Capítulo 17

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Olá, olá

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Na segunda-feira à tarde Lauren encontrou Camila no estacionamento do set quando ela estava prestes a entrar no carro.

— Fico feliz por tê-la alcançado. — deslizou para dentro do banco de passageiro do Lexus antes que ela pudesse protestar.

— Sofia me disse que você estava indo para a Union Square. Você bem que podia me ajudar a escolher os presentes para a festa de Natal desta semana, se tiver um tempinho livre.

Meu Deus, como ela era linda, a atriz pensou quando Camila se virou para encará-la, a expressão muito desconfiada pela desculpa que acabou de ouvir. Fazia pouco tempo desde que estivera na cama de Lauren, e nem isso foi capaz de evitar a vontade que a maior tinha de tocar na latina, mesmo que fosse apenas passando as mãos nas pontas do rabo de cavalo que a menor usava. 

— Fico feliz em ajudá-la a escolher os presentes para todo mundo — confirmou, com a voz longe de soar satisfeita —, mas você e eu já sabemos que isso aqui — ela apontou de uma para outra — não é uma boa ideia.

O único sinal de quão afetada ela estava era o tom um pouco arfante da voz, que na maioria das vezes era mais controlado. 

Ela estava certa, as duas juntas não era uma boa ideia.

Era uma excelente ideia. Lauren deslizou a mão do cabelo até os braços dela, passando pelo couro macio da jaqueta até chegar às mãos, podia sentir Camila tremendo. Enroscou seus dedos juntos.

— Senti sua falta nas duas últimas noites. Muita falta.

Ela odiara dormir cada noite sem a companhia da agente, assim como odiara não poder segurar a mão dela no set, como agora. A família Jauregui era afetuosa e Lauren não estava acostumada a esconder os próprios sentimentos, em particular quando eram tão fortes.

Camila suspirou fundo, mas, por sorte, parecia que o desejo era mais forte do que a vontade de resistir. Assim, em vez de enxotá-la para fora, ela só desvencilhou as mãos, virou a chave na ignição e deu a partida no carro.

Lauren acomodou-se no banco de couro, as pernas esticadas à sua frente, curtindo estar com Camila. O cheiro da latina estava impregnado no carro e a maior não pôde evitar o percurso dos seus olhos, que passou o caminho inteiro cravados nos traços delicados da menor. Não havia nada nela que não a atraísse.

Um pouco depois, elas entravam no coração da Union Square. Os olhos da Cabello estavam brilhantes ao contemplar para as luzinhas de Natal nas árvores e para os prédios que circundavam a praça, agora tão diferentes do que estavam quando filmaram a cena de abertura do filme ali, algumas semanas antes. No centro da praça, patinadores se amontoavam no rinque de patinação.

— É como um paraíso de inverno!

Camila contemplava um casal patinando- girando nos braços um do outro- com tanto desejo que Lauren não teria conseguido resistir à vontade de agarrá-la e beijar aqueles lábios lindos se não fosse por um grupo de adolescentes que a viram e correram até ela.

Ah, meu Deus! É a Lauren Jauregui!

Os gritinhos chamaram a atenção de outras pessoas, que sacaram os telefones para tirar fotos e enviar mensagens de texto aos amigos. Ela não ficou surpresa quando Camila saiu do campo de visão da câmera, mas, quando pegou uma caneta para começar a dar autógrafos, ficou grata por Camila ter se oferecido para tirar fotos dos fãs, para que todos pudessem aparecer juntos. Já passara por isso mais do que uma vez com a irmã, é claro, e de novo Lauren ficou feliz ao saber que seu mundo não era tão estranho assim a ela.

Por que Camila não conseguia enxergar que, se alguém poderia aguentar as consequências de namorar um astro ou estrela de cinema, esse alguém seria ela? Na opinião de Lauren, esse seria um teste perfeito do quanto se sairiam bem se fossem namoradas, e não apenas um passeio entre amigas para fazer compras. 

Dez minutos depois, quando o último grupo pareceu, enfim, estar satisfeito, Lauren perguntou:

— Já esteve na Gump’s?

— O que é um “gump”? — Ela lhe lançou um olhar tão bonitinho que Lauren não resistiu e lhe acariciou o rosto, que enrubesceu com o ar gelado e, Lauren esperava que essa coloração também tivesse relacionada à sua companhia, não apenas à temperatura.

— É por ali — afirmou com um sorrisinho de lado, que a latina não conseguiu deixar de corresponder. — Vamos ver se conseguimos sair daqui antes de o próximo grupo cair do céu.

— Deveria ter repensado meus planos de vir ao centro da cidade com você — Camila comentou, quase se desculpando, como se, de alguma forma, fosse culpa dela a fama de Lauren estar atrapalhando sua ida às compras. — Apesar de — ela disse, retorcendo os lábios com ironia — eu não ter certeza de que exista algum lugar tão remoto a ponto de você não ser reconhecida.

— As grandes cidades tendem a concentrar os fãs mais entusiastas. Meses atrás estive em uma cidadezinha no Kansas e ninguém nem olhou para mim.

Camila fez um som de descrença.

— Você é muito carinhosa com suas fãs. Espero que Sophia consiga lidar com os dela tão bem quanto você.

Ela sabia o que Camila estava fazendo: conversando com ela sobre a fama, como se, ao reforçá-la, pudesse ajudá-la a se lembrar do motivo de manter distância.  Um artista de rua estava equilibrando seis bastões em pé em um skate, e enquanto todos os olhares estavam sobre ele ao invés de estar nelas, Lauren falou em voz baixa:

— Pequenas doses. Isso é tudo o que a fama deve ser. No restante do tempo, quando não estou no set ou quando estou em casa, sou igual a todo mundo.

— Está enganada — ela comentou, com a voz baixa, que só Lauren podia ouvir enquanto a encarava, os olhos castanho-escuros tão cheios de desejo quanto de dor. — Você nunca poderia ser igual a todo mundo.

Quando pensou ter ouvido alguém na calçada dizer seu nome, ela puxou Camila com rapidez para dentro da loja. A gerente do andar que os cumprimentou era uma velha amiga do ensino médio, e um dos motivos pelos quais Lauren adorava vir ao Gump’s era porque Britt e o restante de sua equipe faziam de tudo para tornar a compra uma experiência agradável.

Ela adorou observar Camila virar o pescoço para espiar as esculturas de vidro e as bonecas de porcelana, as cadeiras ornamentadas que dividiam o espaço com tigelas de cachorro feitas à mão e enfeites de Natal baratos.

— Deve haver uma história muito boa sobre esta loja.

— Dinheiro da era do ouro — explicou. — Os irmãos Gump tiveram sorte nos rios e resolveram transformar os lucros nisto aqui.

— Nada disso deveria combinar, mas, de alguma forma, combina. Existe alguma coisa que não tenham nesta loja?

— Vamos dar uma olhada.

Começaram pelo andar de baixo e foram subindo. Camila tinha um talento inato para encontrar o presente perfeito para cada um dos membros do elenco e da equipe. Lauren sempre se orgulhara de conhecer as pessoas com quem trabalhava em cada filme, não
importava o quanto fossem transitórios. Camila, no entanto, conhecia os membros da equipe ainda melhor do que ela.

Os pacotes embrulhados para presente atrás do balcão já formavam uma pilha quando por fim chegaram ao andar pelo qual a atriz tanto esperara. A música no quinto andar era mais tranquila, as vitrines, ainda mais elegantes, as cores, mais sutis para exaltar as caras lingeries à mostra.

O rubor de Camila disse tudo, mesmo antes do comentário:

— Não consigo pensar em ninguém que precise de alguma coisa desta seção.

Lauren deixou os olhos passarem por suas maçãs do rosto avermelhadas, os lábios cheios, as pupilas bem brilhantes.

— Eu consigo.

Ela chegou perto o bastante para passar a ponta dos dedos sobre a mão da menor, com o mais suave dos toques.

— Da próxima vez que eu lhe vir de seda e renda, Camila, quero saber que sou a única que um dia a arrancou de você.

Ao mero toque dos dedos e das palavras sexy de Lauren, uma vontade puramente sensual tomou conta de Camila. O prazer da noite de sexta-feira e da manhã de sábado ainda estavam frescos na pele dela, arrepios ardentes que a faziam se lembrar do quanto fora lindo cada momento que passara nos braços de Lauren. Ela tinha certeza de que a atriz conseguia ver tudo em seu rosto, o rubor da pele, a maneira como tremia com paixão toda vez que Lauren estava por perto. 

Ninguém jamais a fizera se sentir tão sexy antes, tão ciente de suas curvas, de sua maciez, de seu calor. Contudo, não era apenas o desejo que lhe enfraquecia os joelhos. Seria mais fácil se fosse, pois assim ela poderia considerar aquilo nada além de uma atração física que qualquer um que tivesse sangue correndo nas veias sentiria por Lauren Jauregui. Não. Era a doce promessa nos olhos verdes, a maneira como sempre a tocava com tanto carinho e a emoção em seu rosto toda
vez que a olhava, que faziam seu coração bater tão descompassado e as palavras sumirem.

Camila não gostava de pensar em si mesma como alguém covarde, mesmo que seu coração estivesse batendo mais rápido do que nunca e que mal pudesse controlar a vontade de dar meia volta e descer cinco lances de escadas. Aquela, ela jurou a si mesma, seria a única razão para deixar que Lauren fizesse tudo à maneira dela naquela seção de lingerie da loja de departamentos mais esquisita e maravilhosa em que já estivera na vida. Não pela ideia secreta de que, de todas as mulheres do mundo que ela poderia ter as supermodelos, as estrelas de cinema lindas de morrer, a atriz de fato escolhera a ela.

Verdade seja dita, a satisfação em ficar ao seu lado enquanto Lauren parecia pegar todos os sutiãs e calcinhas do quinto andar, cada peça mais sofisticada do que a outra, e todas do tamanho dela, talvez tivesse alguma coisa a ver com a fraqueza dela por lingerie.

Uma fraqueza que só era páreo para sua necessidade de uma dose de açúcar logo de manhã... e para sua fraqueza crescente e quase desesperada pela mulher ao seu lado.

Por sorte, em vez de lhe dizer mais coisas sensuais, o que poderia tê-la feito perder o autocontrole e arrastá-la para dentro do provador, Lauren encheu-a de perguntas:

— Você tinha cachorro quando era criança?

— Não, mas nosso gato era tão grande quanto um cachorro, e duas vezes mais assustador para quem chegasse na porta da frente.

— Qual a sua matéria favorita na escola?

— Física. — Adoro como você sempre me surpreende — disse com um sorrisinho. — Diga-me por que Física, e não Inglês, História ou Matemática.

Ela deu de ombros, sentindo-se um pouco tola.

— Nada com relação a trajetórias e aceleração fazia sentido até que, um dia, de repente, fez. Acho que me senti invencível depois de ser a primeira da classe, como se não houvesse nada que não pudesse descobrir se me dedicasse bastante e não desistisse nunca.

Querendo muito saber mais sobre ela, Camila aproveitou a oportunidade para perguntar:

— E você?

— Eu gostava de qualquer coisa que me deixasse ficar em frente à classe. Atuar. Dançar. Improvisar. Clube de canto. O restante do tempo eu estava no campo de Softbol. Mas, se soubesse que uma garota como você estava no laboratório, a Física com certeza teria ido para o topo da minha lista.

Estavam no meio da loja, onde qualquer pessoa poderia vê-las ou tirar uma foto, mas, apesar de toda a preocupação de Camila no que se referia a Lauren, e apesar de tudo o que aprendera na aula de Física, ela não conseguia achar uma forma de impedir a lei da gravidade.

Ah, como queria sentir as mãos dela em sua cintura, seus lábios nos dela, e estava se inclinando mais para perto para fazer exatamente isso quando o celular da atriz tocou de repente a única campainha com som desagradável que dizia a ambos que havia uma emergência no set.

Com um palavrão, Lauren afastou-se dela e atendeu ao telefone. Ao desligar, um minuto depois, pela parte da conversa da diretora, ela chegou à conclusão de que o equipamento de iluminação que estava lhes dando problema desde o primeiro dia tinha esquentado demais e, com ele, levado metade da eletricidade do set.

— Levo você de volta — Camila se ofereceu de imediato.

— Quero que termine de fazer suas compras — respondeu. — Pegarei um táxi. — Lauren não levantou a mão para tocá-la, mas teria sido bem mais fácil se tivesse, em vez de falar naquela voz baixa e rouca que a arrepiava de cima a baixo. — Gostei muito de passar à tarde com você, Camila. Tanto que isso me fará sentir sua falta ainda mais esta noite.

— Não sinta minha falta, Lauren. Por favor, não — ela lhe implorou, parte por odiar magoá-la, mas parte também pelo desejo de Lauren de estar com ela só servir para tornar ainda mais difícil ignorar seu próprio desejo.

— Ficaria mais feliz sabendo que estarei esperando você vir atrás de mim?

Esperando? Por ela?

Ah, meu Deus, ela não sabia como reagir àquilo, em especial quando a atriz disse:

— Devo avisá-la de que não sou muito boa em esperar. Em especial quando cada voz dentro da minha cabeça está me dizendo para tomar posse do que já é meu.

Antes que ela pudesse responder, Lauren já tinha ido embora, com uma saída tão bem marcada que fez seu coração sentir-se pendurado por um fio.

Um fio muito, muito fino.

A cabeça dela girava, e era tentador voltar e mergulhar no trabalho ou em um banho quente. No entanto, já que essa era a única chance que teria de fazer o restante das compras de Natal, obrigouse a examinar com atenção o restante das maravilhas nos outros andares da Gump’s. Camila estava prestes a pagar pelos presentes quando viu a embalagem ao lado da caixa registradora: um quebra-cabeça de Alcatraz. 

Ela ainda não comprara o presente para dar a Lauren na festa de Natal do elenco e da equipe. O quebra-cabeça não poderia ser mais perfeito. E, ao pedir para a mulher atrás do balcão o favor de embrulhá-lo também, perguntou-se de repente: será que a lei da gravidade teria algo a ver com para sempre assim como tinha a ver com a primeira onda de paixão por alguém?

Ao chegar em casa um pouco mais tarde e desembrulhar os presentes que comprara, ficou surpresa de novo... dessa vez pelas camadas e camadas de lingerie de seda e renda embrulhadas com
capricho em papel de seda que Lauren, de alguma forma, fizera os funcionários da Gump’s colocar dentro das sacolas de compras dela.

Camila poderia ter se escondido de Lauren com toda a facilidade no dia seguinte. Poderia ter ficado com Sofia, que estava filmando as cenas que alternavam bebês trigêmeos recém-nascidos trazidos para o filme. Poderia ter se enfiado nos e-mails, poderia até mesmo ter levado seu computador para casa a fim de trabalhar em paz no espaço alugado.

Mas ela não era covarde, que droga... e não podia deixar Lauren colocar a vida dela na espera enquanto a esperava aparecer.

Camila a encontrou na sala de projeção, sentada no escuro. Estava tão atenta à tela que nem teve certeza se Lauren notara sua entrada na sala, até que ela lhe estendeu a mão e a menor pegou sem pensar.

Em silêncio, assistiram à cena do primeiro dia de filmagem. Ela estava chocada ao pensar que ela e Lauren até ali eram estranhas uma para a outra, pelo menos até quando ela a arrastou para o escritório pedindo lhe que se afastasse da irmã de sua irmã.

Camila se pegou imaginando como poderia ter existido um tempo em que não a conhecia. Lauren se tornara tão importante, tão vital, em cada um de seus dias... e em uma noite tão perfeita que ela nunca, jamais se esqueceria.

No entanto, as perguntas cessaram quando Camila se perdeu de novo na cena do filme, esquecendo-se de tudo exceto o drama passando em frente a seus olhos. Quando a cena terminou e a tela ficou negra, ela teve de dizer:

— Está melhor do que eu me lembrava. Vocês duas ficam perfeitas juntas.

— Nossas personagens ficam perfeitas juntas. Mas elas não são reais — lembrou a ela enquanto a puxava para mais perto na cadeira com rodinhas dentro do quarto mal-iluminado. — Você. Eu. Nós somos reais, Camila. Quanto tempo mais vai me fazer esperar por você?

Mal fazia três dias desde que elas tinham feito amor. Mesmo assim, Camila entendia com precisão por que Lauren se sentia tão frustrado com aquelas 72 horas.

Cada milímetro da pele dela ansiava pelo toque da atriz. Quando acordou do sonho no qual estava segura e protegida nos braços dela, seu coração partiu quando procurou e percebeu que Lauren não estava lá.

— Foi por isso que vim encontrar você — ela disse, odiando a voz trêmula e arfante.

Estava cada vez mais difícil fazer o cérebro e os lábios não obedecerem ao desejo e à paixão que se formava como uma tempestade iminente ao redor deles.

— A lingerie é linda. Não poderia negar ou mentir a você dizendo que vou devolvê-la à loja. — Ela podia sentir a pele ficar cada vez mais vermelha, a cada palavra. — Mas o fato de não poder resistir a usar as coisas lindas que você me comprou não muda nada.

Por um momento, Lauren pareceu ter problemas para respirar. A tempestade se aproximava cada vez mais quando ela enfim suspirou:

— Está usando agora?

Ah, Deus, por que lhe contara aquilo? Estava tentando afastá-la, não atraí-la.

Ou não?

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