Mais Bonito Não Há

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O despertador arrancou Gizelly de um sono tão profundo, que o resultado ao abrir os olhos foi doloroso. Ainda não eram 7h quando deixou o Triumph no estacionamento do hospital. Dez minutos mais tarde, estava no quarto 307. Um monitor descansava sob o pescoço protetor de uma girafa. Mais além, um ursinho branco velava por eles. Os animaizinhos de Ana ainda estavam dormindo no suporte da janela. Gizelly olhou os desenhos colocados na parede, alguns muito hábeis para serem de uma menina que há alguns meses só os via na memória.

Gizelly sentou-se na cama e acariciou a fronte de Ana, que acordou.

- Oi!! - disse Gizelly -. Hoje é o grande dia!

- Ainda não - replicou Ana, levantando as pálpebras -. Ainda é noite.

- Não por muito tempo, querida, não por muito tempo. Já virão buscá-la e prepará-la.

- Você fica comigo? - perguntou Ana, inquieta.

- Eu também preciso preparar-me. Vamos nos encontrar na entrada do centro cirúrgico.

- É você quem vai me operar?

- Ajudarei a Dra. Thelma.

- Você tem medo? - quis saber a pequena.

- Você se adiantou: eu ia fazer a mesma pergunta a você.

A menina disse que ela não tinha medo, pois confiava.

- Agora vou subir, nós veremos em seguida.

- Esta noite terei ganho minha aposta.

- O que você apostou? - Gizelly questionou.

- Adivinhei a cor de seus olhos e escrevi em um papel; está dobrado na gaveta de minha mesinha, e vamos abri-lo juntas depois da operação.

- Eu prometo a você - disse Gizelly enquanto ia em direção à porta.

Gizelly entrou na cabine de esterilização. Com os braços estendidos, colocou a bata que lhe deu uma enfermeira. Amarrou os cordões e avançou até uma pia de aço inoxidável. Nervosa, lavou minuciosamente as mãos. Depois de secá-las, a enfermeira polvilhou suas palmas com talco e abriu um saco com luvas esterilizadas, que Gizelly colocou, em seguida. Com o gorro azul claro na cabeça e a máscara na boca, respirou fundo e entrou na sala de cirurgia.

A doutora Amélia saudou a equipe, instalou-se por trás dos aparelhos de neuro navegação e aproximou as duas asas. Sabiamente manipuladas pela cirurgiã, os braços mecânicos conectados ao computador principal apontariam, milimetricamente, a massa tumoral. Durante toda a intervenção, a precisão cirúrgica seria essencial. Um desvio mínimo na trajetória, poderia privar Ana da fala ou ter outras consequências. E, ao contrário, um excesso de prudência tornaria inútil a operação. Silenciosa e concentrada, Gizelly recordava cada detalhe do procedimento que não tardaria a começar e para o qual levara vária semanas se preparando.

A maca trazendo Ana chegou finalmente à sala cirúrgica. As enfermeiras a locomoveram com extremo cuidado para a mesa e penduraram a bolsa de conta-gotas que levava na veia do braço.

O anestésico desceu ao largo do cateter e penetrou a veia. Ana dormiu entre o dois e o três. O anestesista comprovou de imediato os sinais vitais, nos diferentes monitores. A enfermeira Tabata ajustou um aro na fronte de Márcia, para evitar qualquer movimento de sua cabeça.

Como se fosse uma experiente maestra, a Dra. Thelma fez uma rápida vistoria em toda sua equipe. De seu posto, viu que todos estavam prontos. Thelma deu sinal a doutora Amélia e esta começou a manipular as asas do aparelho de neuro navegação, sob o olhar atento de Gizelly.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora