Travessia

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As rodas da maca giravam depressa. Gizelly e Flavia abriam caminho pelos corredores cheios da Emergência. Mais além, o som de um elevador parando. Gizelly gritou que a esperassem. Acelerou, mais ainda, o passo, enquanto Flavia a ajudava da melhor forma a manter a maca em linha reta. Um plantonista que estava segurando as portas do elevador as ajudou a se acomodarem entre outras duas camas que subiam ao centro cirúrgico.

- Exame! - gritou Gizelly.

Uma enfermeira apertou o botão do quinto andar. Retomou sua louca velocidade, de corredor em corredor. A unidade, enfim estava à vista.

- Sou a doutora Bicalho, avisei sobre nossa chegada ao técnico de radiologia, necessito uma tomografia craniana agora mesmo.

- Estávamos aguardando você - respondeu Johanna -, tem o histórico da paciente?

A papelada podia esperar; Gizelly colocou a maca na sala de pesquisa, e, de sua cabine de controle ficou aguardando.

- O que estamos procurando?

- Uma possível hemorragia no lóbulo occipital. Necessito de uma série de imagens para uma punção intracraniana.

- Você vai operar esta noite? - perguntou Johanna, surpresa.

- Em menos de uma hora, se conseguir reunir uma equipe.

- Você avisou a Dra. Thelma?

- Ainda não – a médica murmurou.

- Mas suponho que ela aprove estas tomografias de urgência...

- Evidentemente – mentiu Gizelly.

Ajudada por Flavia, instalou Rafaella sobre a mesa e ajustou o suporte da cabeça. Flavia injetou a solução iodada enquanto Johanna iniciava os protocolos de captação de seu terminal. Com um sussurro apenas audível, a mesa avançou até o centro do anel. Os raios X captados eram transmitidos a uma cadeia informática que recompunha a imagem do cérebro de Rafaella em diferentes camadas.

As primeiras imagens já apareciam nas telas da operadora. Confirmavam o diagnóstico de Gizelly e desmentiam o de Gallina: Rafaella devia ser operada imediatamente. A veia lesada tinha que ser suturada o quanto antes para reduzir o hematoma no interior da cavidade craniana.

- Em sua opinião, quais as possibilidades de recuperação? - perguntou Gizelly a sua colega, falando através do micro da sala do scanner.

- Você é a plantonista de neurocirurgia! Mas se você quer meu prognóstico, eu diria, que se você operar em uma hora, nada se perde. Não vejo qualquer lesão importante, ela respira bem, os centros neurofuncionais parecem intactos... Pode dar tudo certo.

A radiologista fez um sinal para que Gizelly se reunisse a ela na cabine. Apontou com o dedo uma zona do cérebro que aparecia na tela.

- Gostaria que você olhasse esta camada mais de perto - disse -: parece-me que aqui temos uma pequena e rara má-formação, vou completar os exames com uma ressonância magnética. Enviarei as imagens pelo Dicom e você poderá recuperá-las diretamente no neuronavegador.

- Obrigada por tudo.

- Está uma noite tranquila, e suas visitas sempre me agradam.

Quinze minutos depois, Gizelly abandonava o departamento de radiologia, conduzindo Rafaella ao último andar do hospital. Flavia a deixou diante dos elevadores: tinha que voltar à Emergência. De lá, faria todo o possível para reunir uma equipe cirúrgica no mais breve prazo.

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora