Capítulo 26

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Ah, meu Deus, Camila pensou, ao sentar-se no banco do passageiro do carro de Lauren com Sofia no banco de trás, Não quero esta vida. Nunca quis esta vida.

Lauren deu a partida no carro e saiu voando rua abaixo, longe dos paparazzi que ainda tiravam fotos. Camila sentiu a mente pesada, mas, ao mesmo tempo, vazia. Não sabia o que pensar, não sabia como lidar com o estranho sentimento de satisfação vendo a mais velha defender a ela e à irmã, combinado a preocupação da atriz se machucar na briga. Isso sem falar nas consequências e repercussão da completa perda de controle dela, que com certeza viriam depois.

No banco de trás, Sofia ligara imediatamente para a assessoria de imprensa do filme, para que pudessem dar início ao controle de danos. Mas Camila não conseguia nem começar a se concentrar no que sua irmã estava dizendo. Não conseguia tirar os olhos de Lauren, de como suas juntas das mãos estavam machucadas e ensanguentadas onde tocaram a ponta de câmera, e, depois, os ossos do maxilar do fotografo. Seu maxilar estava travado com força, e ela podia sentir a fúria, a frustração emanando dela, seus olhos ainda faiscavam.

— Você está bem?

A voz dela soou estranha a seus ouvidos. Tão estranha que, como Lauren não respondeu, imaginou que talvez não tivesse dito as palavras em voz alta.

Tentou de novo.

— Sua mão. Está sangrando. Você está bem?

Dessa vez, apesar de ter certeza de que falara em voz alta, ela continuou sem responder.

— Lauren?

No farol vermelho, ela pisou fundo no breque e virou-se para a latina, o que demonstrou em seus olhos fez a respiração da menor parar na garganta.

— Você está certa — ela falou, a voz mais profunda do que o normal. E tão cheia de dor. Seja lá sobre o que ela tivesse razão, não queria que Lauren dissesse. Só queria que tudo... — Não sou boa o bastante para você. Minha vida não é boa para você.

Ah, meu Deus. Camila já achava que as coisas estavam ruins, mas isso — isso — era mil vezes pior.

Desde o início, Lauren tivera certeza: certeza de que a queria; certeza de que o sentimento era reciproco. E tivera absoluta certeza de que poderiam encontrar uma maneira de fazer as coisas darem certo quando todos os sinais apontavam para a direção oposta. Ficou tão chocada e tão ferida pela declaração da atriz que se petrificou, apenas com a mão da irmã no ombro, aquecendo uma pequena parte dela.

Como gostaria de lhe dizer que estava errada e que conseguiria administrar esse tipo de vida. Mas como poderia, se estava presa em algo parecido com uma rede de impossibilidades? Uma rede feita da crença de que ela não era, de fato, capaz de lidar com a fama, juntamente com a fome voraz da mídia e dos paparazzi, que sempre teriam a intenção de colocar todos os holofotes em cima de seja lá quem fosse que Lauren estivesse.

Se não podia dizer, se não podia colocar as palavras para fora e fazer tudo ficar melhor, então o que seria?

Será que Lauren iria dizer que tinham terminado?

Só de pensar nisso, seu estômago revirou, o peito apertou e lhe faltou o ar. O que sentiu depois de ver a história horrível sobre as três ou até mesmo quando os paparazzi tiravam fotos dela e proferiam palavras ofensivas, não era nada comparado a perder Lauren de verdade.

Lauren parou no estacionamento exclusivo para o elenco e a equipe, e Sofia apertou o ombro de Camila uma vez, dizendo, antes de sair do carro:

— Aviso ao pessoal que vocês duas chegarão logo.

Camila olhou para a mão de Lauren de novo, viu o sangue seco e desejou saber o que dizer. O que fazer. Antes, sempre soubera, sempre tivera certeza sobre o que procurar e o que evitar. Até agora. Até Lauren entrar em sua vida e tudo em que ela acreditava, tudo sobre o que tinha certeza, virar do avesso, até que a única coisa que sabia era o quanto a queria, o quanto gostava de estar com ela, o quanto precisava dela.

Mesmo não tendo ideia do que dizer, do que fazer ou do que sentir, ela sabia de uma coisa: não poderiam sair do carro daquele jeito. Não podiam passar o dia no set com “Você está certa. Não sou boa para você” martelando no ouvindo das duas sem parar.

Quando enfim estava prestes a dar uma resposta, viu os flashes vindo da calçada além do set. Claro que os paparazzi viriam. Ela estava chocada demais por tudo o que já acontecera esta manhã para pensar à frente.

Lauren os viu na mesma hora e alcançou a maçaneta da porta para sair do carro e fugir das câmeras quando Camila colocou a mão sobre o braço dela.

— Lauren.

Quando a atriz se virou para encarar a latina, sua expressão estava tão apavorada quanto a de Camila deveria estar, e a mais nova se viu na obrigação de dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Nem que fosse só para Lauren saber que ainda não estava pronta para desistir, e que ainda queria ver se conseguiriam encontrar uma maneira de fazer o felizes para sempre dar certo.

Abriu a boca para tentar encontrar as palavras, mas o medo prendeu-as na garganta.

A débil esperança que iluminara os olhos verdes por um momento se fora.

Ao final, foi Lauren quem falou:

— Precisamos ficar longe das câmeras.

Reconhecendo que Lauren estava certa, ela a acompanhou, em silêncio, do carro até o set, agora reforçado com segurança extra. Qualquer coisa que pudesse ter dito fora engolida pela preocupação do elenco e da equipe, que haviam se tornado uma família para as duas. Ninguém comentou sobre Lauren e Camila estarem juntas, apenas sobre a indignidade dos paparazzi de se meterem em seus negócios particulares.

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Seis terríveis horas depois, durante as quais cada uma se esforçou ao máximo para fazer seu trabalho, e fazer bem, apesar de tudo o que acontecera naquela manhã, Camila observou o operador de câmera e a designer de iluminação, casados, se beijarem durante as cenas. O peito dela se apertou ao ver a afeição despreocupada deles.

Como seria poder beijar Lauren sem se preocupar com o que as pessoas diriam?

Porém, quando as câmeras voltaram a filmar, Camila sabia que aquele não era o problema verdadeiro. Afinal, ela nunca se importou com o que pensavam dela.

Tinha sido covarde ao não confiar que o relacionamento delas fosse adiante, ainda mais depois do filme, quando cada uma seguiria com os próprios projetos. Tentara apoiar a covardia dizendo a si mesma que as coisas com Lauren tinham surgido do nada e que tudo acontecera rápido demais, que não tinha entrado neste projeto procurando uma mulher para se apaixonar...

— Corta!

Quando Camila olhou surpresa para Lauren, e percebeu que estava segurando o telefone no ouvido, congelou de novo, pensando que a ligação tivesse a ver com as consequências daquela manhã. No entanto, aquilo não explicaria o inesperado fluxo de alegria que tomou conta do rosto dela. E então viu o nome nos lábios da atriz — Lucy — e soube.

A irmã dela estava tendo os gêmeos.

Ela levantou da cadeira que estava quando Lauren caminhou em sua direção.

— Sei que não sou da família — ela disse —, mas...

— Venha ficar feliz comigo, Camila.

Ah, Deus, sim, por favor. Queria tanto compartilhar a alegria dela. Lauren disse a todos para tirarem o restante do dia de folga, e então as duas apostaram uma corrida até o carro. As câmeras começaram a pipocar outra vez assim que apareceram, e, apesar das entranhas de Camila se contorcerem mais uma vez, e de poder ver as veias saltando no pescoço de Lauren, ela fez o melhor que pôde para ignorar os paparazzi.

Ela adorava bebês: o cheiro, a inocência, a pele macia. Até mesmo a maneira como franziam o rostinho quando estavam furiosos com o mundo por deixá-los com fome, ou molhados ou com sono.

Ainda se lembrava do dia em que Sofia nascera, o amor instantâneo que sentira pela irmãzinha bebê. A mãe deixou-a segurar a recém-nascida minutos depois do parto e, quando a irmã a olhara com aqueles lindos olhos castanhos, Camila mergulhara de cabeça naquele amor tão forte que a guiara pela vida toda.

— Minha mãe disse que ela teve contrações quase toda a manhã e que estão próximas o bastante para podermos ir até lá.

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