A casa ficava no outro extremo da cidade, entre as ruas Quinze e Dezesseis. Gizelly estacionou na avenida. Vanessa estava no jardim, oculto entre as tesouras de podar e as rosas que acabara de cortar.
- Quantos semáforos você avançou? - disse, olhando o relógio -. Eu nunca consegui fazer esse tempo, mesmo com a sirene.
- Bonitas flores! - respondeu Gizelly.
- O que posso fazer por você? – Vanessa perguntou, e direcionou Gizelly até a varanda para se sentarem.
- Por que não a deteve?
- Devo ter perdido algo: não compreendo sua pergunta.
- A arquiteta! Sei que foi você quem me devolveu ao hospital.
A velha detetive olhou para Gizelly e se sentou fazendo uma careta.
- Você aceita uma limonada?
- Preferiria que respondesse à minha pergunta.
- Dois anos aposentada, e o mundo já gira ao contrário. Só me faltava ver médicos interrogando policiais!
- A resposta é tão embaraçosa?
- Tudo depende do que você saiba ou não.
- Sei de quase tudo!
- Então, por que você veio?
- Porque me aterroriza esse "quase"!
- Eu já sabia que você seria muito simpática! Vou pegar os sucos e volto em seguida.
Deixou as flores na cozinha e tirou o avental. Pegou o suco na geladeira, e retornou para a varanda.
- Está gelado! - disse, sentando-se à mesa.
Gizelly agradeceu.
- Sua mãe não apresentou denúncia, assim não tinha motivo para deter sua arquiteta!
- Por um sequestro, o estado deveria ter apresentado uma acusação civil, não é assim? - perguntou Gizelly, bebendo um gole de limonada.
- Sim, mas tivemos um probleminha: a pasta se extraviou. Já sabe como são estas coisas!
- Você não quer me ajudar?
- Você não me disse o que está buscando!
- Tento compreender.
- A única coisa que você tem que compreender é que ela salvou sua vida.
- E por que?
- Não me compete responder. Pergunte a ela. A tem com você: é sua paciente.
- Ela se recusa.
- Tem suas razões, suponho.
- E você, quais tem?
- Eu, assim como você, doutora, devo segredo profissional. Duvido muito que quando alguém se aposenta, fique livre desta obrigação.
- Só quero conhecer os motivos dela.
- Não lhe basta que ela tenha salvo sua vida? Você faz o mesmo, cada dia por pessoas desconhecidas... Não vá censurá-la por ela tê-lo feito uma vez!
Gizelly colocou o copo na mesa. Agradeceu a detetive por tê-la recebido e se dirigiu ao carro. Vanessa a seguiu.
- Esqueça-se de minha lição de moral: não era a pretensão. Não vou contar a você o que sei, porque você acharia que sou louca; você é médica e eu sou uma mulher velha, e não fico feliz que me prestem serviços sociais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
E Se Fosse Verdade - GiRafa
RomanceGizelly é uma médica empenhada, mas tudo muda após envolver-se em um acidente. Seis meses depois, ela se vê no seu apartamento conhecendo alguém que mudaria a sua vida. Adaptação do livro: E se fosse verdade de Marc Levy com o shipp Girafa (Gizelly...