Turbilhão de sentimentos.

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            O dia passou tão rápido, que ela sequer se deu conta. Na verdade, estava em órbita. Não conseguia se concentrar em nada! O trabalho parecia não render. De fato, se confundia frequentemente, enquanto executava tarefas simples. Coisas que ela fazia diariamente, agora se tornavam extremamente complicadas, devido sua falta de concentração.


Atrás do balcão, tamborilava os dedos sobre ele, com um olhar distante. De fato, era quase como se não estivesse ali. Fora assim o dia todo. Não conseguia evitar a distração que a acometia.

Nina limpava a mesa, na qual o último cliente estivera. A garota era esforçada, isso era nítido. Annelise gostava do modo como ela trabalhava, sendo de sua total confiança. No passado, tiveram seus desentendimentos por conta da obsessão de Nina por Lysandre, mas, agora eram águas passadas. A garota evoluíra bastante, nos últimos anos. Annelise não tinha do que reclamar.

— Vai querer que eu feche o café hoje, Annelise? — A garota, que era alguns anos mais nova, indagou. Ela desviou os olhos azuis, observando a patroa atrás do balcão. Todavia, não houve resposta para sua pergunta.

— Annelise! Está aí? — Nina indagou, usando um tom de voz mais alto.

— Falou comigo? — Annelise perguntou, enquanto agora olhava para a mocinha das longas madeixas douradas, presas em duas marias-chiquinhas.

— Falei. — Nina respondeu. — Perguntei se quer que eu feche o café hoje. — A garota refez sua pergunta.

— Fechar? Está querendo sair mais cedo? — Annelise indagou.

— Mais cedo?! Annelise, são nove e meia da noite! Nós fechamos geralmente às oito! — Nina rebateu.

— Já?! Meu Deus, eu nem vi o dia passando! — Annelise pareceu alarmada, puxando o celular do bolso da calça jeans, para olhar as horas.

— Você está muito estranha. Aconteceu alguma coisa? — Nina agora se aproximava do balcão, olhando curiosamente para Annelise. Nunca a vira agir daquele jeito.

— Não é nada, Nina. Eu só ando pensando demais. Acho que tenho algumas questões mal resolvidas. — Desabafou.

— O quê, por exemplo? — Nina se sentou em um dos banquinhos giratórios, apoiando os braços sobre o balcão, enquanto olhava para a chefe.

— Você já sentiu que o passado se tornava vivo? Como se, as lembranças fossem tão nítidas, que pareciam momentos do presente? — Annelise perguntava aquilo, em tom quase desconfortável. Afinal, toda aquela insistente nostalgia, a estava deixando perturbada.

— Não que eu me lembre. Mas, acho que todo mundo passa por isso, em algum momento. — Nina respondeu. Talvez por ser bem mais nova, não tivesse passado por aquilo, ainda. — Sobre o que são essas lembranças? — Perguntou.

Annelise ponderou por alguns segundos, sobre o que deveria dizer. Acreditava que Nina não fosse entender completamente. Afinal, nem ela mesma entendia. A verdade, era que jamais estivera tão confusa.

— Deixa para lá. Está muito tarde, você tem aula amanhã cedo. Vá para casa, eu fecho o café, está bem? — Ela disse, esboçando um sorriso suave.

— Tudo bem, eu vou só terminar de limpar as mesas, e já vou. — Nina disse, ao se levantar do banquinho onde estivera sentada. Todavia, Annelise a impediu. Ela precisava mesmo ir para casa.

A roseira e os espinhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora