O restante da semana, passou de modo mais tranquilo. Mas, claro, ambos ainda pareciam constrangidos ao lembrarem da conversa perto do celeiro. Eles sentiam certo medo de acabarem estragando tudo, ao tocarem naquele assunto. Principalmente Lysandre, que deixara escapar seu maior desejo, ao falar sobre desposá-la quando o celeiro ficasse pronto. Em sua cabeça, pairava a todo o momento, a falha que cometera. Não queria que Annelise fugisse de si. Estavam juntos há tão pouco tempo, que imaginava que ela ficaria apavorada caso soubesse que tudo o que ele mais queria no mundo todo, era que ela fosse sua esposa.
Ele decidiu não tocar mais no assunto, pelo menos não por enquanto. Tinha certeza de que por mais que quisesse passar o resto da vida com ela, talvez devesse esperar um pouco mais, antes de fazer o pedido.
As semanas foram passando, e consequentemente os meses. De fato, o tempo havia passado rápido demais, ao ponto de que já faziam três meses desde que fizera aquele comentário infeliz. Por sorte, aquilo não os afastou. Ao contrário, continuavam tão apaixonados quanto antes. Todavia, ainda receava tocar novamente no assunto, de modo que preferia guardar para si, todo e qualquer comentário sobre casamento.
Ainda achava que poderia ser cedo, já que estavam juntos há apenas sete meses. Queria poder esperar mais, para que ela não se sentisse pressionada.
O problema, era que conforme o tempo passava, o desejo de Lysandre por pedir a mão de Annelise, apenas crescia. Ele, que já era normalmente distraído, agora parecia ainda mais do que lhe era usual. Não conseguia deixar de pensar em como faria aquilo. Mas, talvez, alguém fosse capaz de ajudá-lo a encontrar a forma perfeita, de fazer o pedido.
Annelise, também, vinha pensando constantemente sobre o que havia acontecido. Seria hipócrita se dissesse, que teria recusado caso ele a tivesse pedido em casamento naquele dia. Sendo bem honesta, ela se sentia um pouco desapontada, pelo fato de que ele não havia feito o pedido. Claro, ela sabia que dissera que ainda era cedo. Que deveriam esperar! Que não queria apressar as coisas. Mas, ao pensar em como queria ficar com ele para sempre, acabava se sentindo arrependida por ter dito aquilo.
A questão, era que nenhum dos dois falava sobre isso. Nenhum deles ousava verbalizar o anseio que tinha, em tornar tudo oficial. O medo os cercava, deixando-os imóveis em sua insegurança.
As semanas continuavam passando em uma rapidez espantosa. O tempo parecia absurdamente curto, quando estavam juntos. Perceberam isso claramente, em uma manhã de domingo, enquanto faziam compras juntos, no mercado.
Rosalya e Leigh, ainda não tinham conhecido o apartamento deles. Viriam para a cidade, convidados para um jantar de casais, algo que nunca fizeram desde que Lysandre e Annelise tinham reatado o relacionamento.
De fato, Annelise e Lysandre pareciam bem animados com a perspectiva de receberem os dois. Aquela, seria a primeira vez que receberiam visitas em seu apartamento, já que estavam sempre trabalhando até tarde no café, ou cuidando da fazenda. Isso fazia com que o tempo deles fosse sempre muito curto, de modo que nunca conseguiam promover um jantar para os amigos.
Lysandre empurrava o carrinho de compras pelos corredores do mercado, enquanto Annelise ia o atulhando com os ingredientes que usaria para o jantar. Ela parecia animada, consultando a lista que fizera, riscando-a quando pegava algum produto que precisaria.
— A Thia adora isso aqui. Ela é uma verdadeira formiguinha! Todas as vezes que me visitou, abria o armário procurando por doces. — A moça comentou, rindo um pouco, enquanto segurava um pacote de marshmallows coloridos, em formatos retorcidos. Em seguida, colocou o pacote no carrinho, enquanto voltava a consultar a lista de compras.
Ouvir aquilo, fez Lysandre se dar conta de que ainda não havia conhecido a própria sobrinha. Bem, pelo menos não pessoalmente. Afinal, quando Thia nasceu, ele já vivia na fazenda. Pensar a respeito disso, o fez perceber que Castiel conhecera a criança antes dele, que era o tio legítimo. Aquilo o deixou um pouco incomodado.
Era impressionante que mesmo quando não queria lembrar que Castiel algum dia estivera com sua namorada, acabava recordando isso de forma involuntária. Porém, não queria estragar as coisas, com seu ciúme. Annelise estava consigo! Tinham um relacionamento sólido! Tinha certeza de que ela jamais voltaria para Castiel. Confiava cegamente nela! Sabia que ela jamais o trairia. Que nunca haveria qualquer recaída. Principalmente depois de tudo o que o ruivo fizera. Mas, o ciúme ainda o corroía cada vez que pensava nas mãos imundas de Castiel, sobre o corpo da namorada.
Buscou parecer o mais tranquilo possível, esboçando um sorriso de canto enquanto a observava pôr os marshmallows no carrinho. Afinal, a moça aparentava apenas querer agradar a sobrinha. — Podemos levar alguns chocolates para ela, também. Só espero que a Rosa não se zangue. — Lysandre sugeriu, em um riso suave.
— Eu acho uma ótima ideia! Qualquer coisa, eu distraio a Rosa, enquanto você dá os doces escondido para a Thia. — Annelise respondeu, de forma descontraída.
Lysandre não pôde evitar rir do comentário de Annelise. Afinal, era bem provável que aquilo acontecesse. — É uma boa ideia. Porém, duvido muito que você vá gostar quando for a vez da Rosa e do Leigh fazerem isso com nossos filhos. — O rapaz disse em tom brincalhão.
O comentário dele saiu de modo tão espontâneo, que agora era Annelise quem ria. — Não acredito muito que eles façam isso. Na verdade, acho que aqueles dois vão usar nossos filhos como manequins, assim como fazem com a Thia. Mas, por via das dúvidas, vamos ficar de olho. De toda a forma, eu tenho planos de como impedir que eles entupam nossos pequenos com açúcar. — Ela respondeu, entrando na brincadeira.
— Ah, tem? E o que mais você planejou? — Lysandre indagou curiosamente, esboçando um sorriso gentil enquanto colocava um coelhinho de chocolate, no carrinho de compras.
— Eu planejei tudo, na verdade. — Annelise respondeu, ainda olhando a prateleira de doces, vendo o que mais levaria para Thia.
— Por exemplo? — Lysandre perguntou, apoiando as mãos ao apoio do carrinho, olhando de forma curiosa para a namorada.
— Bom. Para começar, nós vamos ter dois filhos. Um menino e uma menina. Ele vai se chamar Logan e ela Anna. — Annelise começou. — Quando o primeiro nascer, nós vamos nos mudar para a fazenda. Quero que eles cresçam no campo, assim como nós dois. Mas, estaremos sempre viajando para a cidade, por causa do café. — Ela disse, enquanto pegava um saco de balas, colocando no carrinho.
Ao imaginar aquilo, Lysandre cruzou os braços, esboçando um sorriso mais amplo. — É mesmo? E o que mais? — Ele perguntou.
— Quando eles estiverem na fase escolar, nós teremos que voltar para a cidade. Quero que estudem na Sweet Amoris. Mas, todos os finais de semana, estaremos na fazenda. Não quero que percam suas origens. — Ela respondeu.
— E depois? O que tem planejado? — Lysandre perguntou, se aproximando da namorada, abraçando-a pela cintura.
— Bem, depois, eu os imagino entrando na faculdade. Talvez na Anteros Academy. E, quando eles estiverem começando a viver suas vidas, nós dois voltaremos para a fazenda, onde passaremos juntos e tranquilos, o resto de nossas vidas. — Annelise disse, envolvendo o pescoço dele com os braços.
Lysandre não conseguia esconder o sorriso, ao saber que ela pensava sobre um futuro ao seu lado. Não havia dúvidas de que aquilo tudo era exatamente o que ele queria. — Nada me faria mais feliz do que isso. — Lysandre disse, roçando o nariz ao dela.
— A mim também. — Annelise confessou, aproximando os lábios dos dele. Porém, antes que pudesse beijá-lo, ouviu uma voz feminina muito familiar, ecoar quase ao seu lado.
— Annelise?! Lysandre?! Não acredito! Quanto tempo! — Soou em uma animação forçada, aquela voz aguda, que tomava mais proximidade.
O casal finalmente olhou para o lado; ambos agora, expressavam um semblante entediado, ao vislumbrarem a dona da voz e o homem que a acompanhava. De fato, quase reviraram os olhos, quando viram Debrah vindo em sua direção, enquanto Castiel empurrava o carrinho de compras, ao lado dela.
— Acho que não faz tanto tempo assim, Debrah. — Annelise respondeu, de um jeito quase glacial. Não conseguia esquecer os problemas que aquela mulher lhe havia gerado todas as vezes em que apareceu.
Debrah caiu na gargalhada, ao ouvir a resposta de Annelise. Adorava saber que ainda conseguia tirá-la do sério. — Ah, que amor! Você continua engraçada! Isso é ótimo! Você era tão divertida na época da escola. E por falar nisso, é bom ver que algumas coisas nunca mudam, não é? Olhe só para vocês dois! Namoraram no colégio e continuam juntos depois de adultos. Isso não é fofo, gatinho? — Agora, ela se dirigia a Castiel, que fuzilava Lysandre com os olhos.
— E aí, Lysandre. — Castiel disse secamente.
— Olá, Castiel. — Lysandre respondeu, tentando ser cordial. Mas, seu olhar repleto de raiva, não negava que estava fervendo ao ver o ex-amigo.
Debrah estava adorando toda aquela tensão, que deixava o ar pesado. Mas, ainda não era o suficiente. Queria deixar tudo ainda mais desagradável. — Eu soube que vocês estão morando juntos, agora. Achei uma coincidência incrível, porque nós também estamos! Inclusive, acho que deveríamos marcar alguma coisa, qualquer dia. O que acha? Vai ser o máximo sairmos os quatro para dançar! — Debrah agora agarrava o braço de Castiel, numa clara postura em que demonstrava que ele a pertencia.
Annelise suspirou de modo irritadiço, ao ouvir os disparates de Debrah. Aquela garota era patética! — Com licença, estamos com um pouco de pressa. — Ela disse, agora entrelaçando o braço ao de Lysandre, ajudando-o a empurrar o carrinho para longe daqueles dois. Não se daria ao trabalho de perder tempo com eles.
Lysandre, por sua vez, também parecia aliviado por se afastar daquele casal de imbecis. Quanto menos tempo ficasse perto de Castiel, melhor seria. Não permitiria que eles estragassem sua felicidade, principalmente após a conversa que tivera com Annelise naquele corredor. Estavam juntos! Faziam planos! E isso, era a única coisa que tinha importância.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...