Rafaella esperou-a, sentada num muro de ladrilhos. Naquele lugar, as ondas do oceano se chocavam com as da baía, em um combate que durava desde a noite.
- Eu a fiz esperar muito! - desculpou-se ela.
- Onde está Jack?
- Não faço a menor ideia, minha mãe não estava. Você sabe o nome dele?
- Venha, vamos caminhar do outro lado da ponte, quero ver o mar - disse Rafaella.
Caminharam juntas até a água.
- Você é diferente. - disse Gizelly.
- De quem?
- De ninguém em particular.
- Isso não é muito difícil.
- Não seja idiota.
- Há algo em mim que a irrite?
- Não, nada; sempre parece tão serena, justa e paciente como Jesus, isso é tudo.
- E é um defeito? - Rafaella falou risonha.
- Não, mas fica desconcertante, como se para você nada fosse um problema.
- Gosto de encontrar soluções. É de família, minha mãe era assim também.
- Você sente saudades de seus pais?
- Apenas tive tempo de conhecer meu pai. Minha mãe tinha uma forma especial de ver a vida... diferente, como você diz.
Rafaella se abaixou para pegar um pouco de areia.
- Um dia - contou - encontrei no jardim uma moeda e achei que era incrivelmente rica. Corri até ela com meu tesouro oculto na palma da mão. Falei, orgulhosa demais, sobre meu descobrimento. Depois de escutar a lista de coisas que eu iria comprar com aquela fortuna, ela me mandou fechar os dedos sobre a moeda, deu uma volta na minha mão, com delicadeza e meu pediu que a abrisse.
- E?
- A moeda caiu no chão. Mamãe me disse: "Isto é que o que acontece quando morremos, inclusive a pessoa mais rica da terra. O dinheiro e o poder não sobrevivem. O homem só cria a eternidade de sua existência nos sentimentos que compartilha". E ela estava certa, já se passaram muitos anos desde que morreu. No entanto em instantes, no modo como me ensinou a focalizar as coisas, em uma paisagem, em um senhor que atravessa a rua com sua história nas costas. Durante a chuva, num reflexo de luz, na volta de uma palavra durante um diálogo, me lembro dela. Minha mãe é imortal, enquanto eu viver.
Rafaella deixou que os grãos de areia escoassem por seus dedos.
- Há dores de amor que o tempo nunca apaga e que deixam nos sorrisos cicatrizes imperfeitas.
Gizelly se aproximou de Rafaella, a pegou pelo braço, a ajudou a se levantar, e segurou sua mão, logo continuaram caminhando pela praia.
- Como consegue esperar alguém por tanto tempo?
- Por que você volta a falar nisso?
- Porque fiquei intrigada.
- Vivemos o princípio de uma história, e ela foi como uma promessa que a vida não manteve; mas eu sempre mantenho minhas promessas.
Gizelly soltou sua mão, e Rafaella a observou afastar-se sozinha, até a orla. Esperou alguns instantes antes de ir até ela que estava brincando de chutar a água, com a ponta do pé.
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E Se Fosse Verdade - GiRafa
RomanceGizelly é uma médica empenhada, mas tudo muda após envolver-se em um acidente. Seis meses depois, ela se vê no seu apartamento conhecendo alguém que mudaria a sua vida. Adaptação do livro: E se fosse verdade de Marc Levy com o shipp Girafa (Gizelly...