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Rafaella contemplou a paisagem que a rodeava. Subiu a pequena escada de pedra que margeava o caminho. Já na metade, vislumbrou os restos do roseiral à sua direita. O jardim estava abandonado, uma variedade de perfumes misturados provocavam, a cada passo, uma dança incontrolável de lembranças olfativas.

As altas árvores se inclinavam, movidas pelo vento ligeiro da manhã. Algumas ondas batiam nos rochedos. À sua frente, viu a casa adormecida, tal qual a deixara em seus sonhos. Parecia-lhe menor, a fachada havia sofrido alguns desgastes, mas o telhado se encontrava intacto. Bianca estacionara o carro e a esperava fora do mesmo.

- Você demorou!

- Quase vinte anos!

- O que faremos?

Colocariam o corpo de Gizelly no escritório, no andar inferior. Rafaella introduziu a chave na fechadura, e, sem vacilar, girou-a, abrindo-a. A memória contém fragmentos de lembranças que podem ser trazidos à superfície, em qualquer momento, sem que saibamos o porque. Até o ruído do fecho lhe pareceu familiar. Entrou no corredor, abriu a porta do escritório, à esquerda da entrada, cruzou a habitação e abriu as janelas protetoras. Deliberadamente, não prestou qualquer atenção ao que a rodeava; o momento de redescobrir aquele lugar viria mais tarde, e havia decidido viver plenamente estes instantes. Com rapidez descarregaram as caixas, instalaram o corpo no sofá-cama e aplicaram de novo a perfusão.

Rafaella pegou um embrulho marrom, e, convidou Bianca a acompanhá-la até a cozinha - Vou fazer café. 

- Você acredita que tenha gás?

-Thomas nunca teria deixado a casa com um botijão de gás vazio na cozinha, e tenho certeza que à pelo menos outros cheios na garagem.

Bianca, apertou o interruptor junto à porta. Uma luz amarelada invadiu o aposento.

- Como você fez para que haja energia elétrica nesta casa?

- Telefonei ontem à companhia para que a religassem, e também, à companhia de água, não se preocupe. Mas, apague. Tem que tirar o pó das lâmpadas para que não explodam quando se aquecerem.

- Pelo jeito você pensou em tudo. E o café? Sai ou não sai?

Rafaella colocou duas xícaras na mesa de madeira e serviu a bebida bem quente.

- Espere um pouco antes de beber - disse.

- Por quê?

- Porque, do contrário, você vai se queimar, e além do mais, você primeiro tem que cheirar. Deixe que o aroma penetre em suas narinas.

Bianca levou a xícara aos lábios, deu um gole e cuspiu de imediato o pouco líquido bem quente que havia tomado. - P*** que p*%#u! - praguejou. 

No mesmo instante, Gizelly se colocou atrás de Rafaella, deixou um beijo em seu rosto e a abraçou forte. Apoiou a cabeça em seu ombro e sussurrou em seu ouvido: - Gosto deste lugar, me sinto bem aqui, é relaxante.

- Onde você estava?

- Percorrendo a casa.

-E?

- Você está falando com ela? - interveio Bianca em tom exasperado.

Sem prestar a menor atenção à pergunta de Bianca, Rafaella dirigiu-se a Gizelly: - Você gosta?

- Teria que ser muito exigente para não gostar -respondeu ela -. Mas, você tem que me contar alguns segredos. Este lugar está cheio deles; percebo-os entre as paredes e os móveis.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora