O Que Eu Também Não Entendo

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A senhora Gavassi tinha escondido Bidu em seu casaco para atravessar o corredor do hospital. O cãozinho se instalou nas pernas de Rafaella. Na televisão passava um musical.

- Ele gosta mesmo de mim - comentou Rafaella.

- Sim, ele gosta. - Replicou Olga.

Quando tocou o telefone. Rafaella atendeu sem desviar o olhar da tv.

- Incomodo? - perguntou Bianca com voz trêmula.

- Bia, não posso falar agora, estou com os médicos. Te ligo depois.

E Rafaella desligou, deixando Bianca, sozinha, no meio de Green Street.

- Merda! - exclamou enquanto caminhava com as mãos nos bolsos.

O musical havia terminado, a senhora Gavassi colocou Bidu em seu casaco e prometeu a Rafaella que voltaria a visitá-la brevemente.

- Não precisa, sairei dentro de alguns dias.

Ao sair, Olga cruzou no corredor com uma interna, que vinha em sentido contrário. Onde a tinha visto antes?

- Está tudo bem? - perguntou Gizelly, assim que entrou no quarto —. Te incomodarei se eu me sentar nesta cadeira? Acrescentou, com voz quebrada.

- Claro que não - disse Rafaella, endireitando-se.

- E se eu ficar quinze dias, também não a incomodarei?

Rafaella a fitou, nervosa.

- Eu e sua amiga Bianca pegamos o mesmo táxi e tivemos uma pequena conversa...

- Ah, sim? E o que ela lhe disse?

- Quase tudo!

Rafaella baixou o olhar.

- Lamento.

- O quê? Salvar a minha vida ou fingir que nada aconteceu? Quando a vi pela primeira vez, você me reconheceu, não foi? Porque espero que não sequestre mulheres, com tanta frequência, de modo a não ter reconhecido meu rosto.

- Jamais a esqueci.

Gizelly cruzou os braços.

- E agora, você terá que me explicar porque fez tudo aquilo.

- Para que não desligassem os aparelhos!

- Isso eu já sei. Eu quero saber o restante, o que Bianca negou-se a contar.

- Restante?

- Por que eu? Por que correu tantos riscos por uma desconhecida?

- Você fez o mesmo por mim, lembra-se?

- Mas você era minha paciente, droga! Eu, quem era eu para você?

Rafaella não respondeu. Gizelly se aproximou da janela. Um jardineiro aparava a grama. A jovem virou-se bruscamente; sua expressão mostrava seu nervosismo.

- A confiança é o que há de mais precioso neste mundo, e também o mais frágil. Sem ela, nada é possível. Ninguém confia em mim, e se você também segue por esse caminho, não temos muita coisa a nos dizer. O que se constrói sobre a mentira não pode durar.

- Sei perfeitamente, mas tenho meus motivos.

- Gostaria de respeitar seus motivos, mas também dizem respeito a mim, não? É o cúmulo: foi a mim que você sequestrou!

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora