Thelma tocou o interfone do apartamento de Gizelly e subiu. Sentada no sofá da sala adotou sua atitude mais severa e comunicou-lhe que estava suspensa, proibida de aproximar-se do Hospital Memorial durante duas semanas. Gizelly negou-se a acreditar: uma decisão semelhante tinha que ser passada por um conselho disciplinar, diante do qual ela poderia se defender. Thelma pediu-lhe que ouvisse seus argumentos. Sem muita dificuldade, tinha obtido do administrador do hospital São Pedro que se abstivesse de empreender qualquer ação legal, mas para convencer Gallina a retirar sua denúncia, o interno havia exigido um castigo exemplar.
Duas semanas de suspensão sem salário eram um mal menor, em comparação com o que poderia ter ocorrido se ela não tivesse podido sufocar o assunto. Gizelly sentia raiva, ao pensar nas exigências de Gallina, não acreditava em tamanha injustiça, que deixava o insuportável de seu colega livre de suas inadmissíveis negligências, sabia que Thelma estava protegendo sua carreira.
Portanto resignou-se e aceitou a sentença. A médica a fez jurar que respeitaria ao pé da letra: em nenhum caso deveria chegar perto do hospital, como também, entrar em contato com os membros de sua equipe. Até o Café Parisian estava proibido.
Quando Gizelly perguntou-lhe o que teria direito de fazer durante esses quinze dias, Thelma lhe deu uma resposta irônica: finalmente, poderia descansar. A interna olhou-a, agradecida e furiosa, pois estava a salvo e vencida. A conversa durara menos de quarenta minutos.
Gizelly apontou-lhe a porta, com gesto autoritário. Já no patamar, Thelma acrescentou que tinha dado instruções precisas à central para que não atendessem qualquer chamada que fizesse. Estava proibida de praticar a medicina, inclusive por telefone, enquanto durasse a suspensão. Em troca, poderia beneficiar-se daquele momento para pôr em dia suas últimas aulas de final de internato.
A caminho de volta para casa, Thelma sentiu uma violenta dor. Aproveitou um semáforo vermelho para secar a fronte banhada de suor. A dor era horrível e lhe nublava a visão. Com um último esforço, assim que o sinal ficou verde, trocou de pista e conseguiu parar num estacionamento reservado à clientela de uma floricultura.
Abriu as janelas do carro, e desligou a chave de contato. Ficou durante um tempo, o mal estar passava, colocou o carro em marcha e agradeceu aos céus porque a crise não aconteceu durante uma operação.
Ao entardecer, em meio a uma temperatura suave, Bianca dirigiu até a baía. Naquela hora, várias pessoas aproveitavam para correr pelo porto desportivo. Uma jovem passeava com seu cão. Bianca desceu no estacionamento e a alcançou a pé.
Gizelly, que estava perdida em seus pensamentos, sobressaltou-se quando ela a abordou.
- Sinto muito, não queria assustá-la.
- Obrigada por vir tão depressa. Como está Rafaella?
- Melhor, já saiu da reanimação, acordou e não parece ter dores.
- Você falou com o plantonista?
Bianca só tinha conversado com uma enfermeira, e está se mostrara otimista. Rafaella estava se recuperando muito bem. Amanhã tirariam o soro e começariam a alimentá-la normalmente.
- É um bom sinal - disse Gizelly, soltando a coleira de Jack.
O cachorro começou a correr atrás de umas gaivotas que praticavam voo rasante.
- Você tirou uma folga?
Gizelly explicou-lhe que o rapto havia custado duas semanas de suspensão. Bianca não soube o que dizer.
Deram alguns passos, uma junta do outra, em silêncio.
- Me desculpa, nem sei como agradecer pelo que você fez esta noite. Tudo é minha culpa. Amanhã, vou me apresentar na delegacia e direi que você não tem nada a ver.
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E Se Fosse Verdade - GiRafa
RomanceGizelly é uma médica empenhada, mas tudo muda após envolver-se em um acidente. Seis meses depois, ela se vê no seu apartamento conhecendo alguém que mudaria a sua vida. Adaptação do livro: E se fosse verdade de Marc Levy com o shipp Girafa (Gizelly...