Capítulo 21

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Olá, olá vou postar dois capítulos pra compensar a demorar na atualização, eu realmente esqueci...

(1/2)
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A tempestade acabou no meio da noite, deixando um céu azul e brilhante e São Francisco com um ar limpo e fresco, enquanto Camila seguia a caminho de seu escritório no set. Tirou o laptop da bolsa e colocou-o sobre a mesa, a pele ainda formigando da transa lenta e carinhosa com Lauren naquela manhã.

Ela não a acordara quando viera à sua cama no escuro, apenas a envolveu em seus braços e a abraçou. A latina não conseguia se lembrar de ter dormido tão pesado ou tão bem. Tão pouco
conseguia se lembrar de ter acordado com tanto desejo, tanto tesão, tão pronta para ser tocada, beijada, acariciada e amada.

A primeira noite que passaram juntas, e todas as “rapidinhas” que vieram depois, estavam relacionadas à tentação, à descoberta, ao prazer inevitável. No entanto, hoje pela manhã o desejo de uma pela outra fora uma necessidade que nenhuma das duas poderia, ou iria, negar.

Mesmo agora, lembrando-se do ocorrido, fazer amor esta madrugada parecia mais um sonho do que uma realidade em carne e osso. Em absoluto silêncio e se mexendo vagarosamente, tinham gozado juntas com naturalidade e perfeição. O corpo de Lauren se encaixava no seu como se tivessem sido feitas uma para a outra.

Colocou a mão sobre o vão do pescoço onde ela lhe dera um beijo após o outro enquanto se arqueava para recebê-la dentro de si, e sentiu o coração batendo no mesmo ritmo de quando estivera sob seus lábios. Um ritmo não acelerado, mas com um calor lânguido que aumentava a cada descida vagarosa de seu corpo dentro dela. Não conseguia se lembrar de nenhuma outra manhã em que a atriz não estivera com ela, mal conseguia imaginar um tempo em que Lauren não lhe pertencesse.

Os primeiros raios de sol atravessavam a escuridão enquanto Camila se entregava a ela. Os lábios da diretora cobriam os dela com sons de prazer, a língua se enroscava na dela, levando-a ainda mais às alturas antes de Lauren se entregar também.

Tudo o que queria era ficar com ela daquele jeito para sempre, esquecer que o restante do mundo existia do lado de fora daquele paraíso particular.

No entanto, não se esquecera de que Lauren tinha que dar um telefonema logo cedo. Sabia, também, que ela precisava estar no set para dar apoio a Sofi naquele que, com certeza, seria um dia difícil. É bem provável que fosse o dia mais difícil de toda a filmagem.

Além disso, se Sofia visse Lauren saindo de seu quarto, a fofoca já estaria oficialmente no ar... e Camila teria muitas explicações a dar à única pessoa a quem jurou nunca manter segredos.

Quando Lauren chegara à casa delas na noite anterior, Camila tinha certeza de que estava atrás de uma discussão, mas, na manhã seguinte, ela não pediu para que explicasse nenhum de seus pensamentos incessantes e conflituosos. Em vez disso, falou:

— Hoje, quando Sofia e eu estivermos filmando...

Ela pressionou a boca em cima dos lábios da Jauregui para impedila de dizer mais alguma coisa. Filmar cenas de sexo fazia parte do trabalho dela. E, já que não fora capaz de manter as defesas em alerta contra ela nas últimas semanas, então teria de se virar para lidar com aquilo, não teria?

Quando enfim se afastou daqueles lábios bem desenhados e com gosto de pecado, Lauren apenas abriu aquele sorriso de tirar o fôlego e disse:

— Você me faz muito, muito feliz, Camila.

Beijou-a outra vez e desapareceu no minuto seguinte, de volta para o quarto de hóspedes (que não usara), para tomar uma chuveirada rápida, e logo depois saiu pela porta da frente.

Camila percebeu que estivera sonhando acordada com o computador ainda nas mãos por Deus sabe quanto tempo, e deu uma bronca mental em si mesma antes de seguir pelo estacionamento com passos firmes até o trailer de sua irmã.

Sofia abriu a porta vestindo um robe de seda azul. A respiração de Camila parou. A irmã nunca estivera tão linda ou mais pura e inocente, ao mesmo tempo em que a sensualidade fora enfatizada pela maquiagem profissional, pelos cabelos e pela roupa.

— Está linda, Sofi.

A irmã mordiscou o lábio.

— Vai dar tudo certo na filmagem de hoje, não vai, Mila?

Ah, meu Deus, o que mais poderia fazer exceto colocar os braços ao redor de Sofia, sorrir como se aquilo não fosse grande coisa e tentar descontrair dizendo:

— Claro que vai. Vocês são duas profissionais fazendo um trabalho. Sabe que todo mundo diz que filmar uma cena de sexo é a mesma coisa que filmar uma cena de luta? Um braço aqui, uma perna ali.

— Você estará lá o tempo todo, não é?

O set era o último lugar do mundo onde Camila queria estar hoje. Pensar nos lábios, nas mãos de Lauren sobre a irmã dela já fazia seu estômago querer colocar para fora tudo o que não havia comido. Era um cenário fechado, e apenas os membros essenciais da equipe e do elenco estariam lá.

— É lógico que sim — ela prometeu. — E não vou arredar o pé até você ter terminado. No entanto, quando percebeu que a irmã ainda não estava à vontade, continuou:

— Tenho certeza de que será bem como Lauren disse: é provável que se sintam como se estivessem jogando Twister juntas. — Camila fez uma piada. — Mal sabe ela o quanto nós, Cabellos, somos cruéis em nossas partidas de Twister.

Quando Sofia riu, pegou o roteiro e sentou-se com ele nas mãos por alguns minutos, Camila soltou um suspiro de alívio.

Agora, tudo o que precisava era acreditar no próprio comentário sobre o Twister. Camila tentou fingir que esse dia não chegaria, e ignorá-lo não adiantou nada.

Quando Sofia resolveu querer ser atriz, Camila fez a irmã concordar com uma regra difícil e rápida: não importava o quanto um estúdio ou um produtor pagasse, ela nunca filmaria cenas de sexo sendo menor de idade. Se por lei não podia beber, não tiraria a roupa na frente de um grupo de estranhos nem ficaria rolando em uma tela gigantesca para milhões de espectadores babões.

Camila não achava, e também não queria, que a irmã fosse uma menininha para sempre. Ao contrário, admirava a jovem encantadora que ela se tornara, apesar das pressões de Hollywood para transformá-la em uma cópia exata de outras atrizes por aí.

O único problema com o fato de Sofia já poder pedir um copo de vinho em restaurantes era que as cenas de sexo agora não estavam mais fora da lista.

Camila também reconhecia que ninguém acharia que uma cena de sexo no filme de Lauren seria desnecessária, apenas para aumentar audiência. Ao contrário, era uma parte crucial da trama e do desenvolvimento das personagens de Jo e Megan, na medida em que passaram de amigas a amantes.

Mesmo assim, não sabia como agiria ao vê-la fazer amor com sua irmã. Pior ainda, considerando que aquele seria um dos momentos mais aterrorizantes da carreira da irmã até agora, como Camila poderia se perdoar por dar mais valor aos seus sentimentos do que aos de Sofia?

Quando o assistente de produção veio chamar Sofia, por sorte ela parecia tão relaxada como se fosse filmar um comercial de pasta de dentes.

Já Camila deveria parecer prestes a fazer um tratamento de canal, e sem anestesia.

~~

Lauren ainda se lembrava da primeira cena de sexo que filmara. Ela fora escalada para ser uma modelo revoltada que seduziu uma fotografa. A atriz era dez anos mais velha, e ela ficou nervosa, ainda que desesperada para não demonstrar. Felizmente, sua parceira era tão gentil quanto linda, sem mencionar que era muito bem casada.

Ela tornou a experiência tão fácil para a Jauregui que, ao longo dos anos, Lauren também se esforçara ao máximo para fazer a mesma coisa com seus coadjuvantes. Nem todas queriam manter as coisas apenas no nível profissional, e ela nunca fizera uma reclamação nos projetos nos quais ir da cama da ficção para a cama de verdade era o progresso natural das coisas.

Mas Sofia era diferente. Apesar da atração intensa na tela que as duas criaram para seus papéis, na vida real ela nunca poderia se imaginar fazendo amor com a mais nova. Não havia a menor chance de que qualquer coisa que fizessem hoje em frente às câmeras pudesse um dia acontecer de verdade. Era tudo fantasia, nada além de faz de conta.

Do ponto de vista de uma roteirista e diretora, a cena de sexo fazia parte da história que estava sendo contada, só isso. Ainda assim, compreendia o quanto era difícil para os atores de ambos os sexos se abrir de um jeito fisicamente tão íntimo em frente a dezenas de pessoas da equipe e de câmeras que pegavam até mesmo os menores movimentos.

Ao longo das últimas semanas, ela fez questão de analisar a cena sob todos os ângulos. Criou uma lista com a sequência de cenas, até agora a mais técnica de todas. Sabia com precisão como a cena deveria ser, que a profunda conexão sensual não levaria à conclusão final entre Jo e Megan.

De fato, era um novo começo para as duas personagens, tendo em vista que percebiam o quanto precisavam uma da outra para desfrutarem uma vida plena.

A verdade era que ela não vinha transformando aquela cena em um exercício técnico apenas para o bem de Sofia.

Fizera-o também em benefício próprio.

As cenas de sexo nunca foram um problema para ela antes. Até agora, quando enfim descobrira a verdadeira força de fazer amor de verdade na vida real.

Ao tocar Camila, ao beijar a pele nua na curva de seu ombro, ao deslizar para dentro dela e sentir a arfada de prazer na profundeza de sua alma, o sexo tornou-se algo muito maior, muito mais importante do que apenas prazer e orgasmos.

Ela levantou os olhos das anotações que fizera nas margens do roteiro no momento em que Sophia entrou no set, com Camila no seu encalço, logo atrás. Era difícil manter o foco em sua parceira de cena quando cada um de seus sentidos vinha à tona perto da mulher que passara a ter tanta importância para ela. Mas, se havia uma hora em que precisava estar em total sintonia com a irmã Cabello mais nova, era agora.

— Pronta para o nosso jogo de Twister?

Ela ficou feliz quando Sophia sorriu.

— Pode apostar. Vamos fazer esse negócio. Sofia se dirigiu até a marcação do set, e Lauren sentiu Camila lhe tocar o braço.

— Sei que não pode pegar leve com ela hoje — ela falou — e que precisa filmar a cena do jeito exato como a escreveu, mas...

— Vou tentar fazer com que seja o menos doloroso possível — prometeu, em voz baixa. — Para todo mundo.

No entanto, Camila não estava olhando para Lauren. Em vez disso, fitava as costas da irmã, com um olhar tão triste que fez a maior querer abraçá-la, segurá-la nos braços e jurar que nada do que acontecesse hoje no set teria a ver com o que ambas estavam construindo juntas.

Lauren estava a ponto de fazê-lo, de mandar para o inferno os protestos e as regras dela com relação a manter o caso em segredo, quando os olhos de Camila por fim encontraram os verdes dela.

— Confio em você com ela. — Ela balançou a cabeça, como se tentando se convencer daquilo que estava dizendo. — Confio de verdade.

Levando em consideração que a irmã era tudo para Camila, confiar que hoje ela não magoaria Sofia significava muito para a atriz. Mas seria ainda mais importante se soubesse, com certeza, que a latina confiava nela para não magoar a si.

~~

Camila apertou tanto as mãos que a pele das palmas foi cortada pelas unhas assim que Lauren e Sofia tomaram seus lugares no set. Mas não sentia a dor física, não quando mal conseguia respirar pelo aperto que sentia no peito.

Lauren disse algo que fez sua irmã rir e, então, de repente, as câmeras começaram a rodar, e Sofia estava nos braços dela, os lábios da mais velha encobrindo os dela. No momento em que os
lábios apaixonados se tocaram pela primeira vez, a bile subiu pela garganta de Sophia e ela precisou cobrir a boca com as duas mãos para evitar vomitar na frente de todo mundo. ( N/A: calma que é de nervoso)

Vez após outra, o beijo era capturado em ângulos diferentes, mesmo assim não ficava mais fácil assistir, não machucava menos ver a irmã agir como se estivesse derretendo nos braços da amante de Camila na vida real. 

Não importava quantas vezes Camila lembrava a si mesma que aquilo não era real, que estavam apenas representando, que seus salários exigiam aquilo, o beijo parecia nunca terminar.

No entanto, aquele beijo interminável era melhor, muito melhor do que quando a cena começou a avançar... e as roupas começaram a cair quando as personagens de Lauren e Sofia caminharam juntas até a cama.

Se não fosse pela promessa que fizera a irmã de não arredar o pé, Camila teria corrido para o mais longe possível. Mas não podia. Tinha de ficar bem onde estava, sentada na primeira fila vendo uma cena de sedução de filme muito longe de parecer faz de conta.

Ela se esqueceu de respirar quando Lauren, caracterizada como Megan, colocou Sofia, interpretando Jo, com delicadeza sobre a cama. Despiu-a do robe com as mãos delicadas e olhou-a com reverência, como se estivesse vendo algo belo pela primeira vez na vida.

Sentindo-se como se tivesse milhares de facas sendo enfiadas em cada milímetro da pele, Camila mal podia acreditar que não estivesse espalhando sangue pelo set. A cena parecia continuar para sempre, com a irmã arqueando-se diante do toque dela, dos lábios de Lauren passando pela pele dela e as mãos seguindo por onde os beijos passaram.

Pontos negros começaram a dançar na frente dos olhos de Camila quando Lauren de repente tirou a cabeça de cima da barriga da irmã dizendo “Corta”. Era a ducha de água fria exata de que ela precisava, a pausa suficiente para impedi-la de escorregar pela cadeira e cair no chão.

Um minuto depois, as atrizes estavam fora da cama, assistindo ao playback a poucos metros de onde Camila estava sentada. Mesmo sem edição ou efeitos, era uma das cenas de amor mais lindamente filmadas que já vira.

Seu coração estava quase se partindo ao meio ao perceber que Lauren era tão boa na cama com a irmã quanto era com ela, quando enfim começou a prestar atenção à conversa das duas pessoas mais importantes em sua vida.

— Preciso me lembra de manter os olhos abertos nessa parte, não preciso? — Sofia perguntou. — Ou vai parecer que estou detestando, em vez de estar adorando.

Lauren concordou com a cabeça.

— Nossas mãos estão estranhas aqui. E se, em vez disso, tentarmos assim? — Lauren colocou as mãos de Sofia nos ombros dela, então escorregou os braços até a cintura de Sofia.

A respiração de Camila estava se normalizando quando a irmã disse:

— E minhas pernas? Acho que elas estão caídas aqui embaixo.

O diretor de fotografia deu uma sugestão de qual seria o melhor ângulo para filmar as extremidades de baixo, e Camila teve um momento de lucidez. Ela estava assistindo à coreografia de dois corpos em tempo real, em um filme. Já vira milhares de vezes ao longo dos anos, sabia que criar um bloqueio era importante até mesmo para as cenas não sexuais, mas nunca teve uma opinião a respeito. Porque antes não era pessoal.

Porque, antes, nunca quis ter nenhuma atriz para si.

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