Um Pequeno Imprevisto

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Às 22h, Bianca estacionou a ambulância na garagem de Rafaella, subiu as escadas e a chamou à porta.

- Estou pronta - disse. - Coloque esta bata e estes óculos. São lentes neutras.

- Você não tem perucas também?

Rafaella ignorou a pergunta da amiga.

- Vou explicar tudo durante o trajeto. Venha, temos que estar ali na hora da troca de turno, às 23 em ponto. Gi, venha conosco. Precisamos de você.

- Você está falando com o fantasma? - perguntou Bianca.

- Com alguém que está conosco, mas que você não vê.

- Rafa, tudo isso é uma brincadeira, ou você realmente está se tornando meio doida?

- Nem uma coisa nem outra. É impossível entender, assim, não vale a pena explicar. Venha, é melhor irmos logo!

Disfarçadas de médico e motorista de ambulância, respectivamente, foram para a garagem. Bianca se colocou ao volante, Rafaella se sentou a seu lado e Gizelly entre as duas.

- Você quer que eu ligue as luzes giratórias e a sirene, Doutora?

- Pode levar isto a sério?

- Ah não, amiga, isso é que não. Se eu levar a sério, que estou numa ambulância que peguei para ir com minha sócia roubar um cadáver de um hospital, sou capaz de acordar, e então, seu plano irá por água abaixo. De modo que vou procurar com que me pareça o menos sério possível, assim, seguirei acreditando que estou sonhando... ou tendo um pesadelo. O lado bom é que as noites de domingo sempre me pareceram tristes, e isto está movimentando um pouco a vida.

Gizelly começou a rir.

- Você acha graça? – Rafaella perguntou.

- Você pode parar de falar sozinha de uma vez por todas?

- Não falo sozinha.

- Tá certo, existe um fantasma aí atrás. Mas, não fique fazendo comentários com ele, pois fico nervosa.

- É ela.

- Quem?

- É uma mulher e está ouvindo tudo o que você fala.

- Quero os mesmos cigarros que você está fumando.

- Dirija!

- Ela é sempre assim? -perguntou Gizelly.

- Muitas vezes.

- Muitas vezes o quê? - perguntou Bianca.

-Não falava com você. Por que esta com essa cara?

- Você ainda me pergunta? Amiga, você fica falando sozinha, com a maior convicção!

- Não falo sozinha, Bia, falo com Gizelly. Por favor, confie em mim. Quantas vezes preciso repetir! - Resmungou Rafaella levantando a voz. - A única coisa que peço é que você confie em mim.

- Pois se você quiser que eu confie em você, conte-me tudo! - gritou Bianca -. Porque você parece uma demente, faz coisas estranhas, fala sozinha, acredita em histórias de fantasmas e me leva numa aventura ridícula!

- Ok, vamos lá de novo. Tentarei contar tudo e você fará todo o possível para entender, certo?

E enquanto a ambulância atravessava a cidade, Rafaella contou a sua amiga, de sempre, o inacreditável. Contou tudo, desde o princípio, desde a aparição no closet até esta noite. Esquecendo-se por um instante da presença de Gizelly, falou-lhe sobre ela, de seus olhares, de sua vida, de suas dúvidas, sua força, suas conversas, da ternura dos momentos compartilhados, de suas discussões, do seu humor.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora