Cruel

Capítulo 1 Boneca

Humanos, os animais mais perigosos que a mãe terra concebeu, e não só isso, eles também estão no topo dos mais inteligentes, dos homicidas e doentios. Claro que isso não dava o direito de Taliw julgá-los, por mais que ela não fosse um deles, ela sabia que sua espécie não era muito diferente. 

Mas Taliw os odiava, não à todos os humanos, ou melhor, não somente os humanos, mas sim, todos aqueles que se viam corrompidos pela ganância, maldade e luxúria. Ela viu a linda cidade em que ela morava se tornar lar de grande violência, miséria, e mafiosos. E todos os dias Taliw acordava e ficava em dúvida se agradecia por ter acordado ou se ficava aborrecida por ter que passar mais um dia nesta cidade. 

Mas ela tinha se cansado de acreditar que um dia haveria mudanças, ela simplesmente parou, mas de qualquer forma ela deveria sobreviver; ganhar dinheiro, pagar o pequeno apartamento e claro pagar a "taxa de proteção" cobrada por gangues, era só uma forma mais formal de se dizer: retirar dinheiro de pessoas boas e trabalhadoras a pretexto de uma desculpa de merda.

Taliw estava se arrumando no banheiro das damas para seu próximo show, ela cantava em clubes, ela não era uma cantora famosa ou algo do tipo, cantava em apenas pequenos bares, mas era o bastante para ela ganhar um dinheiro extra e guardar uma quantia para sair daquele local e ir para bem longe.

"Ir para o campo, onde eu possa montar um jardim..." pensou Taliw enquanto terminava de colocar o vestido de uma cor salmão, a mulher que havia criado Taliw sempre dizia que adoraria ter um jardim. Taliw sorriu lembrando-se dela, Margarete havia encontrado Taliw ainda criança quando a mesma tinha apenas quatro anos de idade e vivia vagando pelas ruas, Margarete não era casada, não tinha uma renda fixa e muitas vezes era alvo de racismo por ser negra, mas ela tinha algo que poucas mulheres em sua condição tinham, fibra e determinação sem igual. E mesmo ela vendo que Taliw era visivelmente não humana, decidiu que iria criar a menina, mesmo que isso dificultasse sua vida.

Taliw era uma ninfe um dos seres mais odiados pela humanidade principalmente depois da grande guerra que ficou conhecida como "A guerra de fogo e sangue", no qual as ninfes foram derrotadas as tirando do comando. Bem uma história longa o suficiente para ter um livro próprio, algo que havia acontecido antes mesmo de Taliw nascer, mas que ainda sim influenciava em sua vida.

Taliw colocou o longo colar de pérolas baratas e passou o batom vermelho, a maquiagem era sempre muito carregada e ela odiava isso, mas o gerente insistia que deveria ser assim não importava o que ela gostasse, quem tinha que gostar era os homens e mulheres que estavam no local, o que era uma completa bobagem, era realmente difícil acreditar que eles iam para lá vê-la cantar...

Ela arrumou o véu escuro que cobria seus olhos de uma cor vermelho sangue, a única coisa que revelava sua espécie e mesmo sendo a única era extremamente visível, ela pegou a escova e caminhou para trás das cortinas do palco onde encontrou-se com Patt, o pianista, ela não o conhecia á muito tempo, mas sua qualidade mais notável era seu talento com as teclas de marfim do piano e o seu maior defeito era conseguir ser tão desprovido de simpatia e empatia.

Taliw se olhou em um espelho pequeno que estava pregado na parede. Ela havia cortado seu cabelo quatro dedos acima dos ombros, ela havia gostado do resultado, era extremamente fácil de estilizá-lo, faça duas tranças e puxe-as para trás e coloque uma flor prendendo as mesmas, e pronto ele estava com um penteado lindo! 

Se bem que cada esforço para se arrumar parecia ser inútil, ela já nem sabia quantas vezes seus shows foram interrompidos na metade de seu tempo com brigas violentas dentro da plateia, por tiros dentro do estabelecimento e móveis que eram arremessados no ar. O clube Notte Calda, no qual ela trabalhava uma vez por semana ficava bem no meio de um território pertencente a uma gangue violenta, no qual as pessoas tinham tanto medo que não saiam ao anoitecer, e por isso o clube era frequentemente frequentado por criminosos e suas belas acompanhantes.