~ Capítulo 26 ~

98 32 3
                                    

Capítulo 26

Algumas coisas podem parecer andando de maneira muito suave e fácil de modo que cause até certo estranhamento e medo. Era exatamente como eu me sentia com todos os planos aparentando dar certo.

Ham e Rashid estavam contando com a ajuda de muita gente para realmente me ajudar e estavam realmente conseguindo esse feito. Meu coração aos poucos se enchia de esperança de que Hisur poderia pagar por todos os crimes que ele cometia e eu e minha família poderíamos ficar finalmente livres de todo o pesadelo que ele insistia em criar nas nossas vidas.

Era verdade que eu estava agoniada e se fosse por mim já teria procurado Hisur sozinha e batido nele, mas sabia que precisava ficar focada no plano que havia sido criado. Eu não era tão idiota de colocar tudo a perder quando tantas pessoas estavam se unindo para que tudo desse certo. Era questão de realmente esperar. Ainda que fosse uma coisa difícil de fazer.

Ainda que doesse muito no meu coração pensar em Gerson nas mãos de Hisur.

― Só a coca? ― A caixa do mercadinho próximo da casa da mãe de Pam perguntou. Suspirei enquanto assentia e abria a carteira para pagar a coca.

― Você é aquela Malena que todo mundo está falando na internet, casada com o moço do porshe? ― Acabei rindo e achando graça da forma como a moça se referia a mim como se eu fosse uma famosa.

― Malena em pessoa. ― Ela sorriu achando graça também.

― Você me desculpe, Malena, mas tenho que te falar! Que homem gato aquele seu! ― Encabulada por tamanha expressividade da moça do caixa do mercado, ri de nervoso.

― Você acredita que antes eu nem achava árabes tão bonitos assim? ― Ela arregalou os olhos sem acreditar em mim.

― Menina do céu, mas aquela barba é um pecado de tão charmosa!

― Agora eu concordo! ― Falei pegando a minha coca e achando graça.

Sai do mercadinho e comecei a minha caminhada bem despreocupada. O mercadinho não era muito longe da casa dos pais da Pam e era coisa de 7 minutos de caminhada e eu chegava. Por isso, caminhei despreocupada enquanto olhava as pessoas na rua, tão alheias a minha vida quanto eu estava alheia a vida delas.

Contudo, quando virei numa rua que era mais vazia para chegar a casa de Pam, me assustei com o barulho de pinel de moto cantando na rua e me coloquei em posição de luta, ainda que eu soubesse que se fosse um assalto, não havia nada que eu pudesse fazer.

Mas se fosse uma tentativa de estupro, ainda mais aquela hora do dia, eu lutaria com todas as minhas forças.

Duas motos com dois homens em cada e um carro logo pararam perto de mim. Talvez porque a adrenalina estivesse correndo pelas minhas veias, não me passou pela cabeça, em momento algum, que aquela gente toda estivesse vindo a mando de Hisur. Talvez por que fosse, infelizmente, tão comum um assalto ou qualquer coisa do tipo no Brasil, eu demorei para me dar conta de que o perigo ali era muito mais do que o de um simples assalto.

― Não tenho nada. Podem me revistar. Não trouxe nem o celular! Só tenho o troco da coca! ― Disse estendendo as mãos para o alto. Não sabia se eles tinham uma arma, não ia ser louca de brigar.

A não ser que eles viessem a querer puxar a minha roupa.

― Peguem ela! ― Gritou algum deles e os quatro da motinho vieram na minha direção. Eu ia revirar os olhos, mas a mesma pessoa que gritava continuou: ― Hisur quer ela viva! ― E aquele sim tinha sido a palavra mágica que me fez despertar quase que instantaneamente para o perigo a espreita.

Aquilo tinha sido a mando de Hisur. Eu precisava me defender a qualquer custo e correr. Tinha que, pelo menos, voltar para o mercadinho onde tinha muita gente e seria mais difícil de eles me pegarem a força.

Um deles veio tentar me chutar na barriga para ver se me jogava no chão e eu peguei a sua perna com as minhas duas mãos. Rodei a sua perna e senti que havia causado uma torção dolorosa na perna do sujeito enquanto o jogava no chão. Fui para cima para pisar na perna dele e terminar o estrago, mas os outros também se aproximavam com golpes e tive que apenas deixar esse caído.

Outro deles veio tentar me socar na cara, mas peguei a sua mão em punho e aproveitei para jogá-lo no chão com um golpe que eu muito praticara no judô. Enquanto esse continuava no chão, chutei a barriga de outro que vinha com um pedaço de madeira bem perigosa na mão. Esse com certeza era quem eu deveria mais me preocupar.

O último deles era mais gordinho e veio para cima de mim como querendo agarrar a minha cintura para me derrubar no chão como um pino de boliche. Chutei a sua canela na tentativa de realmente deslocar a tíbia ou a fíbula e decidi que não valia a pena, por mais que eu lutasse bem, continuar lutando contra quatro homens.

Eram muitos homens para eu lidar. Eu precisava correr para o mercadinho.

Mas antes que eu pudesse correr para o mercadinho, mas dois homens saíram do carro e de canto dos olhos eu bem que conseguia ver que o homem perigoso com um pedaço de madeira na mão estava se levantando para voltar a lutar.

― Socorro! Alguém ajuda aqui! ― Gritei na tentativa de vir qualquer ajuda. Vendo que eu gritava por socorro, os homens começaram a correr na minha direção para me imobilizar o mais rápido possível.

Entortei o braço de um e fiz um digno Yuppon com outro enquanto me esquivava do homem com a madeira muito perigoso. Meu Deus, eu não podia ser pega de jeito nenhum! Caramba, a gente tinha feito um plano, eu estava esperando para pôr o plano em dia! Custava que o universo contribuísse? Será que muitas coisas dando certo era algo inadmissível para mim e Rashid?

― Ajuda aqui! ― Gritei de novo e dessa vez fui surpreendida pelo homem que eu tinha entortado a perna agarrando os braços dele no meu calcanhar.

Comecei a chutá-lo para que ele me largasse. Isso atrapalhava os meus movimentos, mas ele me segurava como se fosse um cachorro que havia acabado de encontrar o seu osso predileto. Um outro homem veio agarrar o meu braço, mas eu soquei o seu nariz, o que o fez tontamente se abaixar para enxugar o sangue.

Minhas mãos ardiam e eu não sabia mais o que fazer se nenhuma alma bondosa aparecesse ali para me ajudar. Contudo, em muitos lugares no Brasil, as pessoas viam alguém sendo roubado ou algo do tipo e ficavam com tanto medo que eram poucas as pessoas que ousavam realmente ajudar. Infelizmente.

Senti minha visão embaçar quando o homem perigoso com a madeira a bateu na minha cabeça. Minha visão distorceu um pouco, embora eu não fosse desmaiar nem nada do tipo, só latejava minha cabeça mesmo.

Contudo, isso foi tempo suficiente para que outro deles agarrasse o meu braço. Tentei, ainda assim me livrar do homem que tentava imobilizar minhas mãos para as costas, mas comecei a sentir o meu corpo ficando muito leve. Mais leve do que eu achei que fosse capaz de ficar, como se eu pudesse voar...

― Muito bom Caio. Ótima ideia a sua trazer um tranquilizante. Essa aí a gente só derruba como animal de zoológico mesmo. Na droga. ― Consegui ouvir um deles falando se referindo a mim.

Senti minhas pernas ficando levemente moles e alguém as levantou. Outro segurou as minhas costas e eu me vi flutuando para algum lugar que não fazia ideia. Minha cabeça ardia e eu já não conseguia ficar com os meus olhos abertos.

― Filho da p... ― Foi a coisa mais lógica que consegui dizer para eles enquanto sentia o mundo se desfazer como o sol se pondo no horizonte.

Senti uma lágrima boba escapar dos meus olhos fechados enquanto me sentia impotente. Caramba, a gente tinha planejado tudo e tinha que ser eu mesma a idiota que estragaria tudo sendo sequestrada?

Como eles tinham nos encontrado, afinal?

Minha cabeça ficava cada vez mais leve e o sono cada vez mais bem-vindo, ainda que eu lutasse para ficar acordada, para ao menos saber o nome daqueles cara ou qualquer coisa do tipo. Mas foi impossível lutar contra aquele sedativo dos infernos...

E quando eu vi, estava já apagada, sem saber exatamente quando acordaria novamente. E como seria a minha condição quando isso acontecesse.

Golpe CertoOnde histórias criam vida. Descubra agora