Nosso Nó(s)

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Rafaella sentou-se no sofá e começou a mordiscar um lápis que havia pego da mesa. Permaneceu assim vários minutos; logo se levantou, sentou-se à mesa de trabalho e começou a escrever em uma folha de papel. Havia passado quase uma hora, quando dirigiu-se a Gizelly, muito séria.

- Quais tratamentos aplicam em seu corpo no hospital?

Gizelly falou que a alimentavam mediante perfusão, uma vez que não havia outro modo possível. Injetavam três vezes por semana antibióticos por razões preventivas. Descreveu as massagens que faziam em seus quadris, cotovelos, joelhos e ombros para que não se formassem escaras. Os demais cuidados consistiam em controlar seus sinais vitais e sua temperatura. Não estava conectada a um respirador artificial.

- Sou autônoma, este é o problema para eles, se não o fosse, não teriam mais que me tirar da tomada.

- Então, por que dizem que é tão caro?

- Pela cama.

Explicou que em um serviço hospitalar as camas custavam uma fortuna. Limitavam-se a dividir o custo do funcionamento de cada serviço pelo número de camas mantidas e pelos dias por ano que se encontravam ocupadas, dessa forma, obtinha-se o custo diário da hospitalização por serviço: neurologia, reanimação, ortopedia...

- Talvez possamos resolver nosso problema e os deles ao mesmo tempo - disse Rafaella.

- O que você pretende fazer?

- Você já cuidou alguma vez de pacientes em seu estado?

- Sim, mas durante períodos muito curtos, nunca durante hospitalizações grandes.

- E se você tivesse que fazê-lo?

- Acredito que conseguiria, é quase um trabalho de enfermagem, salvo quando surgia alguma complicação repentina.

- Então, você saberia fazê-lo?

Gizelly não entendia onde a mulher queria chegar.

- O da perfusão. É muito complicada? Insistiu Rafaella.

- Em que sentido?

- Complicada de conseguir. Pode ser encontrada na farmácia?

- Na do hospital, sim.

- Em uma farmácia pública não?

Gizelly parou para pensar alguns segundos e assentiu; poderia elaborar uma perfusão comprando glicose, anticoagulantes e soro fisiológico, misturando-os. Era possível.

- Vou chamar Bianca - disse Rafaella.

- Para quê? O que você pretende fazer?

- Vamos sequestrar você!

Gizelly ficou chocada, não entendia onde ela iria parar, mas começava a ficar preocupada.

- Vamos sequestrar você. Se não existir um corpo, não tem eutanásia.

- Você está LOUCA. Como vamos sequestrar-me? Onde esconderemos o corpo? Quem tomará conta dele?

- Calma, muitas perguntas de uma vez.

Ela se ocuparia de seu corpo; tinha a experiência necessária. Só havia que encontrar o modo de conseguir provisões do líquido da perfusão, mas, pelo que havia dito, não parecia impossível. Talvez devessem trocar de farmácia, de vez em quando, para não chamar demasiadamente a atenção.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora