Pés Cansados

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No interior do aeroporto, o painel luminoso indicava que o voo AF 020 acabava de aterrissar. Bianca saiu pela escada rolante e se precipitou para o corredor. Atrás do balcão de chegadas internacionais, abaixou-se e apoiou as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego. As portas se abriram e a primeira remessa de passageiros dispersou-se pelo local.

Longe, uma mão se agitava no meio da multidão, Bianca abriu caminho e caminhou ao encontro de sua melhor amiga.

- Bia, que saudades. Você fez uma maratona, por que está tão ofegante? — disse-lhe Rafaella, enquanto a abraçava.

- Amiga, digamos que vim correndo. Nossa, senti muitas saudades de você — disse Bianca, encaminhando-se com a outra mulher até os elevadores que conduziam ao estacionamento. - Deixa eu te atualizar - continuou ela. - Seus objetos pessoais foram entregues ontem pela companhia de mudança. Arrumei um pouco, como pude. Você comprou Paris inteira ou deixou pelo menos duas ou três coisas nas lojas?

- HA-HA, obrigada por me ajudar. E o apartamento é bom?

- Já vai vê-lo, acredito que você goste, e além disso não fica longe do escritório.

Ambas no carro, indo a caminho do novo apartamento. Rafaella abaixou a janela e aspirou o ar vindo do mar.

- E como foi em Paris, as parisienses?  - perguntou Bianca, cheio de entusiasmo.

- Foi ótimo, elas continuam elegantes como sempre!

- Muitas aventuras? Alguma paixão?

Rafaella fez uma pausa antes de responder.

- Não, ainda não estou preparada para me envolver com alguém. E você?

- Você sabe como sou, né amiga. Solteira e curtindo adoidada.

O carro subiu até o norte da cidade. No cruzamento de atlântica, Bianca estacionou.

- Aqui estamos. Este é seu novo lar, doce lar. Espero que você goste, do contrário, poderemos retornar à imobiliária.

- Confio em você, tenho certeza que irei gostar do local.

Entraram no prédio, o elevador as levou ao terceiro andar. Bianca lhe disse que havia conhecido sua nova vizinha, "uma gata", sussurrou, enquanto abria a porta em frente.

Os empregados da empresa de mudança tinham colocado de qualquer maneira os móveis que vieram da França e, subido a mesa de desenho, que se encontrava em frente à janela. As caixas de livro estavam vazias, os mesmos já estavam na estante.

Rafa, mudou os móveis, colocando o sofá de frente para a cristaleira e empurrando uma das duas poltronas até a pequena lareira.

- Vejo que você continua sendo meticulosa como sempre.

- Está melhor assim, não?

-Está perfeito - contestou Bianca-. Você gosta, agora?

- Sinto-me em casa!

- Aqui você está, de volta à sua cidade, em seu bairro, e, com um pouco de sorte, em sua vida.

Bianca a acompanhou aos demais aposentos. O quarto era grande e estava mobiliado. Um raio de lua filtrava-se pela janela do banheiro contíguo e Rafaella ficou vislumbrada. Tinha gostado mesmo do apartamento.

Bianca precisava ir, tinha uma reunião de trabalho no estúdio, deu uma volta e assinalou as paredes da casa.

- Ah! Aqui neste apartamento tem uma coisa formidável na qual ainda não tinha reparado.

- O quê? - perguntou Rafaella.

- Não tem um só quadro!

Sozinha na sala, Rafaella começava a se familiarizar com o lugar. Ligou o som e começou a esvaziar as últimas caixas empilhadas. Ao toque da campainha, atravessou o corredor. Uma senhora baixinha e encantadora lhe estendeu a mão.

- Sou Olga Gavassi, sua vizinha!

Rafaella convidou-a a entrar, mas ela recusou.

- Adoraria - disse -, mas tenho uma noite bem apertada. Enfim, vamos esclarecer: nada de rap, techno, de vez em quando ritmos e blues, no entanto somente do bom. Se você precisar de qualquer coisa, pode tocar minha campainha!

A senhora saiu. Em seguida Rafaella, divertida, parou uns instantes no corredor, antes de recomeçar o trabalho.

Uma hora mais tarde, as cãibras no estômago, lembraram-na de que não havia ingerido nada desde a comida no avião. Abriu a geladeira, sem grandes esperanças, e descobriu, surpreso, uma caixa de leite, uma barra de manteiga, um pacote de torradas, um pote de patê fresco e um bilhete de Bianca desejando-lhe bom proveito.

Rafaella inspecionou todos os cantos da cozinha, abriu as gavetas e apagou o fogo baixo onde deixara a água que já fervia. Saiu de casa e bateu na porta de sua vizinha. Não obtendo resposta, ia dar meia volta, quando ela a abriu.

- Não achei que você seria tão rápida. - disse a senhora Gavassi.

- Desculpa, não queria incomodá-la. A senhora poderia me arrumar um pouco de sal?

- Entre! Os temperos estão no balcão - disse ela -, apontando a pequena cozinha. Pegue tudo o que você precisar: estou muito ocupada.

E tornou a sentar-se rapidamente no grande sofá em frente a televisão. Rafaella passou para o outro lado e olhou, intrigada, a cabeleira branca da Sra. Gavassi.

- Cabeçuda, fique ou vá embora, faça o que quiser, mas sem ruído. Estou um filme e preciso prestar muita atenção.

Olga fez um gesto para que Rafaella se sentasse na poltrona.

- Quando terminar este, pegue o prato de carne fria na geladeira e venha assistir a próximo comigo, você vai adorar!

Rafaella fez o que a Sra pediu, se alimentou e voltou a sentar no sofá, era melhor a companhia do que ficar sozinha. Mas, tarde acordou com um barulho, tinha adomercido no sofá. Ao chegar na cozinha notou que Sra Gavassi estava lavando os pratos. 

- Acredito que já está na hora de você ir dormir.

- Desculpe por isso. - disse se espreguiçando - Obrigada pelo filme!

- Imagina, precisando é só bater na minha porta.

Quando se dirigia para a porta, Rafaella reparou num cãozinho branco com caramelo que estava deitado sob a mesa.

- É Bidu -falou a senhora Gavassi -. Vendo-o assim, parece que está morto, mas ele adora dormir: é sua atividade preferida. Está na hora de acordá-lo para levá-lo a um passeio.

- A senhora quer que eu o leve?

- Vá dormir: no estado em que você se encontra, temo que se saírem, eu vá encontrar os dois, pela manhã, roncando ao pé de uma árvore.

Rafaella reconhecia que o humor de Olga era tanto que inglês, a desejou boa noite e voltou para casa. Gostaria de limpá-la mais um pouco, mas o cansaço foi maior.

Deitada na cama, com a cabeça apoiada nas mãos, olhava através da porta entreaberta do quarto. As caixas empilhadas na sala fizeram-na recordar-se de uma noite, em outros tempos, quando morava no último andar de uma casa vitoriana, não longe dali. Adormeceu novamente e sonhou com aquela que não saia dos seus pensamentos.

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NOTAS: Oiii! Voltei ... O título é essa música maravilhosa da Sandy, gente eu sou muito cadelinha dela. Inclusive, escutem/assistam os clipes 10:39.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora