Na manhã seguinte, quando Annelise acordou, ainda estava envolvida pelos braços de Lysandre, que agora afastava uma das suas longas mechas de cabelo branco, para trás da orelha delicada onde jazia um brinco de ouro em formato de coração.
Ele havia passado um bom tempo, a olhando dormir. Quase nem acreditando que estavam juntos novamente, ainda que não fosse algo oficial. Na verdade, desde a hora em que Annelise deitara junto a si naquele sofá, sentiu que queria ela fosse sua de modo definitivo. Tal qual fora, no passado.
Ainda sonolenta, Annelise se virou para fitá-lo, encostando o rosto no peito do rapaz, que agora segurava sua mão, beijando ao dorso delicado.
— Bom dia. Você dormiu bem? — Lysandre indagou, aninhando Annelise em seus braços.
— Há anos não dormia tão bem. — Ela respondeu, roçando o nariz contra o dele. — E você? — A moça perguntou, em tom suave.
— Eu também, apesar de que algo me fez pensar a noite toda. — O rapaz comentou.
— O que, Lysandre? — Annelise o olhava de modo curioso, querendo saber o que perturbara o sono do rapaz.
— Estive pensando em tudo o que aconteceu nesses últimos dias. Sendo bem franco, devo dizer que também pensei em alguns acontecimentos dos últimos anos. Estive pensando no quão sozinho e perdido, eu me senti desde que nos separamos. Desde que a beijei pela última vez. Desde que dormimos juntos, antes de minha partida. Percebi, que apesar de toda essa loucura que têm acontecido, jamais me senti tão feliz, em todos esses anos. Mesmo com toda essa confusão que tem nos cercado, ao vê-la dormir ao meu lado essa noite, tive certeza de que é isso o que eu quero para sempre. Eu quero tê-la comigo, Annelise. Quero que estejamos juntos, de uma forma oficial, você compreende? — Ele indagou.
Atônita, a moça apenas moveu a cabeça positivamente, ainda ouvindo o que ele tinha a lhe dizer.
— Sei que isso pode parecer um tanto precipitado. Não quero que se sinta pressionada. Mas, eu gostaria que namorássemos novamente. Você aceitaria voltar a ser a minha namorada? — Lysandre perguntou um tanto inseguro. Tinha medo de ser rejeitado, por causa de tudo o que ela estava passando naqueles dias.
Quão agradável não foi sua surpresa, quando viu um sorriso enorme surgir aos lábios de Annelise, que o abraçou com força, enchendo seu rosto de beijos.
— Eu achei que você nunca iria pedir! — Annelise disse, ao dar um selinho demorado nos lábios de Lysandre. — Sim! Eu aceito! — Ela respondeu, fazendo-o sorrir como um bobo, abraçando-a com força. Eles ainda não acreditavam que finalmente, após toda aquela tempestade que os assolava, estavam juntos de novo. Que eram um casal novamente! Que não precisariam se esconder.
Os meses seguintes, foram passando da forma mais tranquila possível. Apesar dos danos causados por Castiel, as coisas pareciam estar melhorando gradativamente. Ela, que achou que perderia sua clientela, acabou descobrindo em agradável surpresa que os clientes haviam aumentado.
Claro, em partes devia isso a Hyun que estava fazendo um trabalho excepcional, com a divulgação nas redes sociais. Mas, principalmente, estava grata a Lysandre e Nina, por tudo o que estavam fazendo para ajudá-la.
A cafeteria estava lucrando muito mais, do que nos últimos meses. De fato, a ideia da torta fora um grande sucesso. Os clientes começavam a fazer encomendas de bolos, tortas, cookies, cheescakes, cupcakes... Os doces de Lysandre estavam sendo um sucesso absoluto! O que era muito animador, já que estava conseguindo aos poucos ir pagando o que devia aos credores; e consertando os estragos que Castiel fizera.
Claro, às vezes tudo ficava muito corrido, já que Lysandre vez ou outra tinha de voltar para a fazenda e se ausentar por dois ou três dias. Porém, antes de viajar, ele há deixava tudo pronto, para que as garotas não tivessem problemas. Mas, quando ele voltava, tudo fluía muito melhor.
Annelise se sentia ótima, quando ele estava por perto. Mas, morria de saudade quando ele tinha que voltar para a fazenda. Apesar do namoro deles estar indo perfeitamente bem, tinha medo de que ele tivesse que partir de forma definitiva.
Pensar nisso, foi o que a fez começar a ler o jornal naquela manhã, olhando anúncios de apartamentos para alugar. Afinal, sentia-se abusando da hospitalidade de Leigh, Rosalya e principalmente Lysandre. Era bom morar com ele ali, mas às vezes sentia que estava incomodando, já que morava de favor naquele lugar. Embora o ajudasse com as despesas normalmente, ainda era inevitável aquela sensação de ser um incômodo. Precisaria encontrar algum lugar para ficar.
Era estranho pensar que já faziam quatro meses que estavam juntos de novo. Apesar da primeira semana ter sido terrivelmente turbulenta, agora estavam tendo uma vida tranquila. Era um grande alívio, o fato de que não tiveram qualquer notícia de Castiel, nos últimos meses. Ainda assim, o receio pairava, cada vez que pensavam que ele poderia reaparecer a qualquer momento. Isso, era só mais um dos motivos para que ela decidisse procurar outro apartamento, onde teria certeza de que o ex-namorado não seria capaz de encontrá-la.
Lysandre levantou ainda sonolento, naquela manhã de domingo. Tinha se dado ao luxo de ficar um pouco mais na cama, visto que dirigira a noite toda, de volta para a cidade. Estava exausto, era visível. Por isso, Annelise deixou que ele dormisse o tempo que fosse preciso, para reabastecer suas energias.
Quando Lysandre entrou na cozinha, a encontrou sentada à mesa olhando os classificados, enquanto beberricava uma xícara de café. Estranhou aquilo, já que Annelise nunca lia o jornal. Então se aproximou dela, beijando-lhe a bochecha.
— Bom dia, amor! — Ele disse, enquanto puxava uma cadeira para se sentar ao seu lado.
— Bom dia, amor. — Ela respondeu. — Acordou cedo. Pensei que dormiria um pouco mais, já que estava tão cansado. — Annelise comentou. — Quer café? — A moça indagou.
— Sim, aceito uma xícara. Acabei perdendo o sono, por conta do costume de acordar cedo. Então, é melhor que eu fique desperto. — Ele riu.
— Mas você deveria estar descansando. Afinal, passou quase a semana toda na fazenda. Deve estar exausto. — Ela comentou, se levantando e servindo uma xícara do café que havia acabado de preparar. — Como vai a reconstrução do celeiro? — A moça perguntou, agora voltando com o café para ele, e lhe entregando a xícara.
— Está indo bem. Acredito que mais uma semana, ou duas e já estará tudo finalizado. — Lysandre comentou, ao tomar um pequeno gole de café. — Mas, isso significa que terei de voltar para lá em breve, para terminar logo a construção. Mesmo tendo quem olhe a fazenda durante minha ausência, preciso aparecer por lá frequentemente. Então, logo mais terei de me ausentar de novo. Mas, será por pouco tempo. — Ele completou, antes de tomar mais um gole do café.
— Era sobre isso que eu queria conversar com você. — Annelise começou. — Acho que é melhor que eu procure outro lugar para morar. Como o apartamento é do seu irmão, não me sinto bem em ficar aqui sozinha. Sinto como se estivesse abusando da boa vontade de vocês, entende? Por isso, decidi procurar um apartamento. Já dei uma boa olhada nos classificados e encontrei alguns que me parecem bons. Inclusive, tem um já mobiliado que o aluguel cabe perfeitamente no meu orçamento. Além disso, fica muito perto do café! Dá para ver o Cosy Bear da janela. É só atravessar a rua e já estou no meu trabalho. — Ela apontou para a página, mostrando o anúncio a Lysandre.
O rapaz pareceu surpreso ao ver que ela já procurava um lugar para ir. Não podia negar que aquilo o deixou um pouco frustrado. Afinal, estava feliz em morar com ela. Mas, agora, ao vê-la animada em se mudar, sentia um pequeno vazio querendo se apoderar de seu peito.
— Mas já? Não acha que está um pouco cedo para sair daqui? — Lysandre perguntou. — Não está gostando de dividir o apartamento comigo? — A voz dele soava um tanto aborrecida. Não podia negar que aquilo o havia deixado chateado.
— Eu adoro morar com você, amor. Mas, sinto que estou incomodando. Além do mais, você precisa estar sempre na fazenda e não faz sentido eu ficar no apartamento da sua família, sem você. — Ela se justificou, segurando a mão dele e a afagando.
— E se... Bem, e se nós alugássemos um apartamento? — Ele perguntou, sentindo o polegar dela, deslizando sobre o dorso de sua mão.
— Está falando sério? Mas e a fazenda, Lysandre? — Annelise indagou, fazendo-o lembrar de suas obrigações.
— Eu posso flexibilizar! — Ele disse. — Posso passar metade da semana aqui na cidade e a outra na fazenda. Assim, poderei continuar te ajudando no café, sem deixar a fazenda de lado. — Ele sugeriu.
— Você acha que consegue fazer isso? — Annelise perguntou, esboçando um sorriso de canto. A verdade, era que a proposta dele a havia agradado muito. De modo, que ela agora também parecia pensar sobre isso.
— Acredito que sim! Ao meu ver, é algo que vale a pena tentar. — Lysandre respondeu. — Eu só não quero ficar longe de você. Vou me esforçar para que nossa relação continue dando certo. Já te perdi uma vez e não quero correr o risco de que isso aconteça de novo. — Agora, era ele que afagava a mão dela, enquanto a olhava, ansioso por sua resposta.
— E se eu também passasse metade da semana aqui, na cidade; e a outra metade na fazenda com você? Assim um poderia ajudar o outro. Além disso, não precisaríamos nos afastar. Acho que também consigo conciliar meu tempo. Só precisamos nos organizar. — Annelise disse, esboçando um sorriso de canto.
— É perfeito! Assim nenhuma de nossas obrigações é deixada de lado! Você realmente faria isso? — Lysandre indagou, animado.
— Claro que eu faria. Somos um time, lembra? Estamos juntos nessa. Quero poder te ajudar em tudo, assim como tem me ajudado. Então, sim. Vamos fazer isso. — Annelise afirmou.
Lysandre curvou-se sobre ela, beijando-a carinhosamente nos lábios, sem conseguir esconder o sorriso que esboçava. Nada poderia fazê-lo mais feliz, do que aquilo. Em seguida, afastou um pouco os lábios, mas ainda manteve o rosto próximo ao dela.
— Então oficialmente estamos procurando um apartamento? — Ele indagou, afagando agora, ambas as mãos da namorada.
— Sim, nós estamos. — Ela respondeu, antes de unir os lábios aos dele, novamente.
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A roseira e os espinhos.
RomanceO que fazer quando nem mesmo os anos são capazes de apagar um grande amor? Como esquecer aquela que um dia foi a mulher de sua vida? Este é o dilema ao qual Lysandre tem enfrentado nos últimos anos. Mas, talvez ainda haja uma forma de recuperar a do...