VII

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N/t: cesto da Gávea é aquele lugar no navio onde alguém ficava olhando para a linha do Horizonte para tentar avistar terra.

(S/n) PoV.

Estava no topo do cesto da Gávea olhando para o céu estrelado. Ao meu lado estavam minhas tintas, meus pincéis e uma tela, além de uma lamparina acesa. Ainda estava fazendo a base a lápis na tela, quando ouso passos e logo olho para ver quem estava subindo o mastro principal.
- Ah, (S/n)-chan! Então é você!- Era Sanji.
- Sanji? Achei que já estivesse dormindo.
- Quando terminei de lavar a louça fui tomar um ar e vi uma luz fraca aqui de cima, então vim conferir.- Explicou ele.
- Ata. Pode ficar aqui se quiser.- Convidei e o loiro aceitou com um aceno positivo.
- Então,(S/n)-chan, o que está fazendo?
-Vou pintar o céu.
- Por que não pinta lá em baixo? Daqui a pouco vai estar bastante frio.
- Nah. Eu... Eu gosto daqui. Além de poder observar o céu com mais facilidade, aqui em cima lembro-me que sou livre de verdade agora. A brisa fresca da noite me agrada.
- Posso ver como está ficando?
- Pode, mas... Ainda nem comecei. Só fiz a base.
-Hum... Vou atrapalhar se ficar aqui?
- Não. Pode ficar. É bom ter alguém para conversar enquanto pinto.
- Hum... Está com fome?
- Não se preocupe. Acabei de jantar. Quem fica de guarda hoje mesmo?
- Eu mesmo, haha! Acho que hoje se encaixou no dia perfeito para nós conversarmos. Quantas horas levam para fazer uma pintura?
- Bem, depende. Mas a que estou em mente vai provavelmente levar de 4 horas para mais. Ou até mesmo leve a noite inteira. Bem, estou sem sono mesmo, hehe. E agora, vou te fazer companhia, então...
- Não precisa ficar a noite toda aqui comigo. Pode ir quando se sentir cansada.
- Não se preocupe. Dormi bastante de dia e agora não estou com um pingo de sono. Se me sentir cansada, prometo que vou pra cama.
- Vou me lembrar disso.- Terminou ele.- Ah, espere aqui um pouco. Rapidamente, o cozinheiro saiu do cesto, e depois de alguns minutos, voltou, e trouxe consigo dois cobertores.
- Se esfriar, isso irá servir.- Ele pôs um dos cobertores em meus ombros, logo arrumando-o em minhas costas.
- Ah... Obrigada.
- De nada.-- Pensou um pouco.- (S/n)-chan, o que você gosta de pintar?
- O que eu gosto? Bem... Gosto de pintar paisagens. Também gosto de animais, ou seria paisagens com animais? Bom, não sei. Gosto de desenhar o que eu gosto. Entende? Desenho muito o que amo muito.
- Já fez algum desenho de mim?!
-- Bem... Não que me lembre...- Vi sua face se desanimar.- Se você quiser, posso fazer um. É só me pedir. Tem alguma ideia?- Abri meu pequeno bloquinho de ideias.- Estou sem ideias ultimamente, sabe, tenho desenhado tudo que vejo pela frente, literalmente, hehe. Tenho pintado apenas paisagens, e, fazer sempre a mesma coisa as vezes é exaustivo.- Admiti.
- Hm... Sinto muito, estou sem ideias no momento.- Se sentou em um cobertor.- Me fale do que gosta, talvez assim surja alguma.- Propôs sorridente.
- Certo. Vamos fazer um jogo. Digo algo que gosto e depois você diz. E assim por diante.- Contei, enquanto terminava de passar a base na tela.
- Certo!- Levantou a cabeça, animado.- Comece você primeiro.
- Gosto de... Desenhar!
- Mas isso eu já sei.
- Agora é a sua vez.
- Ok. Cozinhar.- Mostrei a língua pra ele, que apenas riu.
- Hum... Ler..
- Ler?
- É. Não sou uma "Robin da vida", mas gosto. Principalmente contos de aventura.
- Não sabia disso.- Pensou por alguns segundos, e fez um sorriso envergonhado.
- O que foi?
- Não é nada...
- Fale logo. É a sua vez, esqueceu?
- Não era nisso que estava pensando.- Coçou a nuca.
- Não adianta esconder.-- Ele me olhou, confuso.- Eu sei o que você estava pensando.- Soltei o pincel no copo e olhei pra o cozinheiro. Fiz um movimento com as mãos que insinuava um corpo feminino.
Ele desviou o olhar.
- Seu tarado!- Ri.
- Não sou tarado. Apenas respeito as mulheres.- Gaguejou envergonhado.
- Haha! Você é engraçado, Sanji!- Ri alto. Isso o tranquilizou.- Gosto de piadas. Acho que isso prova o bastante.- Voltei a pegar o pincel e tracei linhas de azul marinho na tela.
Ele suspirou de leve.- Gosto do mar.- O vi sorrir levemente.
- Gosto daqui encima. Acho que é meu lugar favorito no Sunny.
- Hum... Está difícil escolher.
- Tem muitas coisas?
- Na verdade, nunca prestei atenção no que gosto. Por exemplo, sei a comida favorita de todos os nossos companheiros, mas não sei a minha.
- Você sempre pensa mais nos outros. Deve ser por isso.- Ele olhou para mim e o encarei de volta.- O que foi?
- E você sempre presta mais atenção nos outros.- Sorriu docilmente. Voltei a atenção para a tela. Meu rosto estava levemente rosa.
- Do pôr do sol.- Ele sussurrou.
- É?- Fez que sim com a cabeça, enquanto mantia os olhos fixos no céu.- Do nascer do sol.- Sorri para ele, que sorriu de volta.- Acho que o veremos hoje.
- Sim...
- Li uma vez em um livro, que é aconselhado que você veja o por do sol pelo menos uma vez por dia.
Passei a tinta roxa por cima de algumas partes do azul. Formando o degradê das galáxias acima de nós.
- Sério? Bem... Não está errado.- Soltou uma risada.- Ei, posso ver como está ficando?
- Claro.- Abri espaço para que pudesse passar.
- Wow! Não sabia que conseguia fazer coisas tão perfeitas!
- Não puxe meu saco.- Molhei o pincel na tinta branca.- Ainda nem está pronto.- Respinguei a tinta branca que estava nos fios do pincel na tela. Formando assim as estrelas. Não percebi que tinha respingado tinta no rosto de Sanji.
- Ah, me desculpe, Sanji!- Peguei uma ponta de meu cobertor e passei de leve em sua bochecha.
- Ei, você vai sujar seu cobertor.- Ele segurou minha mão.- Não tem problema.- Começou a limpar a própria bochecha.
- Deixe que eu limpo.- Peguei o pano de secar o pincel, que estava seco, e limpei a sua outra bochecha.
- Sua mão está bem gelada.- Notei que ele segurava minha outra mão.
Corei de leve. Fui afastar minha mão quando um forte vento frio nos atingiu. Arrepiei-me por completa.
- Espere um pouco.- Se afastou e colocou seu cobertor por cima de mim. E saiu às pressas. Voltou uns 10 minutos depois com uma toalha e dois chocolates quentes. Me pergunto como ele subiu até aqui trazendo essas coisas.
Estendeu a toalha no chão de madeira. Sentou e deu duas batidas no seu lado. Convidando-me para sentar.
- Tire uma pausa.- Estendeu a caneca para mim. Peguei a caneca de sua mão e em seguida joguei o outro cobertor em cima dele.
- Não sou a única que sente frio, certo?- Assoprei o líquido quente. Sanji riu sem jeito.
- É realmente bonito, não é?- Ele olhou para o céu estrelado.
- Maravilhoso.- Senti seu braço passar pelas minhas costas e pousar em meu ombro. Deixei.
- Mas não tão bonito quanto você.
- Você é um idiota, sabia?
- Sim!- Ele sorriu com os olhos fechados. Ele nem é tão ruim assim. Até é um pouco fofo. Pensei.
Senti sua cabeça se encostar na minha. Dei uma cotovelada em sua costela. Ele se afastou um pouco. Ficou um silêncio confortável enquanto tomávamos o chocolate.
- Quantas horas são?- Perguntei.
- Bem... De acordo com a lua, são umas 2 da manhã.
-Nossa. Já faz duas horas. O tempo passou rápido, não?
-Tem razão. Ah...!- Ele espreguiçou.- Achei que a noite seria mais longa. Obrigado pela companhia.- Me apertou levemente.
-Você é um cara divertido Sanji.- Ele sorriu ao ouvir isso. -É sempre legal conversar com você. Pode vir falar comigo sempre que quiser.
-Vou lembrar disso. Agora vai ter que me aguentar conversando com você sempre que tiver tempo livre, (S/n)-chan.
-Oh, não, que coisa horrível!- Vi sua face se assustando.- Estou brincando, Sanji. Pode vir sempre que disponível. É legal ter companhia enquanto pinto.
-Ah, que susto! Achei que era um incomodo! Você quase me fez chorar!
-Não seja tão dramático.- Dei mais um gole na bebida. Ficou outro silêncio agradável.
-Está aquecida?
-Sim, estou. Não precisa ficar preocupado.
-Não consigo me controlar!
-Fique tranquilo. Se eu ficar com frio, vou te avisar. Confie em mim.- Dei um sorriso tranquilizador. Virei a caneca, dando o último gole e me levantei logo em seguida.
-Espere!- Sanji segurou meu pulso.- Fique aqui mais um pouco. Você está quentinha.
Suspirei e sentei novamente.
-Pensei em algo para você desenhar.
-O quê?
-Desenhe a manhã de hoje.-Sugeriu. O olhei confusa.
-Como assim?
-Desenhe nós dois juntos aqui na Gávea, com o nascer do sol de fundo. Ah, mas você ainda não acabou seu quadro, então deixe-
-Ainda dá tempo. Temos três horas.
-Então combinado. Quando o sol estiver no horizonte, fico na posição que quiser e então você me pinta.
-E eu?- Ele se envergonhou um pouco com a minha pergunta.- Brincadeira. Já pensei em uma posição para mim e para você.
- Que rapidez.- Dei duas cutucadas em minha cabeça, dando a intender que sou bastante inteligente.
- Então vamos terminar esse logo.- Me levantei.
Estava traçando linhas cinzas e acabamentos azuis. Notei que Sanji estava relativamente quieto.
-No que está pensando?
-Hum?- O tirei do transe. -Oh, nada.- O olhei com um olhar questionador. Ele tinha os olhos cravados na pintura.
-Ainda não consigo entender como você faz coisas tão perfeitas.-Ele se levantou e andou até o meu lado.
-Não está perfeito. Já retoquei este lugar umas três vezes.- Apontei para o canto rebocado de vários tons de roxo.
-Mesmo assim. Nunca conseguiria fazer nada parecido.
-Acho que é a mesma coisa com a sua comida.- Se virou para mim. -Acho que colocaria fogo na cozinha apenas de ligar o fogão. E você faz pratos tão deliciosos. Simplesmente não consigo entender.- O cozinheiro sorriu envergonhado. -Bem, então vamos começar?- Tirei a tela já usada do cavalete e coloquei uma nova. Estava na horizontal e era menor que a outra, sendo menor, irá levar menos tempo.- Fique naquele canto, por favor.- Apontei.
-Não está muito escuro? Talvez você não enxergue...
-Leve a lamparina com você. É só para ver como fica.- Levei a nossa iluminação até o ponto onde o mandei que ficasse. Coloquei a lâmpada em sua frente e o ajeitei na posição que queria.
-Pode apoiar a cabeça no braço. Assim. Está desconfortável?
-Nem um pouco.
-Então tudo certo.
-Espere, como você irá desenhar nesta escuridão?
-Consigo gravar aqui.-Dei batidinhas em minha cabeça. Me olhou com ar de confusão. - Apenas me deixe gravar está posição. Só vou observar e já a passo para o papel.- Ele fez um joinha com a mão livre. E voltou o olhar para as ondas.
Seu olhar estava calmo. Com a pequena fonte de luz, dava para ver o azul brilhante de seus olhos. Como eram bonitos. Fiquei totalmente hipnotizada com aquilo. Nunca tinha reparado o quão bonito ele era. Seus olhos, com todos os tons de azul possíveis, até mesmo me fazia lembrar de seu sonho, que era encontrar o All Blue, uma coincidência estranha, não? E seus cabelos dourados, pareciam tão macios. Ele podia ser a perversão em pessoa, mas mesmo assim era...
O que diabos estou pensando?
-Já... Já pode sair...- Gaguejei envergonhada com meus próprios pensamentos.
-Certo... Venha ver. A noite está clara, o mar está tão bonito.- Convidou.
-Certo...
-Eu disse que gostava do mar! Haha!
-É...- Meu olhar de desânimo era perceptível. Seu olhar de preocupação, também.
-Está bem,(S/n)-chan? Parece cansada...
-...Estou.
-Não precisa mentir para mim. Já passou a maior parte da noite comigo. Não precisa ficar aqui só para me fazer companhia.
-Não estou, sério.
- Está com fome? Quer que eu prepare algo?
-Não, Sanji. Você sabe que se estivesse não teria o menor problema em falar. Só quero sentar um pouco.- Sentei na toalha e me enrolei no cobertor. Sanji se sentou ao meu lado.
-Não posso ficar aqui parada por muito tempo. Tenho que começar a desenhar e-
-Deixe para pintar quando o sol raiar. Até lá, tenho certeza que estará com mais energia. E o sol é melhor do que uma pequena lamparina, não é?- Ri com seu comentário. O silêncio reinou.
- Sanji.- Chamei.
- Sim?
-Posso te fazer uma pergunta pessoal?
- Hum... Pode.
-É muito pessoal.
-Pode, pergunte o que quiser.
-Como conheceu aquele homem da foto?
- Bem... Como te disse antes, fugi de minha família e fui parar em um navio-restaurante no East Blue. Este navio foi atacado por ele, que na época era um pirata. Zeff da perna ruiva.- Não pude não traçar o paralelo entre suas alcunhas: perna vermelha e perna negra.- Enquanto atacava, ele me acertou um chute, e eu, teimoso como era, disse que meu sonho era encontrar o All Blue, e que não desistiria tão fácil.- Parou de falar e olhou para mim, que tinha os olhos fixos nele, cheios de curiosidade.- Bem... A tempestade destruiu o barco, e nós dois fomos parar em uma ilha rochosa. Sem animais. Sem plantas. Ele me deu toda a comida que encontrou. Eu não sabia de nada. Ele comeu a própria perna por um menino que nem conhecia, tudo porque tínhamos o mesmo sonho.
- Uau. Espero o conhecer algum dia.
-Você voltaria para o East Blue comigo?
- Bom... Não tenho lugar nenhum para voltar mesmo.- Olhei para o chão, passando os dedos levemente pela costura da toalha.
- Então está combinado!- Segurou minha mão.
O tempo foi passando cada vez mais rápido. Conversamos o resto da noite. Quando percebemos que o sol estava surgindo, logo correu:
-Vamos!- Estendeu a mão para mim. -Está quase nascendo!- Ele correu e se posicionou da mesma forma que antes. Me aconcheguei ao seu lado. -Não vai pintar?
-Vamos apenas aproveitar o momento. Olhe como é lindo.- Sorri em direção ao amanhecer.
-Tem razão...

Freedom Is All I Want- Imagine SanjiOnde histórias criam vida. Descubra agora