E Se Fosse Verdade - GiRafa

Tempo

Na guarita, um senhor visualiza tudo como se fosse um filme, só que tinha acontecido de verdade. Pega o celular e disca para emergência, pedindo ajuda.

O tempo corre, um minuto faz total diferença em situações assim. Um minuto poderia ter feito a diferença para essa jovem, o senhor pensava. Como foi para ele, afinal hoje saiu um minuto antes da sua casa e presenciou tudo isso, o que oportunizou chamar por socorro.

Tempo, tempo, tempo, tempo...

A ambulância se dirige até o local, os socorristas ao chegar visualizam o carro chamuscado. E percebem que a batida pegou o veículo em cheio. Dois policiais já estavam ali, um deles conduz Tais - uma das internas que estava a serviço – até a vítima.

-Onde está? – Tais questiona.

-Ali. É uma mulher e é médica, talvez a conheçam..

Tais, ajoelha junto ao corpo de Gizelly, grita seu companheiro para que lhe auxilie. Corta o jeans da vítima, na perna esquerda a uma grande deformação, tudo indicava fratura, e notava outros vários hematomas.

- Prepara-me as chapas e a perfusão. O pulso está fraco, não há tensão, respiração a 48, ferida na cabeça, fratura no fêmur direito, com hemorragia interna, deformação na perna esquerda. A conhecemos? É do hospital?

-Sim, eu já a vi. É interna de plantões, trabalha com a Dra. Thelma. É a única que tolera ela.

- O que se vê? – pergunta ao seu companheiro.

- Nada bom, pressão 8/6, pulso a 140, lábios cianóticos. Prepare uma sonda endotraqueal de 7, vamos entubar.

Tais acaba de colocar o cateter, pede auxílio do policial que  a guiou. Para que ele segure o soro. Direciona- se para seu companheiro, pedindo que ele injetasse 5mgs de adrenalina no tubo, e que preparasse o desfibrilador.

No mesmo momento a temperatura de Gizelly começa a baixar rapidamente. O eletrocardiograma mostrava-se irregular. O coração batia fraco, um sinal curto e repetitivo, emitia um aviso da iminência de uma fibrilação cardíaca.

- Vamos querida, fique conosco. Deve estar com alguma outra hemorragia interna. Como está seu ventre?

- Brando. Provavelmente sangra na perna. Você está preparada para entubação?

Em menos de um minuto, Gizelly estava entubada. Tais verifica as constantes, a respiração da paciente estava estável a pressão tinha abaixado a 5. Ao notar um sibilar curto e um som que saiu do aparelho.

- Já começamos... está fibrilando. Me dê trezentos..

O corpo arqueou pelo efeito da descarga.

- Não foi. Coloque 360. Tentaremos novamente.

O corpo se ergueu novamente e caiu inerte.

- Passe mais 5mgs de adrenalina. E torne a carregar 360. VAMOS!

Outra descarga, outro sobressalto. Outra descarga, outro sobressalto.

-Fibrilando. Nós a perdemos. Injete uma unidade de lidocaína e volte a carregar.

O corpo elevou-se.

- Injete 500mgs de Berilium e carga 380, rápido.

Gizelly sofreu nova carga. Seu coração pareceu ter respondido bem as drogas injetadas e recobrou um ritmo estável, mas logo caiu. O barulho retornou.

-Parada cardíaca! – Pedro companheiro de Tais fala.

Tais começa uma massagem cardíaca.

- Não se faça de boba, hoje faz um lindo dia. Não nos faça isso. – Pedro recarregue a máquina.

- Deixa, Tais. – Pedro diz – É inútil.

Tais não desistiu. Pediu que Pedro aplicasse uma nova quantidade de drogas e deu outra descarga em Gizelly, mas nada adiantou. O corpo continuava inerte.

Pedro então pediu que a colega declarasse o óbito. Tais percebe que não tinha mais o que fazer, declarou.

- Hora da morte, sete e dez.

Depositaram o corpo de Gizelly na maca dentro da ambulância, colocaram uma coberta em cima de seu corpo. É seguiram para o hospital.

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NOTAS:

Oração ao Tempo é uma composição de Caetano Veloso. Mas, a interpretação que mais gosto é a versão da deusa Maria Bethânia. Essa mulher é demais!!

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