Dia Especial

621 85 109
                                    

O sol inundou a rua. Rafaella sentiu impulso de segurar a mão de Gizelly.

- Onde você quer ir? - ela perguntou, cruzando as mãos nas costas.

- Estou com vontade de comer um hambúrguer com fritas.

Foram até o restaurante Simbad que ficava aberto 24h. A garçonete as instalou numa mesa, entregou um menu a Gizelly e desapareceu. Rafaella não tinha fome, assim não quis vê-lo, quando Gizelly o entregou.

Minutos mais tarde um garçom apareceu, anotou o pedido de Gizelly e regressou à cozinha.

- Você realmente não quer comer nada?

- Me alimentei a semana toda com soro, e creio que meu estômago diminuiu. Mas gostaria muito de vê-la comer.

- Você terá que voltar a se alimentar!

O garçom colocou uma bandeja enorme com tortinhas sobre a mesa.

- Por que veio em minha casa hoje de manhã?

- Para reparar um encanamento.

- Fala sério!

- Para agradecê-la por ter salvo minha vida.

Gizelly largou o garfo.

- Porque eu queria. - confessou Rafaella.

A médica a olhou, atenta, e regou sua comida com azeite.

- Só fiz o meu trabalho - disse em voz baixa.

- Me custa acreditar que anestesiar um de seus colegas e roubar uma ambulância seja seu pão de cada dia.

- O acontecido com a ambulância foi ideia de sua amiga.

- Já imaginava.

O garçom voltou e perguntou a Gizelly se queria algo.

- Não, por quê? - disse Gizelly.

- Pareceu-me tê-la visto me chamar – o garçom respondeu.

Gizelly o viu se afastar, encolheu os ombros e retornou à conversa.

- Sua amiga me explicou que se conheceram no internato.

- Minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, éramos muito unidas.

- Você é muito corajosa. A maioria das pessoas não pronuncia essa palavra, apenas dizem "se foi" ou mesmo "nos deixou".

- Ir-se ou deixar são ações voluntárias.

- Você cresceu sozinha?

- A solidão pode ser uma forma de companhia. E você? Seus pais são vivos?

- Tenho somente minha mãe, e, desde meu acidente, nosso relacionamento ficou tenso.

- Seu acidente?

- Uma derrapada com o carro, fui projetada para fora e me deram como morta, mas a obstinação de uma professora me devolveu a vida, depois de vários meses em coma.

- Você não conserva qualquer lembrança daquele período?

- Recordo os últimos minutos antes do impacto, mas há um buraco vazio de onze meses de minha vida.

- Ninguém consegue se lembrar algum dia do que ocorreu durante esses momentos? - perguntou Rafaella, com a voz cheia de esperança.

Gizelly sorriu e olhou o carrinho com sobremesas situado não muito longe dela.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora