Rafaella continuava sem entender exatamente o que estava acontecendo.
- Você tem uma tutora legal?
- Sim, digamos, que nesse momento não posso assinar papéis.
- Você recebe tratamento em um hospital?
- Sim, é o mínimo que se pode dizer.
- Devem estar muito preocupados. Qual hospital? Vou acompanhá-la.
- Ouça...acaso você acha que sou louca e que escapei de um manicômio?
- Não, claro que não!
- Porque depois de chamar-me de acompanhante, já é muito para um primeiro encontro.
Rafaella pouco se importava se ela era uma acompanhante ou uma louca. Estava muito cansada e queria dormir, simplesmente.
Ela não se moveu e continuou com seu questionário.
- Como você me vê?
- Não entendo a pergunta..
- Como sou? Eu não consigo me ver nos espelhos. Como você me vê?
- Perturbada, muito perturbada – Rafaela diz, impassível...
- Quero dizer, fisicamente...
Rafaella duvidou. A descreveu como uma morena de cabelos longos, de olhos castanhos, boca bonita, semblante doce, que constatava totalmente com seu comportamento e mãos que se moviam com delicadeza.
- Você sempre descreve as pessoas com tanta precisão??
- Como você entrou? Tem uma cópia das chaves.
- Não preciso... É tão incrível que você me veja!! Disse-lhe que devia ser bonita, pela forma como ela a descrevera e convidou a sentar-se ao seu lado..
- O que vou dizer-lhe é difícil de entender, é quase impossível, mas se você tiver a bondade de escutar a minha história, se tiver a bondade de confiar em mim, então, talvez, termine por acreditar e, é muito importante, porque você é, sem que o saiba, a única pessoa do mundo com a qual posso dividir este segredo.
Rafaella a cada minuto entendi menos o que a outra mulher falava. Mas, não tinha opção a não ser ouvi-la. Sentou-se junto a ela é escutou a coisa mais louca que já tinha ouvido em sua vida.
Ela se chamava Gizelly Bicalho, afirmava ser médica, e que seis meses atrás tinha sofrido um gravíssimo acidente de carro.
- Estou em coma desde então. Calma, deixe eu terminar.
Não se recordava nada sobre o acidente, lembrava de ter acordado na sala de recuperação. Experimentava sensações estranhas, ouvia tudo ao seu redor, mas não conseguia falar ou se mover. Achou que fosse efeito da anestesia.
- Estava errada, passaram horas e eu não conseguia despertar fisicamente. Me sentia prisioneira do meu próprio corpo.
Havia desejado morrer, mas era impossível, quando não podia se quer levantar o dedo mindinho. Mamãe estava ao lado da minha cama. Depois, havia entrado uma outra pessoa, que reconheceu assim que falou. Era a Dra. Thelma. Mamãe questionou se pessoas em coma podiam ouvir o que outros falavam, ao que a médica informou que não sabia, porém de acordo com estudos, pessoas naquela situação percebiam sinais do exterior.
- Mamãe queria saber se algum dia eu voltaria.
A médica falou em tom sereno, que também não sabia. Havia casos de pessoas que voltaram do coma, então que deveria manter uma dose certa de esperança, lembrando que era muito difícil, mas podia acontecer. Tudo é possível – havia dito - , não somos deuses, não sabemos de tudo. – Acrescentará: " O coma profundo é um mistério para a medicina."
Os dias passavam lentamente, o que se tornaram semanas. Ela vivia recolhida, pensando em outros lugares. Uma noite pensando na vida que corria naquele local, imaginara o corredor, os colegas, os prontuários.
- E então, aconteceu pela primeira vez: encontrei-me no corredor, no qual pensava minutos atrás.
Achei que era minha mente pregando-me uma peça. Mas, estava acontecendo. Sentia os cheiros, escutava e via as pessoas. No entanto, todos passavam por mim sem perceber minha presença. Durante os dias, percorri o hospital, pensava em um local e em instantes estava lá.
Depois de três meses praticando, conseguiu deixar o hospital. Ia para qualquer lugar, até mesmo passará umas horas na casa de sua mãe.
- Mas, essa experiência não repetiu. Era triste estar ao seu lado, sem poder comunicar-me com ela. Entretanto, Jack percebia sua presença e começava a dar voltas ao seu redor. Pensavam que o cachorro estava ficando louco. Voltou para o apartamento porque ali era sua casa, o lugar onde melhor se encontrava.
- Vivo em uma absoluta solidão. É terrível não poder falar com ninguém, ser totalmente invisível.
Assim, consegue entender a minha animação por você ter falado comigo hoje. Não sei o motivo, mas poderia conversar com você a noite toda. Lágrimas vieram a seus olhos. Olhou Rafaella.
- Você deve pensar que estou loouuuca.
Rafaella estava quieta, havia se acalmado, estava atônita pelo o que tinha ouvido.
- Não. Tudo isso é muito..
- Deixe que eu fique aqui. Ficarei quieta, não incomodarei.
- Você realmente acredita no que acabou de relatar?
- Você não acreditou em uma palavra do que contei, não é verdade?
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Notas:
Horas - Marjorie Estiano, saudades de ouvir essa bichinha cantando.
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E Se Fosse Verdade - GiRafa
RomanceGizelly é uma médica empenhada, mas tudo muda após envolver-se em um acidente. Seis meses depois, ela se vê no seu apartamento conhecendo alguém que mudaria a sua vida. Adaptação do livro: E se fosse verdade de Marc Levy com o shipp Girafa (Gizelly...