~ Capítulo 28 ~

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Capítulo 28

Há coisas que só conseguimos acreditar que realmente aconteceram conosco somente quando a ficha cai alguns dias depois. 

Meu coração ainda parecia sair do peito todas as vezes que eu me lembrava de como Rashid havia enfrentado toda a situação que tínhamos estado e se colocado na frente de mim. Ainda que estivesse de colete a prova de balas, ele demonstrou uma devoção que eu nunca achei que algum homem poderia ter por mim.

Era por isso que eu havia aceitado sair do Brasil com ele. Era por isso que eu estava levando a minha família com ele para que vivêssemos em outro país. Ainda que fosse um país cheio de problemas, não muito diferente do Brasil, com toda aquelas paradas erradas de julgar mulher inferior.

Contudo, era sempre possível fazer alguma coisa a respeito disso e eu estaria disposta até mesmo a competir pela Arábia Saudita para ser exemplo para outras mulheres de como poderíamos ser muito bem o que queríamos e que mesmo casadas, elas ainda poderiam sonhar por outras coisas em vez de somente precisarem ficar presas a um casamento e a bebês.

Eu ainda não havia conversado sobre bebês com Rashid, mas ele não parecia ter problemas em adiarmos esses planos. Eu estava no auge da minha carreira e a carreira de um atleta, infelizmente, durava pouco. Em 10, 12 anos no máximo eu me aposentaria, ou seja, no máximo em três olimpíadas eu já não teria mais o vigor para competir. 

Por isso, precisava aproveitar o máximo que podia as chances que eu ainda tinha. Eu ainda era jovem e Rashid também. Poderíamos planejar isso para outro momento. Esse também seria o meu exemplo para outras mulheres. Elas não precisavam já ter filhos assim que se casavam com seu prometido. Isso poderia esperar.

Alá sabia o melhor momento para tudo, como Rashid insistia em falar. Ele sabia que aquele era o meu melhor momento para seguir o meu primeiro sonho: ganhar uma medalha de ouro para o Brasil e depois para a Arábia Saudita. 

Como eu já estava escalada para competir pelo Brasil e como minha papelada de cidadania ainda não havia saído, minha primeira competição seria pelo meu país de coração. Haveriam outras olimpíadas e eu poderia, nessas, ser exemplo para outras mulheres de como poderíamos ser o que bem quiséssemos. 

― O que pensas? ― Perguntou Rashid no pé do meu ouvido. Ao nosso lado, minha mãe dormia tranquilamente e mais a nossa frente meu irmão conversava animadamente com Ham e Pam sobre as oportunidades no ramo civil que Dubai oferecia. Khaled, o irmão de Rashid, com certeza faria esse favor para nós e o colocaria como um dos pedreiros utilizados para a mais nova construção que estava sendo feita para um hotel de renome em Dubai. Pelo menos foi assim que Rashid me prometera.

― Que precisamos arrumar um lugar para mamãe e meu irmão morarem. ― Rashid sorriu de lado.

― Acho que tem uma casa próximo da casa dos meus pais que está alugando. Eles poderiam ficar por lá. Acho que sua mãe vai se sentir mais a vontade com pessoas da idade dela. Há uma comunidade cristã ali perto também para que ela continue na fé dela. ― Assenti gostando da ideia.

― Acho uma boa ideia, marido. ― Disse e ele sorriu me dando a língua antes de voltar a olhar para a janela. 

Tudo tinha se resolvido da melhor maneira possível. 

Hisur havia sido preso e decretado pena de morte pelo que tinha feito muitas mulheres que antes eram de família a viverem numa condição análoga a escravidão sexual. Achei que por a justiça desse país ser constituída só de homens eles iam passar a mão e serem mais de boas com as atitudes desse monstro, mas até que gostei do decreto deles.

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