~ Prólogo ~

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 Só mais um

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Só mais um.

Você só precisa conseguir mais um ponto, Malena.

Sinto todo o ar quente entrando nos meus pulmões. O suor que escorre da minha testa alcança a bochecha e quase chega aos lábios. Há também suor entre meus seios e sabe-se lá mais onde. Não me preocupo com isso no momento. Talvez somente com minhas mãos um pouco mais escorregadias por esse motivo. Isso porque preciso segurar bem forte o judogi da adversária para atingi-la com mais um golpe. Preciso conseguir ir para o torneio mundial.

Me esquivo da sua tentativa de puxar o meu wagi (blusa do judogi) e me dar um golpe e ameaço chutar sua perna para desestabilizá-la.

Vamos lá, Malena, só mais um. Falo comigo mesma.

Quem me vê tão centrada e com um objetivo tão forte como esse de conseguir ir para o mundial, acha que é apenas um desejo comum de qualquer atleta de alto rendimento, buscando a realização de um sonho pessoal. Mas esse não é o meu caso. Não estou aqui só para vencer a mim mesma. Estou aqui por todas as mulheres negras que não tem a mesma chance que a minha. Estou aqui por todas as mulheres da minha cor que são desmerecidas e acabam em cargos subalternos. Estou aqui por cada mulher negra que merece, junto de mim, mostrar que sou sim negra com orgulho e que a minha cor é muito mais do que uma deposição de melanina: é a minha identidade de guerreira. De lutadora. De batalhadora.

E, principalmente, de mulher.

Consigo encontrar uma pequena distração na adversária e finalizo com um ippon. O juiz confirma o ponto. Mal consigo acreditar que vou para o mundial enquanto faço uma reverência para a adversária e pulo ao encontro do meu treinador.

― Porra!!! Tô no mundial, caraca!! ― Meu treinador vibra comigo, realmente tão feliz quanto e eu sinto lágrimas caindo sem acreditar o quanto o meu empenho me levou longe.

― Você conseguiu, Malena!

― Eu consegui!

E, novamente, essa vitória é muito mais significativa do que parece. Além de ser negra e mulher, duas coisas que recebem preconceito, ainda que digam que velado, no país que resido, eu também vim de um morro carioca, espaço de desprezo por muitos governantes que por aqui passam.

E para falar a verdade, a minha vida não foi fácil, mas eu não gosto de falar sobre isso. Porque a realidade é que ela ainda não está fácil. Não enquanto eu não conseguir tirar a minha mãe e o meu irmão da favela.

Mas não reclamo. Afinal, a vida de quem nesse Brasil é fácil, excetuando os bandidos dos políticos que ganham milhões de reais todo mês? A vida de qualquer trabalhador nessa vida de gado de brasileiro é repleta de vitórias diárias. Algumas maiores que outras, mas todas com seu mérito.

Eu construí a mim mesma. Eu sei exatamente quem eu sou. E não vou deixar nunca que destruam todo o caminho que percorri até chegar aqui.

E para falar a verdade, contar minha história ficará para outro dia. Ou melhor, contar como a minha vida começou a mudar no sentido romântico, para ser bem sincera. Não só para dar o devido tempo para que as pessoas se acostumem com uma narradora e personagem principal negra ― não lá muito explorado nas literaturas brasileiras, mesmo nós tendo praticamente metade da população se considerando negra ou parda ― mas também para que dê tempo de eu comemorar a minha vitória rumo ao mundial, quando a minha vida romântica ainda estava controlada e sobre os devidos eixos.

A partir daqui, é só ladeira abaixo.

Ela não está errada meninas, daqui em diante é só ladeira abaixo kkk

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Ela não está errada meninas, daqui em diante é só ladeira abaixo kkk

Mas sim, essa será uma história muito importante para mim, meninas, porque o que a Malena disse é verdade. Quase não temos personagens femininas com papel principal que sejam pardas/negras. Quase sempre o personagem gostoso fica só com mulheres brancas (e muita das vezes de olhos claros também.). Não estou desmerecendo, mas somos um país onde a maioria é realmente parda/negra e a maioria não tem olhos e cabelos claros. 

Pode parecer que estou militando, mas sei lá... Eu acho que é a partir das histórias que podemos mudar as visões das pessoas, sabe? Quando no príncipe do oriente eu usei uma personagem parda para representar a Karen quando estava de hijab (só por uma questão de que havia mais facilidade para mim para montar o trailer com esses gifs que eram mais fáceis de encontrar), muita gente veio falar que a menina era feia, que não gostava da foto pela cor da personagem.

E eu juro que comecei a pensar porque temos que nos prender a essa ótica de que os personagens tem que ser de determinada forma estereotipada.

Quem me acompanha sabe que sempre defendi e continuarei defendendo a diversidade de todos os tipos de formas. Seja religiosa, seja étnica, seja de cor, orientação sexual, o que for. E acho que como escritora o meu papel é fomentar o respeito a todas as diversidades. 

Uma das minhas histórias, Entre Dois Mundos, o personagem masculino principal, o Al, é negro. E adivinha só? É uma das histórias que eu tenho mais como xodó, mas, pasmem, por não ser o personagem masculino de estereótipos esperados, é uma  das minhas  histórias com menos visualizações. 

Felizmente, muitos já se acostumaram com minhas histórias com temáticas muçulmanas, e eu agradeço de coração por todo o amparo que vcs me dão, acompanhando meus trabalhos <3

Vamos continuar incentivando maior representatividade ao modo Brasil de ser. Quem me acompanha também deve ter visto que já fiz personagem de quase todo tipo de cor de cabelo e excetuando um mocinho ou outro, pelo menos no que tange às personagens principais femininas, quase todas elas tem olhos escuros e cabelos padrão brasil (afinal, não é comum cabelo natural ruivo e loiro aqui, a não ser no Sul né gente hahaha)

Por isso, depois dessa mega longa explicação que acho necessária, pq sempre surge (e acreditem, vai surgir) alguém reclamando que não gostou da personagem feminina principal ser negra. Mas como o Al teve a sua vez, acho que nada mais justo de Malena ter sua vez e nos apaixonarmos por ela também, concordam?? <3

E para quem achou que Pam era esquentadinha... Aguardem Malena kkkkkkkkkk

Ela com certeza é uma mulher tão forte (e um pouco maluca) como a Pam hsuahsuas

Nos vemos mais tarde com o primeiro capítulo e então nos vemos semana que vem galera! =)

Bjinhoos

Diulia.

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