Me conta da tua janela

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Rafaella estava na garagem arrumando o interior do porta-malas do velho Ford, quando viu levantar-se poeira na parte alta do jardim. Vanessa desceu pelo caminho e deteve o carro diante do alpendre.

- Bom dia, posso fazer algo por você? - perguntou Rafaella.

- Venho de Monterey. A imobiliária me disse que esta casa estava desocupada, e como estou buscando algo para comprar nesta região, vim vê-la, mas parece-me ter chegado tarde demais.

Rafaella informou que não havia sido comprada nem estava à venda. Era a casa de sua mãe e acabava de abri-la de novo. Esgotada pelo calor, ofereceu-lhe um refresco, mas a detetive declinou o convite, dizendo que não queria incomodá-lo.

Rafaella insistiu e a convidou para se sentar na varanda; ela voltaria em seguida. Fechou o porta-malas, foi até em casa e regressou com uma bandeja onde havia dois copos e um grande jarro de limonada - É uma casa muito bonita - comentou Vanessa. - Suponho que não devam haver muitas como esta na região.

- Não sei. Fiquei anos sem vir aqui...

- O que a fez voltar de repente?

- Acredito que chegou o momento. Cresci aqui, e depois da morte de minha mãe nunca tive forças para voltar, mas de repente, tive numa necessidade de retornar.

- Assim, sem mais?

Rafaella começou a ficar incomodada. Aquela desconhecida fazia perguntas muito pessoais, como se soubesse de algo que não quisesse revelar. Sentiu-se manipulada. Não a relacionou com Gizelly, mas pensou que se tratasse de uma dessas promotoras ou vendedoras que tentam estabelecer vínculos com suas futuras vítimas.

- De qualquer modo - respondeu, - nunca a venderei...

- Você faz bem. A casa familiar não deve ser vendida; parece-me um sacrilégio.

Rafaella começava a suspeitar de algo, e Vanessa intuiu que havia chegado o momento de retroceder. Ia deixá-la para que fosse fazer suas compras; além do que, ela também tinha que ir ao povoado "para procurar outra casa". Agradeceu pela bebida e despediu-se, entrando em seu carro.

- O que ela queria? - perguntou Gizelly, que acabava de aparecer no alpendre.

- Segundo ela, comprar esta casa.

- Não gostei disso.

- Eu, muito menos, mas não sei porque.

- Você acha que pode ser uma detetive?

- Não. E não iremos ficar paranoicas. Prefiro pensar que se trate de uma vendedora ou de uma agente imobiliária que queria sondar o terreno. Não se preocupe. Você fica ou vem comigo?

- Vou com você - disse ela.

Vinte minutos depois que saíram, Vanessa voltou a pé.

Uma vez diante da casa, comprovou que a porta da entrada estava fechada com chave e começou a dar volta pela construção. As janelas e grades também estavam fechadas. Não se entreteve mais tempo ali e voltou rapidamente ao carro.

Ligou para Clara. A conversa foi longa. Vanessa contou-lhe que seguia sem ter nem provas nem indícios, mas que seu instinto dizia-lhe que Rafaella era culpada. Clara não colocou em dúvida sua perspicácia, o problema era que Vanessa não dispunha de uma ordem judicial que lhe permitisse perturbar uma mulher sem um motivo verossímil.

Estava segura de que a chave do enigma residia no motivo. E devia ser muito importante para que uma mulher, aparentemente equilibrada, sem necessidade especial de dinheiro, se expusesse dessa forma. Mas, Vanessa não encontrava a chave da solução. Havia considerado todos os motivos clássicos, mas nenhum deles se sustentava.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora