Capítulo 20

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oi, oi

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Camila sempre levava alguns minutos para voltar ao mundo real depois que uma cena chegava ao fim, mas, à medida que as emoções se aprofundavam a cada cena que Lauren e Sofia gravavam, voltar à tona se tornava cada vez mais difícil, ainda mais agora, que tinha enviado seu roteiro a Luke e não tinha outro lugar para extravasar suas emoções. Nos últimos dias, não conseguia tirar da cabeça a história de amor proibida sobre a qual ela e Lauren tinham conversado em Alcatraz e sabia que, logo, logo, colocaria as palavras no papel.

Por sorte, não era a única que precisava respirar fundo e livrar-se do mundo da ficção, pois a irmã tagarela de Lauren parecia tão encantada quanto ela com o que se desenrolou no set.

— Ah, meu Deus! — Taylor exclamou. — Acho que meu coração acabou de se quebrar em milhões de pedacinhos e grudar de volta ao mesmo tempo.

— Tem sido assim desde o primeiro dia de filmagem — Camila lhe contou.

Taylor virou-se para ela.

— Sofia está preparada para ser uma grande estrela? Porque, depois disso, ela será.

— Espero que sim. Tudo que quero é que ela seja feliz.

Taylor assentiu.

— Sinto a mesma coisa com relação à Lauren. Muitas coisas às quais pessoas comuns não dão valor, como comprar uma xícara de café ou ter um primeiro encontro, são bem difíceis para Lauren fazer sem as pessoas enlouquecerem quando percebem quem é ela. Mas nunca a vi reclamando de nada, ainda que lhe dê nos nervos de vez em quando. Todo mundo acha que ser famoso é puro glamour, mas essa é só uma pequena parte. Às vezes, quando olho para a vida de Lauren, tudo o que vejo são muitas horas de trabalho, trabalho duríssimo e uma perda de privacidade horrível.

Camila concordava com tudo. Alguns atores estavam naquela vida por causa da fama. Outros continuavam a dar o melhor de si por gostarem da profissão, apesar dos pesares. Lauren com certeza pertencia ao último grupo, já que nunca a vira fazer qualquer coisa apenas para ter o nome na mídia. E, nas últimas semanas que passaram juntas, Camila sabia que a irmã dela estava certa Lauren estava fazendo um excelente trabalho ao lidar com uma situação quase sempre impossível.

A culpa lhe queimou por dentro diante da maneira como a irmã colocou o ato de ser uma pessoa normal uma coisa ainda mais difícil para a atriz. Lauren quis levá-la para sair; ela lhe disse não na mesma hora, sem lhe dar a menor chance; quis que ela passasse mais de uma noite com em sua casa depois de Alcatraz; ela teve muito medo de que Sofi e depois todo mundo no set, descobrissem; tentou demonstrar de várias maneiras diferentes que se importava com ela; ela tentou fingir várias vezes que não estava nem aí, quando a verdade era que se importava cada vez mais, a cada segundo. Claro, tinha seus motivos, e sabia que, até certo ponto, a diretora os compreendia, mas isso não tornava a situação mais justa.

Taylor manteve o olhar em Camila, a expressão dela atipicamente séria.

— Lauren tem sido a melhor irmã mais velha do mundo, e ama loucamente a mim, a meus irmãos e à minha mãe. — Os olhos dela se suavizaram. — Ela não sabe amar de outro jeito. Nenhum Jauregui sabe.

Taylor não estava acusando-a de nada, mas Camila de repente quis pedir perdão, quis dizer à irmã de Lauren que não teve a intenção de brincar com o coração dela, que faria tudo o que fosse possível para mantê-la como amiga, apesar da atração e do desejo desesperado que ardia entre elas, feito um incêndio incontrolável. E, antes que pudesse colocar tudo isso para fora, os braços de Taylor a circundaram em um abraço carinhoso. Ela sorriu, o brilho zombeteiro de volta aos lindos olhos esverdeados enquanto se despedia:

— Fiquei tão feliz por tê-la visto hoje de novo, Mila. Agora é minha vez de perturbar minha irmãzinha.

Camila encontrou o olhar de Lauren enquanto Taylor se retirava, e o lampejo de calor e emoção que a percorreu lhe dizia que, não importava o quanto tentasse se enfiar no trabalho pelo restante da tarde, seria impossível se esquecer do que acontecera no escritório da atriz naquela manhã.

Ou do quanto gostaria de lhe dar tudo o que ela merecia por direito. Isso significaria mudar quem ambas eram... e ela já sabia que nenhuma das duas queria fazer isso com a outra.

~~

Taylor e Lauren iam em direção ao escritório dela quando a mais nova a agarrou pelo braço, abriu um sorriso largo e perguntou:

— Você é a pessoa misteriosa da qual Camila não consegue se livrar, não é?

Reconhecendo que Taylor estava explodindo de felicidade por descobrir que ela era a “não namorada” de Camila, Lauren resmungou:

— Acabou de ganhar o dia, não é, Impertinente?

— Está brincando? Acabei de ganhar o ano! — ela lhe provocou antes de continuar: — Camila é linda, mas nada a ver com o seu tipo de mulher.

Taylor estava certa. Ela em geral preferia mulheres que se pareciam mais com a irmã mais nova de Camila. Frágeis e menos curvilínea.

— Não há nada de estereotipado em Camila — ela retrucou a Taylor, cansada e frustrada pela situação. — Nunca conheci ninguém como ela antes.

Ao entrarem no escritório, Taylor de imediato notou a bagunça sobre a mesa e no chão, onde os papéis e o grampeador caíram naquela manhã, além do fato de que a mesa agora se encontrava
em um ângulo estranho da sala. Não dava para ser mais explícito o que ela e Camila tinham aprontado.

— A primeira mulher de quem realmente gosta e a melhor coisa que consegue fazer é arrastá-la até aqui para dar uma rapidinha em cima da mesa? — Taylor balançou a cabeça em desgosto. — Não é à toa que ela ainda está em cima do muro.

Que droga, Lauren odiava ter de concordar com a análise irritante da irmã. 

Conquistar Camila estava se provando ser uma tarefa difícil, muito difícil. Pelo menos fora do quarto. Mantê-la nua e arfando com ela até conseguir convencê-la de que tinham mais do que um caso enquanto filmava era muito mais tentador do que deveria ser em termos racionais.

Mas, já que sexo não era o problema, é óbvio que mais sexo não adiantaria nada.

Sabia que Camila confiava nela com relação à irmã; mesmo assim, as questões mais importantes continuavam lá: não apenas como fazê-la confiar-lhe o coração, mas também como fazê-la acreditar que, juntas, achariam uma maneira de passar por cima da fama.

— Eu gosto da Mila — Taylor afirmou. — Muito. Tanto que, com sinceridade, não me importaria de tê-la nos eventos familiares nos próximos quarenta ou cinquenta anos. —A irmã encarou-a com um olhar afiado. — Sério, é por isso que espero de você um plano melhor do que esse. — Ela apontou para a mesa de novo, balançando a cabeça mais uma vez, frustrada. Lauren tirou o blazer que sua personagem Megan sempre usava e olhou com cara feia para o espelho. Odiava que houvesse tanta sabedoria nas palavras ditas por Taylor, forçando-a a manter as mãos longe de Camila até convencê-la a namorá-la de verdade, às claras, em vez de ficarem se escondendo pelo set em um caso de amor clandestino.

Ao jogar o blazer sobre a cadeira do escritório, porém, Lauren se recusava com veemência a abrir mão daqueles momentos preciosos quando Camila baixava a guarda, abrindo-se e se conectando a ela. Como havia dito a menor naquela tarde: não desistiria de encontrar o caminho secreto que levava ao coração dela.

Taylor chegou mais perto e colocou os braços em volta da cintura da irmã.

— Acredite em mim — ela disse, com um suspiro de compaixão. — Se alguém sabe como está se sentindo, sou eu. O amor é uma merda, não é?

— Não — respondeu à irmã, a quem desejava nada além do melhor na vida. — O amor é a parte boa.

De algum modo, Lauren teria de descobrir um jeito de lidar com o restante.

~~

Já estava escuro e caía uma tempestade na cidade quando Lauren saiu de sua última reunião. A bateria do celular tinha acabado duas horas antes, e, apesar de imaginar que haveria dezenas de recados e e-mails à sua espera, ela não foi para o escritório nem para casa.

Em vez disso, dirigiu dezenas de quarteirões até a casa alugada que Sofia e Camila estavam dividindo. 

Durante toda a tarde, a conversa que tivera com Taylor ficara martelando em sua cabeça. A mais nova tinha razão quando falava que ela estava jogando errado com Camila. Conforme os dias viravam semanas, cada vez ela ficava mais frustrada.

Idiota.

Era isso que Lauren era por não admitir que Camila seria mais forte do que quaisquer de suas tentativas de impressioná-la. Afinal de contas, a força dela era uma das coisas pelas quais  se apaixonara, desde o dia em que a empurrou contra a parede com o aviso de que era melhor tratar Sofia direito, ou o caldo ia engrossar.

Seus encontros sexuais eram de uma satisfação enorme em termos físicos, mas não estavam a levando nem perto de despir as outras camadas de Camila. Não quando o que ela queria para ambas era muito mais profundo do que desejo.

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