga. Era fácil ver qual das duas era melhor intencionada. Chegava a ser discrepante a diferença entre elas.
Castiel virou a mão, entrelaçando os dedos aos de Montsserrat, no intuito de demonstrar um pouco de gratidão pelo conselho que recebera. De fato, era a única forma que encontrara para agradecer por ela o ter ouvido e não tê-lo julgado. — Prometo que irei tentar falar com ele. Mas, caso ele não queira me perdoar, irei procurá-la, para que me console. — Castiel brincou, piscando para a moça, que soltou uma gargalhada suave. Gostava de ver que ele parecia um pouco melhor, mesmo com algo tão singelo.
— O máximo que poderei fazer, é te pagar uma rodada de bebida. Nada além disso. — Ela respondeu, ainda com os dedos entrelaçados aos dele.
— Ah, já é alguma coisa. Não é o que eu queria, mas serve como prêmio de consolação. — Castiel retrucou, ainda em tom brincalhão.
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A roseira e os espinhos.
RomansaO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...