Irresistível Tentação

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Dener

Escuto as plantas se moverem. Me levanto um pouco do chão onde estava sentado e vejo Briella reclamando baixinho.

- Está me observando as escondidas, garota?

Ela me fumina e faz menção de entrar na casa.

- Ei, espera. Digo me levantando rápido. Ela continua abrindo a porta de vidro. Brie, não vai agora. Quero saber como você está.

Ela se vira com olhar confuso, testa franzida e sombrancelha erguida. Porra, pirralha. Por que você tem que ser tão linda? Com raiva fica ainda mais linda. Merda. Respiro fundo.

- Vejo que tivemos um progresso aqui, depois de meses me chamando de pirralha, depois garota e agora Brie... Nossa Dener. Você sofre de bipolaridade ou só decidiu me enlouquecer?

Quase solto uma gargalhada. Mas seguro os lábios com os dentes para não sorrir e demonstrar o quanto estou achando lindo essa pirralhinha bravinha. Será que sou mesmo bipolar? Ergo as sombrancelhas pensativo. Não... não...

- Me impediu de entrar em casa, só para ficar ai parado me olhando, GAROTO?

Até que não seria nada mal, ficar só olhando para ela. Mas não... porra. Foca no que você quer dizer.

- Você está bem afiada, hoje. Não acha?

Ela bufa...

- Me poupa, Dener.

Ela vira e da um passo para dentro de casa.
Com minha mão livre, por que a outra segura o violão, eu a puxo para fora.

- Ficou doido?

- Não. Só quero falar com você. Mas está difícil, você está na defensiva.

- Ah, porque estou na defensiva mesmo? Deixa eu pensar... Lembrei. Melhor esquecer, pirralha, garota, distanciamento, grosserias e a muito tempo não conversamos. Ahhhh, e você poderia ligar para sua linda, que prometeu de conversar depois. Eu não tenho nada para falar com você!

Ela puxa o braço.
Espera aí. Briella está com ciúmes? Linda, conversa... Entendo agora. A ligação de Mia. Ela chegou com Mindy e saiu rápido da sala quando eu finalizava a ligação. Sorriu de canto e balanço a cabeça.
Briella me olha perplexa.

- Você está com ciúmes de mim? Falo sorrindo.

- Ahhhh... me poupe Dener. Ciúmes de você?
Ela balança a cabeça em negação  e tenta se afastar, a impeço.

- Para, Briella. É sério, vamos conversar. Não é nada demais. E para você saber, eu estava falando com uma amiga ou melhor, amiga irmã, não  estou namorando. Só quero entender como está lidando com a reconciliação dos seus pais. Você acreditando ou não, eu me preocupo com você. Ela me encara sem acreditar.
É sério Briella. Como primo eu me importo com você.

Briella parece relutar com seus pensamentos, mas cede ao meu toque. Saímos para a área mais distante da casa e sentamos no sofá. Mantenho a distância por que a proximidade entre nós é dolorosa para mim.

Alguns instantes sentados buscando as palavras, Briella quebra o silêncio.

- Eu não sabia que você cantava.

Fico um pouco envergonhado por que nunca cantei para alguém ouvir. Sempre canto baixinho só para destrair a mente quando estou muito estressado.

- Não canto. Só me distraio quando estou muito entediado.

- Você deveria. Sua voz é muito linda.
Ela diz e percebo um arrependimento imediato. Ela falou sem pensar, com certeza.

- Obrigado. Digo apenas.

Ficamos em silêncio mas alguns instantes olhando a paisagem.

- O que quer saber, Dener?

Respiro o ar agradável daquele lugar.

- Fiquei preocupado, quando ouvi sem querer sua mãe conversando com seu pai. Uma vez me disse que não suportava mentiras e pensei que reagiria mal a notícia. Por isso não sai de lá.

Briella levanta o olhar e seus olhos estão tristes.

- Obrigada por observar o que eu digo. E por ter se preocupado comigo e não ter me deixado sozinha. Mas, eu aceitei muito bem. Sempre pensava no porquê deles terem se separado, se o amor era tão nítido. Até para falar um do outro os olhos brilhavam e o tom de voz mudava. Eu não entendia. Agora os vendo juntos, eu entendo. O amor é algo complicado, simplesmente complexo e muitas vezes é necessário superar muitas coisas para poder finalmente se estar com quem realmente ama.

As palavras de Briella perfuram o meu coração. Sinto um nó se formando em minha garganta.
Ela me olha percebendo minha confusão mental.

- Podemos tentar ser amigos, Dener ou ao menos agir como primos. Acho que será melhor em nossa convivência. O que me diz.

Olho para aquela garota linda na minha frente e não consigo mais enxergar a pirralha. Ela está...
Fico confuso. Mas preciso responder. 

- Vai ser melhor. Respondo apenas.

Nossos olhos se encontram e eu só queria abraça-la e beija-la.

Me aproximo de Briella e ela não se move. Nossas respirações estão descompassadas... toco em seu cabelo.

-Brie......

- Achei você, mocinha...

Saiu rápido de perto de Briella.
Tia Ava se aproxima, nos olha mas não demonstra nenhuma desconfiança.

- Estava te procurando... e, que bom ve-los conversando. Quando pequenos vocês não se davam muito bem, eim? Ela faz cara de brincalhona. Não consigo sorrir e vejo que Briella também não.
A convivência os aproximou?
Tia continua se dirigindo a nós.

- Sim mãe... agora vamos. Dener estava ocupado com seu violão, vamos deixa-lo em paz. Briella é rápida, se levanta e puxa a mãe que sorri para mim.
Retribuo o sorriso. Porém com o coração acelerado e dolorido.

😪😪😪
Será que ia rolar beijo?