Capítulo 15 Até a exaustão...

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— Ele já acordou? — Kax perguntou a idosa, que agora estava trocando as bandagens dos ferimentos do homem.

— Ele nem se quer se mexeu. —  Ela falou rabugenta. — Não sei o que fizeram a ele, mas deve ter sido uma pancada e tanto.

Kax estava prestes a dizer a nonna para dar um tempo e descansar quando viu algo...

As pálpebras do humano tremulam por apenas um segundo e suas mãos brevemente enrolaram os cobertores. Foi um gesto tão impressionantemente rápido que Kax sabia que ele mesmo não o teria visto se não estivesse prestando atenção no humano. Pode ter sido simplesmente um reflexo da parte humana, mas o fato da nonna ter acabado de dizer que o bastardo não havia se movido um centímetro o fez pensar em algo.

Batendo o dedo no queixo, um sorriso tosco surgiu em seu rosto quando uma ideia se formou em sua mente. Limpando a garganta e certificando-se de que estava falando em voz alta e clara, Kax se dirigiu a nonna.

— Bem, acho que ele não vai acordar. Não pode haver peso inútil por perto. Vou cortar sua garganta e jogá-lo no incinerador. — Ele fala um tanto teatralmente.

Nonna lançou ao Kax um olhar intrigado, mas felizmente não disse nada, já que o mesmo permaneceu imóvel no lugar onde estava, ele bateu o pé ruidosamente no chão três vezes para dar a impressão de que estava caminhando em direção ao humano.

O humano sentou-se tão rápido e tão de repente que assustou a nonna. Se a idosa não estivesse cansada demais ela tinha dado um tapa na nuca dele e dado-lhe uma bela de uma bronca por assustar uma senhora de idade.

— Meu Deus! Eu estou acordado! ESTOU TÃO DESPERTO QUE PROVAVELMENTE NUNCA DORMIREI NOVAMENTE! 

"Seu maldito inteligente" Kax pensou enquanto seu sorriso ficava mais nítido.

O mitre acenou com a cabeça para a idosa, que ainda não havia se recuperado do susto, mas recuperou a compostura instantaneamente com o chamado de Kax saindo do quarto, Kax  marchou até o humano aterrorizado e ainda gravemente ferido e o puxou para fora da cama, segurando-o.

O humano soltou um grito de dor, os movimentos repentinos fizeram suas feridas sangrarem através de suas bandagens limpas enquanto Kax o puxava para uma mesa fazendo o se sentar um de frente ao outro. 

— Agora humano vou fazer uma série de perguntas e espero a verdade. No momento em que achar que você está mentindo, eu mato você. Compreendeu? —  Kax fez questão de parecer intimidador mesmo sabendo que o homem já estava apavorado e agora com muita dor, o humano apenas acenou com a cabeça. — Há quanto tempo você está acordado?

— Algumas horas. — O humano respondeu rapidamente.

"Ficou parado por horas? Impressionante." O mitre pensou antes de seguir em frente.

— Eu estou supondo que já que você estava fingindo estar inconsciente, você estava acordado durante o tempo em que eu e meu irmão assassinaram os homens de Don Bill? 

O humano hesitou por um breve segundo antes de assentir novamente. 

— Eu perdi a consciência logo depois que fui atingido na cabeça, mas acordei e acabei vendo vocês... matando... — Ele parou e deu um sorriso nervoso para o mitre a sua frente — Mas então eu perdi a consciência novamente e então eu acordei de novo... — Ele começou a dizer, mas instantaneamente calou a boca quando percebeu que estava divagando.

Kax só pensou o quanto Gal iria ficar bravo com as novidades. Na verdade, o conhecimento que tinha o humano do que aconteceu mudou as coisas, Kax não poderia usar seu plano original de conquistar a lealdade deste humano, dizendo-lhe que seu irmão salvara sua vida durante a emboscada. Mas de qualquer forma Kax não queria matá-lo a menos que tivesse certeza de que o humano era um empecilho para seus planos.

— Tudo bem, você sabe que não somos amigos do velho Bill... então me diga, por que devemos mantê-lo vivo? — O humano ao ouvir a pergunta de Kax encolheu os ombros desamparadamente e começou a se remexeu desconfortavelmente na cadeira de madeira. 

— Para falar a verdade, não estou exatamente com a cabeça certa para responder às suas perguntas. — O homem falou sem se dar o tempo de pensar muito no que dizer. Kax realmente piscou com uma declaração tão direta. — Não sou leal a Don Bill, se é disso que você está falando. Eu só... — O humano mordeu o lábio e Kax viu um novo e estranho olhar de dor passar pelo rosto do humano um olhar diferente e que não parecia ter nada a ver com seus ferimentos. —  Estou apenas tentando conseguir algo muito, muito ruim... E eu tentei resistir, mas... Eu sou... Sou um viciado em heroína. Se você me der isso, serei leal a você. 

"Um drogado?!"  Kax olhou para o homem novamente com um olhar mais analítico. Ele tinha sinais de ser um usuário daquela droga humana, pelo que o mitre leu naqueles livros de medicina... Magro, trêmulo, talvez ele também fosse um pouco mais jovem do que Kax pensava, mas ele não tinha tanta certeza disso. Os olhos do humano eram velhos como de pessoas que viram muito mais do que queriam nessa vida, e seus dentes...  por incrivel que pareça o humano tinha lindos dentes brancos.

Kax esfregou o queixo pensativamente. Este humano era... interessante. Um humano entregue a qualquer um que alimenta seu vício em heroína, alguém que a muito tempo não parecia conhecer o significado de lealdade ou dignidade. Como isso funciona?

"Ele com certeza vai servir..." Kax pensou e se perguntou onde ele havia deixado aquela coleira que usou em Gal tantos anos atrás.  








Gal grunhiu, completamente exausto e apoiou-se pesadamente na parede do beco. Seu rosto estava praticamente derramando suor por litro e ele estava tendo dificuldade para recuperar o fôlego. Sua camisa estava encharcada com seu suor e sangue velho dos humanos, e no momento ele estava muito cansado e exausto para se importar se alguém o veria com os doze corpos humanos que foram mortos na última operação. Mas pelo menos eles foram os últimos a serem retirados do local.

Ele o fez todo o serviço e lhe havia sobrado algumas horas. Gal reuniu os corpos com o uso de sua magia, e usado o que lhe restava ele se teletransportou junto aos corpos para sua garagem em Solenne. O incinerador estava funcionando a todo vapor neste momento, mas Kax ainda não tinha jogado nenhum dos corpos dentro.

Se uma pessoa normal e bem ajustada entrasse na garagem, essa cena deixaria seu cabelo e pêlos do corpo brancos. Vinte e seis corpos mutilados estavam empilhados uns em cima dos outros e, por causa do calor do incinerador, estava começando a cheirar a carne cozida.

Nauseado com o cheiro, Gal rapidamente se teletransportou de volta para a casa estabelecida a pouco tempo na cidade humana, ele ao sentir o chão sob seus pés quase desabou no chão de exaustão. Ele olhou para o relógio em sua parede, marcava cinco e meia da tarde. Ele sorriu sentindo-se orgulhoso de si mesmo. Tudo o que ele precisava fazer era tomar um banho, tirar um cochilo e ele estaria pronto para visitar sua pequena senhora. 

Levantando-se, ele entrou em seu chuveiro e se lavou certificando-se de tirar cada gota de sangue dele. E então ele se deitou na cama e adormeceu...

Ele dormiu e dormiu e dormiu até que os raios de sol da manhã do dia seguinte atingissem seu rosto.


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